O petróleo branco das serras
O site Ambiente Online publicou uma notícia em que se dá conta que Cinfães vai acolher dois parques eólicos. Eu gostava que fosse uma notícia exclusivamente boa, mas tenho sérias dúvidas.
A Serra de Montemuro, zona integrada na Rede Natura 2000, está a ficar carregada desse tipo de equipamentos, que apesar de produzirem energia limpa, têm um impacto muito para além do visual. Se fosse em termos puramente estéticos, até sou bastante tolerante e prefiro uma ventoínha a uma casa estilo “maison” com “fenêtres” nas janelas. Mas de longe.
Em Cinfães, a Associação para a Defesa do Vale do Bestança, tem como seu principal objectivo impedir a instalação de mini-hídricas, o que eventualmente já dá trabalho demasiado e é uma tarefa altamente meritória. No entanto, temo que tenham aberto o flanco em demasia às eólicas, pois há pequenas obras promovidas pela ADVB e também livros editados, apoiadas por uma dessas empresas. No entanto, diria que a ADVB tem que re-equacionar a sua posição e passar a estar atenta também a estes novos mineiros que se querem instalar, sob pena de se permitir tudo, o total desordenamento, com grandes lucros de curto e médio prazo para os promotores e seus protegidos, e altíssimos custos para as gerações futuras. Além da ADVB, não vislumbro em Cinfães mais ninguém com capacidade para tamanha tarefa.
Como em tudo é necessário equilíbrio (e já agora transparência e regras claras). Sou e serei sempre, a favor das energias alternativas e limpas. Sou e serei sempre, contra todo o tipo de rebaldaria e particularmente contra a que se instalou neste país após o 25 de Abril e que atinge níveis, nunca antes sequer imaginados, pelo mais pessimista dos portugueses.
Quem está a investir nas eólicas são os suspeitos do costume. Bandidos que abatem sobreiros num lado, para rapidamente serem promovidos a heróis ambientais, campeões da energia limpa, noutro lado. A degradação da paisagem já é evidente e a procissão ainda vai no adro. O Dr. Pacheco Pereira já reparou, o Pedro Almeida Vieira publicou um texto (o link não é permanente) na Grande Reportagem no mesmo sentido. O governo vê na energia eólica um paleativo para o estado moribundo da nossa economia. Para o “cluster industrial” é capaz de já ser tarde, passamos ao lado da oportunidade, o material é praticamente todo importado da Alemanha e da vizinha Espanha, esses sim, criaram um “cluster industrial” (mas há mais de dez anos), onde a investigação e desenvolvimento são partes integrantes da indústria.
Temos tantos exemplos de desordenamento, que seria escandaloso também nesta área, fazer da falta de regras a fórmula. As energias limpas, merecem ter a oportunidade de se desenvolverem e crescerem neste país, mas sustentavelmente, como o seu nome deveria implicar, nunca a qualquer custo.
Não foi assim há tanto tempo, que uma figurinha, debitava dislates atrás de um microfone, clamando pelo nosso petróleo verde. Os resultados estão aí para quem os quiser ver e também para quem não quiser. Convinha, pelo menos, ir cometendo erros diferentes. Eu pelo menos tento ter essa filosofia.
PS: Queria elaborar mais um pouco e escrevi cheio de pressa, porque parto para o campo :) . Regresso no Domingo, mas espero actualizar qualquer coisa, pois pretendo ir a Tendais ver as instalações que a junta disponibiliza e onde se pode aceder à internet.
Uma resposta para“O petróleo branco das serras”
Quando um país está dependente do petrolio para a energia que consome poder utilizar uma energia renovavel não poluente e que não meche com o ambiente á que aproveitar esse potencial pois estes parques eolicos só são prejudiciais para o ambiente na sua construção porque depois de estarem em funcionamento alem de produzirem energias amigas do ambiente produzem tambem a chamada energia renovavel que para a economia do país é o chamado ouro sobre azul .
Quanto ás mini hidricas alem de virem a mecher com o ecossistema quem habita perto de locais com barragens começa a pouco e pouco a notar uma modificação do meio ambiente com o surgimente de neblinas e nevoeiros mais fortes que o usual quem habita no campo começa a notar principalmente na flora com o surgimento de novas doenças nas plantas ,como o exemplo da ferrugem nos citrinos que antigamente não se observava quando actualmente todas as arvores começam a estar infestadas deste mal
Gostei de ler o que me parece o início de uma série que, presumo, nos poderá ajudar, pela tecla de quem sabe, a esclarecer uma série de dúvidas e de mitos. Diz que “Quem está a investir nas eólicas são os suspeitos do costume. Bandidos que abatem sobreiros num lado, para rapidamente serem promovidos a heróis ambientais, campeões da energia limpa, noutro lado”. Pode-se trocar isto por miúdos?
Sobre este assunto vou apenas repetir o que escrevi no Ondas2:
«Parece-me que o texto do Pedro Almeida Vieira tem, neste momento, todo o sentido. O caso de Cinfães e da Serra de Montemouro poderá até servir mesmo como o exemplo do “descontrolo” generalizado em que caiu a produção de energia eólica no país e naquela região em particular. Vou lembrar apenas alguns factos: Uma parte considerável da Serra de Montemouro é zona integrante da Rede Natura 2000; muitas zonas são Reserva Ecológica Nacional; aí existem alguns habitats de espécies ameaçadas como o lobo ibérico; a lontra; a geneta; o gato bravo; a toupeira de água; a salamandra lusitânica ou o lagarto de água… Quando inicialmente a câmara foi contactada no sentido da avaliação do impacto destas estruturas sobre o meio, foi-nos dito que apenas CINCO torres iriam ser visíveis no concelho de Cinfães e que portanto o impacto seria pequeno. Hoje é o que se vê!… Na aldeia da Gralheira, as pessoas propuseram, ao invés do aluguer dos seus terrenos, ficar com a energia de uma das torres. Resultado… a proposta não foi aceite. Se tivermos em conta que cada torre custa cerca de 300.000 contos e que a empresa paga cerca de 1.000 contos por ano a cada proprietário, podemos verificar que este é sem dúvida um negócio muito lucrativo. Por outro lado as próprias empresas fazem “operações de charme” com as próprias associações ambientais locais, inclusive através de financiamentos de obras e actividades dessas mesmas associações. Este é, na realidade, um assunto que deveria merecer uma maior atenção e debate. Por exemplo, continua por fazer o levantamento exaustivo da fauna e da flora da serra do Montemouro e particularmente do vale do Bestança. Em termos patrimoniais e arqueológicos passa-se o mesmo. A paisagem degrada-se diariamente e o Parque Natural da Serra de Montemouro de que falava, já nos anos cinquenta, o prof. Amorim Girão, é uma meta cada vez mais longínqua…»
Gostaria apenas, ainda, de frisar o seguinte: o concelho de Cinfães é um dos que mais contribui (desde a execução da barragem de Carrapatelo que tantos prejuízos aportou para as populações ribeirinhas, para a fauna, flora e ambiente em geral) para a produção de energia nacional e nem por isso os seus habitantes têm energia mais barata, vivem melhor (o rendimento per capita é cerca de metade dos da região de Lisboa) ou pagam menos impostos… De facto se compararmos a relação entre produção de energia e consumo facilmente depreenderíamos que as eólicas deveriam estar localizadas maioritáriamente nas regiões de Lisboa e Porto e não em Cinfães.
Caro Fernando, não é bem assim. É verdade que as barragens alteram o micro-sistema circundante, impedem a subida dos peixes e mais uma série de coisas. Mas não queria focar nesse assunto agora.
As eólicas, disturbam por completo o meio ambiente na sua instalação. Passa a haver um movimento que não existia, linhas de alta tensão e é dado acesso a locais anteriormente inacessíveis. Dar acesso a determinados locais é o mesmo que dizer condená-los para sempre em termos ecológicos. Ora, um dos principais problemas, é que é exactamente em locais sensíveis, que parece que a apetência é maior para instalar as torres. O facto não deve ser alheio a nessas zonas, a compra ou aluguer de terrenos, ser substancialmente mais barata — não sei se é isso de facto, mas não encontro outra explicação. Terrenos integrados numa zona a preservar, são para a maior parte dos proprietários, um estorvo. A instalação de eólicas é uma solução excepcional para essas parcelas, com um rendimento que não é de desprezar.
Caro Octávio Lima, eu não sei nada. E se sei alguma coisa, não me agrada. Concretamente estava a referir-me ao BES. Mas os nomes são sempre os mesmos (basta ir lendo as notícias e fazer umas pesquisas no Google)… Mota-Engil, Galp, EDP, Semapa, tudo o que é banco, consórcios acabados em “erg”, através de participadas, sub-participadas, sub-sub-participadas, numa teia que o português comum dificilmente conseguirá decifrar.
Na Holanda, sei que um vulgar grupo de cidadãos pode ser proprietário de uma ventoínha de 500Kw, ou de pequenos parques de 2 ou 3Mw, como se de uma cooperativa se tratasse… Cá, nem 5Kw de painéis solares o zé povo consegue licenciar.
Há qualquer coisa que não bate certo. E há a questão do ordenamento. Ao que parece, e dificilmente me enganarei, o que existe é falta dele.