Elas andam aí! Invasoras silenciosas…

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Mimosa, <em>Acacia dealbata</em> Link (Fabaceae)</p>
<p>Estão um pouco por toda a parte, a ponto de serem confundidas com espécies nativas<sup>1</sup>, mas na verdade são espécies exóticas<sup>2</sup> que depois de terem sido introduzidas se tornaram prejudiciais e causam actualmente problemas muito graves — são consideradas espécies invasoras<sup>3</sup> e é importante que as comecemos a conhecer e a tratar como tal. Podem ser plantas (como as mimosas, o chorão-das-praias ou o jacinto-de-água), animais (como o lagostim-vermelho ou a gambúzia) ou até microorganismos que provocam doenças (como a cólera, ou a doença de alguns ulmeiros). Muitas destas espécies foram introduzidas no passado, intencional ou acidentalmente, mas hoje continuam a introduzir-se novas espécies. Diz-se que são invasoras porque, uma vez introduzidas, têm a capacidade de se multiplicar sem a intervenção directa do Homem e fazem-no com tal sucesso que têm vindo a ameaçar as espécies nativas, eliminando-as completamente em algumas situações. Geralmente, são espécies que através de um conjunto de características que facilitam o seu rápido crescimento conseguem ser muito mais eficientes competitivamente do que as espécies nativas. Associado a essas características, e por serem espécies que estão deslocadas do seu local de origem, têm a vantagem de não terem os seus inimigos naturais que as manteriam em equilíbrio.<br />
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 /><br />
Acácia-de-folhas-longas, <em>Acacia longifolia</em> (Andrews) Willd. (Fabaceae)</p>
<p>As espécies invasoras são consideradas a segunda maior causa de perda de biodiversidade a nível do planeta (Londsdale 1999, Williamson 1999) e uma das principais causas das alterações globais (Mooney e Hobbs 2000), causando também impactos negativos a muitos outros níveis. Esses impactos podem ser económicos — quando a área que invadem é uma área com ocupação agrícola ou florestal — , de saúde pública — quando são espécies que provocam doenças ou alergias — ou a nível dos sistemas de fornecimento de água — quando são espécies que invadem margens de linhas de água e são altamente exigentes no seu consumo. Estes, e outros impactos negativos que se poderiam enumerar, provocam alterações que, além de serem de difícil e dispendiosa resolução, causam muitas vezes prejuízos irreversíveis.</p>
<p>E então…<br />
O aspecto e as sensações de um dado lugar, tal como a vida nele existente, estão a tornar-se muito semelhantes a qualquer outro lugar, e todos somos mais pobres por isso. A globalização está a conduzir-nos a uma era com comunidades animais e vegetais homogeneizadas, invadidas e uniformemente empobrecidas. O risco de não fazer nada é arriscarmo-nos a deixar para as gerações futuras apenas um mundo homogéneo! Sem poderem distinguir os tons de outono das diferentes espécies dos bosques, sem poderem conhecer a vegetação ribeirinha, os matos e os sistemas dunares!</p>
<p><sup>1</sup>Nativa = indígena = espontâneo = autóctone, espécie que é natural, própria da região ou país em que vive.<br />
<sup>2</sup>Exótica = introduzida = alóctone, espécie não nativa/indígena da região ou pais onde se encontra, tendo para aí sido levada, frequentemente de forma propositada, pelo Homem. Apesar de algumas destas espécies se tornarem invasoras, muitas delas não representam qualquer problema e são até bastante benéficas.<br />
<sup>3</sup>Invasora, espécie, frequentemente exótica, que se expande natural e rapidamente (sem a intervenção directa do Homem) em habitats naturais ou semi-naturais, produzindo alterações significativas ao nível da composição, estrutura ou processos dos ecossistemas, chegando inclusivamente a eliminar outras espécies e causar prejuízos<br />
ecológicos e/ou económicos.</p>
<p>Referências:<br />
Lonsdale, W.M. 1999. <em>Global patterns of plant invasions and the concept of invasibility</em>. Ecology. 80(5): 1522-1536.<br />
Mooney, H. e Hobbs, R. 2000. <em>Global change and invasive species: where do we go from here? In: Mooney, H. & Hobbs, R. Invasive Species in a Changing World. Island Press</em>. Washington, DC: Williamson, M. 1999. Invasions. Ecography. 22: 5-12.</p>
<p>Sugestão de leitura muito actual e acessível!<br />
Yvone Baskin. <em>A plague of rats and rubber-vines</em>. Island Press, 2002.</p>
<p>Texto de Elizabete e Hélia Marchante<br />
Biólogas (<a href=Projecto Invader
)

Uma resposta para“Elas andam aí! Invasoras silenciosas…”

  1. Gustavo Melo

    Ai andam andam… e de que maneira!

    Este domingo andei às voltas a arrancar rebentos de mimosa, e arranquei, seguramente – e não estou a brincar – mais de duzentas, num raio de apenas 20/30m…! Aquilo parece erva!

    Há uma arvore grande num terreno vizinho e penso que, sem intervenção, em 5 anos temos uma floresta de mimosas…

    É incrível, crescem novos rebentos de sememtes, das raízes e do toco de uma outra cortada hà mais de 5 anos! Tenho mimosas a aparecer no meio das sebes, de arbustos… por todos os lados!

    Vou ter de falar com o proprietário do tal terreno vizinho, e penso que não haverá outra solução que não o recurso a químicos.

    Agora que estão (ou estiveram) em flor, percebe-se que as margens da barragem da caniçada estão infestadas delas, tal como grandes manchas por todo o lado…

    Já não bastavam os eucaliptos…

  2. jardineira aprendiz

    Gostei muito de vos ler aqui, acho que é um bom meio de esta ideia chegar às pessoas!
    (Teresa)

  3. José Rui Fernandes

    O caso das várias acacias, parece ser a face muito visível de um problema para o qual não estou a ver grande solução.
    No caso do terreno vizinho, pode sempre socorrer-se do decreto lei que regulamenta o assunto.
    No caso dos troncos cortados que continuam a produzir rebentos, se calhar a única hipótese é usar o Garlon nas folhas verdes para o tentar secar. Gostava de ter outra solução, mas não tenho.

  4. RMatos

    Boas!
    de facto é verdade que ser invadido ou assistir a uma invasão total dos espaços é bastante desagradavel.
    No entanto e como o jrf sabe, sou um aficionado das mimosas e até à bem pouco tempo plantei algumas 15 black acacias em zonas mortas da minha quinta.
    como lhe disse na altura tive bastantes dificuldades em conseguir que elas se adaptassem ao terreno e de invasoras teem pouco ou nada. talvez seja pelo terreno, altitude ou microclima.
    no entanto existem as comuns mimosas que essas sim estão por todos os lados. parece que era pratica comum na primeira metade do seculo passado fazer plantação delas, pois era uma lenha facil e rápida (no tempo em que colher caruma e lascas de eucalipto dava multa).

    isto tudo para dizer que pena que sejam invasoras mas lá bonitas isso são.
    Abraço e boas jardinagens.
    RMatos

  5. Gestão de espécies invasoras at Quinta do Sargaçal

    […] Num texto anterior falámos de espécies invasoras, o que são e que impactos podem ter (ver…). Neste vamos abordar a sua gestão. Primeiro que tudo a prevenção A solução acertada é começar pela prevenção! Nem todas as espécies exóticas2 introduzidas se tornam invasoras3, mas todas devem ser tratadas como tal e só após provada a sua segurança deve ser autorizada a sua introdução. Existe já legislação em Portugal (decreto-lei 565/99) que regula a introdução na natureza de espécies não indígenas1. Este decreto lista as espécies exóticas já introduzidas e proíbe a introdução de outras, a menos que se realize um estudo de impacto e que se prove que a espécie é inofensiva. Este decreto proíbe também a detenção, a criação, o cultivo e a comercialização das espécies consideradas invasoras. Uma das grandes dificuldades associada a este problema é que cada um de nós pode contribuir para ele. A educação e informação do público tem um papel essencial na prevenção: muitos de nós nunca ouviu falar em espécies invasoras e não faz a mínima ideia do potencial problema que está a provocar quando introduz uma espécie exótica. Por exemplo, quando falamos de plantas, o conceito de que nem tudo o que é verde é bom, ou que uma planta pode provocar degradação ecológica, é ainda muito difícil de interiorizar para a maioria das pessoas. É preciso investir na divulgação! Todos precisamos saber quais são estas espécies! Com este intuito, a equipa do projecto Invader está a investir na elaboração de fichas sobre as principais espécies de plantas invasoras, e a primeira versão, destinada a um publico técnico, está já disponível na internet e brevemente em papel. […]

  6. Elizabete Marchante

    As mimosas são de facto difíceis de controlar, mas não há como ser persistente. Eu, pessoalmente, não gosto da ideia do recurso a pulverização com herbicidas… é verdade que trabalho em áreas de conservação onde isso representa um problema acrescido, mas mesmo noutras áreas há sempre o perigo de contaminação do solo e da água, além de ser um método muito pouco localizado; o que temos feito é fazer pincelagem exclusivamente da touça (imediatamente após o corte, que é geralmente eficaz no que respeita à touça – é muito importante pincelar bem a zona periférica da touça (casca viva) porque é a que tem o floema para absorver o químico) e posterior arranque de rebentos de raiz, mas os resultados não são muito bons, é preciso persistência e arrancar várias vezes. Outra hipótese, se tiver poucos indivíduos isolados é fazer descasque do tronco da árvore a partir de ± 1m até ao solo, sem deixar nenhum bocado de casca; pode demorar a ver-se o efeito, mas temos tido alguns resultados promissores, a árvore acaba por “morrer de pé” e dispensa o uso de químicos e não se observam rebentamentos. Para indivíduos pequenos a melhor opção é arrancá-los completamente.

  7. Luis B

    De facto a questão das mimosas é preocupante, mas elas são de facto espécies resistentes e contudo uma espécie que segundo um decreto lei, “probido o seu plantio” não podem ser plantadas em solo nacional, mas são.no porque apesar de ser uma espécie envasora é uma espécie de crescimento rápido utilizada em muitos jardins, até em jardins autárquicos, em ruas por este Portugal fora e cuja madeira até é agora utilizada em mobiliário de jardim por ser muito resistente ás intempéries.
    por outro lado a questão de exterminá-las é práticamente impossivel em terrenos onde tenha havido águma árvore adulta, mesmo que cortado à alguns anos, o terreno limpo e “enxarcado” em herbicidas, e senhores sabem porquê? Porque as suas sementes conseguem manter a capacidade para germinarem cerca de 100 (cem) anos e apenas o farão quando as condições no terreno sejam a isso propicias, é claro que podemos não as ver mas elas estarão lá daqui a cem anos, nós não duramos tanto tempo…

  8. nuno belchior

    E então…
    O aspecto e as sensações de um dado lugar, tal como a vida nele existente, estão a tornar-se muito semelhantes a qualquer outro lugar, e todos somos mais pobres por isso. A globalização está a conduzir-nos a uma era com comunidades animais e vegetais homogeneizadas, invadidas e uniformemente empobrecidas. O risco de não fazer nada é arriscarmo-nos a deixar para as gerações futuras apenas um mundo homogéneo! Sem poderem distinguir os tons de outono das diferentes espécies dos bosques, sem poderem conhecer a vegetação ribeirinha, os matos e os sistemas dunares!

    Invasora, espécie, frequentemente exótica, que se expande natural e rapidamente (sem a intervenção directa do Homem) em habitats naturais ou semi-naturais, produzindo alterações significativas ao nível da composição, estrutura ou processos dos ecossistemas, chegando inclusivamente a eliminar outras espécies e causar prejuízos
    ecológicos e/ou económicos.

    Fiz o copy past destes dois paragrafos pois penso ser importante reflectir sobre os meios que se devem utilizar para resolver problemas que nos vão surgindo ao longo do tempo. Vivo paredes meias com um enorme acacial, a exploraçâo agricula onde resido fica situada na Costa da Caparica.Entre a Arriba Fòssil e o mar são hortas e acacial.Pequena parcela agricula reconvertida a cerca de 3 anos ao Modo de Producçaõ Biològico, deparo me, com esta realidade.Ao qual não dou muita importancia.O acacial defende as minhas culturas dos ventos do mar, fornece-me biomassa não só para aquecimento da habitação mas igualmente para a producção de pão com a cinza enriqueço o solo pobre de areia, e corrijo a acidez que ronda os 8.Este enorme acacial é uma testemunha bem visivel de más decisões tomadas por todos os responsáveis. Por fracos conhecimentos ou pela simples lei da vida, que, aprendemos errando.A acacia não veio do espaço foi introduzida com um objectivo, de solucção tornou-se problema.Contudo um problema não taõ grave como a revolução verde com a sua solução quimica milagrosa que tornou a agua do furo de minha casa impropria para consumo,entre tantas outras coisas, com que me depaaro todos os dias sem sair de casa.
    De facto ela para mim não é problema é apenas uma parte da solução.O meu problema é não ter um triturador de residuos pois trituraria as minhas, as suas acacias, de forma a incorpurar no solo a materia orgânica resultante. Num pais em que os solos são pobres em matéria organica, encarar as acacias apenas como um problema é homogenizar o pensamento fundamentado no medo e no receio A resolucão passa pela utilização do acacial não exterminalo. Passa por conhecimentos mais aprofundados de como construir jardins|hortas e mantelos, por vezes á solucções simples.

  9. Gom

    Primeiro de tudo, parabens pelo site
    Na minha floreira da janela (7ºandar) na primavera de 2006 nasceu uma Acacia longifolia! Impresionante!
    E a Cortaderia selloana? Pela autoestrada ao Porto encontram-se por todo lado!

    Cumprimentos

  10. Manuel Ribeiro

    Caros amigos, todos aqueles que tiverem o azar de ter as acácias a chatear é um problema complicado de resolver, mas não impossivel, mas por favor não usem aquilo que não sabem.O Garlon é um Arbusticida de uso proibido, logo quem o usar está a ser pior que a lei das ditas Invasoras !!!
    A lei das ditas plantas invasoras, tinha nexo num país onde existisse uma politica florestal sustentavel,agora num país onde ardem milhares de Ha ano e não se planta nada, sinceramente eu estou ligado ao ramo e posso-vos dizer que se naõ fossem as acácias e os eucaliptos que resistem aos incendios , muito do nosso país não tinha floresta, por muito que sejam invasoras, fazem o papel que quem dirige este paìs não faz , pois se não se plantar nada e se tirarem as INFESTANTES, HAVERIA SITIOS DESERTOS !!!
    Quanto ás australias e mimosas, um glifosato como por exemplo o Roundup, é suficiente para as controlar desde que bem aplicado, o que se deve usar na rebentação poios é mais eficiente ou por pincelagem em cortes
    Cumprimentos

  11. José Rui Fernandes

    O Garlon é um Arbusticida de uso proibido, logo quem o usar está a ser pior que a lei das ditas Invasoras !!!

    Sim, soube isso há poucos meses. Foi tornado proibido ou já era quando o utilizei (2005-2006)? Já estou arrependido. Foi-me aconselhado por um engenheiro florestal.

  12. adelmo

    artmobil@ubbi.com.br
    s
    Sou apicultoer no sertão por favor gostaria de obter sementes das Acacias que estão nas fotos quem pode ajudar a melhorar o reflorestamento do planeta.Grato

  13. Humberto

    Olá.Gostaria de tirar algumas dúvidas sobre a introdução de espécies não indígenas na Natureza,mas não sei com quem.
    Podem-me ajudar?
    Muito obrigado

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