Os neo-neolíticos
Os animais sem direitos (Público), segundo Paulo Rangel, deu origem a um texto de Carlos Loureiro e outro de Helena Matos no inefável Blasfémias, o auto-proclamado “blogue de referência”.
O primeiro, destaca o cão como “coisa” e nem é necessário dizer mais nada; o segundo, dentro de uma linha de demagogia da mais baratinha que existe, defende a tese grosseira de quem é amigo dos animais não é amigo das pessoas.
E dá exemplos! Esses malvados amigos dos animais não vão ver os familiares idosos ao lar! Assegura até que isto é do foro psicológico e até quase criminoso. Imagine-se há uns quase-criminosos em campanha para salvar um tubarão-baleia de um aquário no Dubai (BBC), tendo ali mesmo ao lado uns indianos em situação de quase escravatura.
Sobre a quase escravatura, a Helena Matos já deve ter tomado atitudes mais consentâneas com a dimensão da sua indignação, além de escrever prosas neolíticas. Sem dúvida que não tem iPod, telemóvel ou “gadgets” fabricados numa qualquer “sweatshop” chinesa; petróleo e os seus derivados, principalmente do Dubai (mas pode ser também da Arábia Saudita ou Venezuela), também não consome. É que nem de transportes públicos anda.
Para completar o ramalhete, outro dos autores “de referência”, Gabriel Silva diz nos comentários que
de facto penso que “isto é tudo nosso”, tanto mais que sempre somos nós que decidimos tal e nada nem ninguém nos coloca limites a não ser que nós o decidamos
É o neolítico em todo o seu esplendor.
A minha opinião é exactamente o inverso. O que observo é que quem gosta dos animais é quem mais tem para dar aos outros. São pessoas maioritariamente generosas, preocupadas com o que as rodeia e de ética inabalável. Pessoas decentes, que sabem distinguir o bem do mal.
Também não posso de forma nenhuma censurar que gente cercada pela solidão procure algum conforto na companhia de um cão ou de um gato. Muito menos que numa sociedade de neo-neolíticos como estes “liberais”, algumas pessoas se sintam de certa forma mais felizes na companhia de um animal.
Estes “liberais” que como já foi constatado por outros, de liberal não têm nada, negam toda a ciência que não encaixe na sua cosmologia antropocêntrica radical. Negam a inteligência dos animais, as suas semelhanças genéticas com os humanos, negam o aquecimento global, negam a deplecção dos mares, negam a poluição do ar, negam o colapso dos ecossistemas… Mas percebem o colapso do sistema económico, palavra com a mesma raiz… Deve ser insuportável para estas pessoas o conceito de vida extraterrestre, não vá ser mais inteligente e/ou forte e considerar também que isto “é tudo nosso”.
Só os refinados hipócritas invocam as crianças e os idosos para justificar toda a casta de malfeitorias sofridas pelos animais às mãos das pessoas, designadamente no nosso país. A única doutrina destas pessoas, é o egoísmo radical. É o que pregam, é o que sabem.
Uma resposta para“Os neo-neolíticos”
Num efeito de matrioska, vim parar a este blog num post ainda não poluído e devo dizer que gostei muito. Não tarda nada vai ser invadido pelos trauliteiros de serviço. Gostava que se conseguissem manter discussões ao nível das ideias, dos princípios éticos, sem resvalar para o insulto, o pseudo-argumento. Mesmo em assuntos em que as minhas convicções são inabaláveis porque construídas de uma forma muito sólida, gosto de as testar ouvindo opiniões contrárias. Mas temos ainda um grande déficit democrático e acabamos esgotados a tentar explicar questões básicas a indivíduos que só se ouvem a si próprios, num estranho circuito fechado em que as coisas mais absurdas parecem fazer sentido.
Todos os grandes movimentos sociais foram iniciados por minorias que não cederam a nenhuma pressão feita pelos pequenos/grandes poderes instituídos. Não tenho qualquer dúvida que o século XXI será marcado pela libertação animal, pelos valores ambientais, mas também tenho perfeita noção de que ainda vamos levar muita cacetada.
Não insultes os homens do Neolítico, penso que foram eles que domesticaram os lobos e deram origem aos cães.
Domesticar é um eufemismo para escravizar.
Considero graves as declarações do senhor deputado, declara ser a favor do fabrico de peles, que os animais não são titulares de direitos.
Mas afinal que tipo de pessoas andamos nós a meter no poleiro?
Já dizia a minha avó “quem não gosta de animais, não gosta de pessoas”
Aqui não há problema é tudo gente civilizada. E não me refiro a andar de fato e gravata como o senhor Paulo Rangel.
Eu tenho. Muitas dúvidas mesmo. Aliás acho que entre situações irreversíveis como o aquecimento global e continuação do “é tudo nosso” do senhor Gabriel Silva, o ambiente já tem o destino traçado. E esta civilização vai junto.
Estes senhores que são o culminar de 2.000 anos de história (10.000-12.000 no máximo dos máximos), julgam que estão cá desde sempre e sempre estarão. Julgam que mesmo antes do Homem existir, já era “tudo nosso”.
É por isso que aparecem as Sarah Palin deste Mundo, a dizer que a Terra tem 6.000 anos. Por para ignorantes dessa dimensão, não é possível que já cá estivesse antes. Para quê?
:)
A classe política portuguesa no seu auge…
Estes tipos em vez de se concentrarem no essencial – para que não hajam dúvidas: saúde, educação, emprego, produtividade e economia – andam aqui a mandar dislates para o ar. Este tipo não é um neo-neolítico, é um troglodita, só pode ser, mais iletrado não pode haver; e de facto a minha avó dizia exactamente o mesmo que a avó do leitor anterior por isso deve existir alguma lógica por trás da sabedoria popular.
Isto leva-nos a concluir que a política portuguesa está vazia de ideias e de projectos inovadores, logo andam à toa mas ainda não se aperceberam de que o seu prazo de validade já está ultrapassado e há muito.
Absolutamente tenebroso…
Acho que este senhor não teve avó.
Teve mas de facto algo falhou na educação deste senhor. Continuo a acreditar que este país começa a cair vertiginosamente num buraco descomunal, um lamaçal onde interesses do estado e interesses de grandes empresas se misturam perigosamente. Apesar de não parecerem a mesma coisa, todo o discurso deste senhor tem apenas o fim de nos desviar do que interessa – mas que não lhe retira todo o carácter asqueroso – mas que os políticos não sabem ou não querem responder.
Continuamos a acreditar que pessoas sérias e compostas, de fato e gravata são um paradigma de inteligência, sabedoria, honestidade, capacidade de liderança e gestão, bem chegou a altura em que de facto descobrimos que são essas pessoas que todos os dias nos retiram direitos sem oferecer nada em troca, que levaram os fundos onde estão aplicadas as nossas reformas à quase falência e que agora se arvoram em grandes defensores da humanidade mas que os animais, pobres coitados, têm apenas os direitos que os proprietários lhes querem atribuir. Portanto se eu tiver um pobre bichano e decido que o mesmo deve morrer à fome, está tudo bem, sem problemas.
O mundo caminha para um abismo moral, um vazio de valores absolutamente insustentável, a médio prazo temo pela nossa civilização, quando as últimas barreiras morais forem levantadas vai ser, literalmente, o fim do mundo. Nessa altura os neo-liberais devem pedir a intervenção do estado, já então reduzido a um mero fantoche. Já será, lamento informar, tarde demais.
Rui,
Confesso…Só tive paciência para ler o texto da Helena Matos (que suponho ser a mesma “Helena Matos” que escreve no “Público”. E, se assim não for, peço desculpa pela minha ignorância).
Não costumo frequentar este e outros blogues similares. Mal tenho tempo para acompanhar os da área ambiental e outros de temáticas que me interessam (clima, arquitectura, fotografia, música alternativa,…).
No entanto, concordo contigo que este tipo de textos se insere numa lógica propositada de criar polémicas para alimentar o “contador de visitas” e a “caixa de comentários”.
O texto da Sr.ª é tão indigente e de uma demagogia tão primária e facilmente desmontável que não merece muita tinta…
Dito por outras palavras, eu até acredito que a Sr.ª em causa nem acredite no que escreve e que o faça apenas para alimentar o seu ego. Preocupa-me mais os que escrevem a apoiá-la, ou seja, aqueles que efectivamente abandonam os seus animais e os mal-tratam e também, já agora, os que desprezam as árvores e se sentem incomodados pela sua sombra e pelas suas folhas.
A crise económica deste país é grave, é gravíssima, mas bem pior é a crise de valores morais de um povo que vive para a aparência (o carrinho alemão, a roupinha de marca, o telemóvel topo de gama,..) e não demonstra qualquer humanidade: pelo seu semelhante e por todas as outras “criaturas de Deus”, como os animais ou as árvores.
Vai podre de valores a República…
É a mesma Helena Matos.
Aquele blogue sempre foi assim. Tem lá o campeão da conversa de chacha, João Miranda. Ela quer fazer uns posts de chacha à JM, mas saem mal.
Acabei por não incluir o exemplo das árvores cuja defesa seguindo a linha da Helena Matos, devia dar cadeia. Cada vez que alguém quer proteger uma árvore lá vem o moralão dizer que “há tantas criancinhas a passar fome”. Mas estes moralões, no fim defendem-se a si mesmos e já é muito. É como digo, são os egoístas radicais.
Neoconas era um termo ja meu conhecido muito bom para classificar essa tralha mas neo-neoliticos e de facto delicioso. Parabens.
Quanto visitas, so posso dizer vara longa, vara longuisima. Ja ha 3 anos que coloquei (e vou colocando) alguns blogues na minha lista de sitios a evitar. Admito que foi dificil ao principio mas quanto mais tempo passa e mais ecos como este do que por la passa vejo mais convencido fico da justica.
As pessoas falam na liberdade de expressao e que e necessario ser-se justo e proporcional na atencao que se da a paleta de opinioes disponiveis.
Mas existe uma coisa chamada realidade quem nao consegue cogitar opinioes tendo como farol tal cousa e um pateta alegre e deve por conseguinte ser classificado de e tratado como um.
Vara longa repito-me e reforco: sarcasmo corrosivo e palavroes se necessario for com essa gentinha!
NEO-NEOLITICOS! AHAHAHA!
Seria melhor dizer a esse “moralâo” que as criancinhas também estão a passar fome de ambiente, e que as árvores podem fazer muito por isso.
Pode ser que um cão lhes morda…
Eu também já não leio o Blasfémias há muito tempo. Voltei lá há uns meses e desisti novamente. Por uma razão ou outra, volta e meia vou lá ter, como neste caso.
Desta onda acompanho o Portugal Contemporâneo e é tudo (agora a contar com o João Miranda — não posso ganhar!).
Eles andam a embandeirar com as visitas, mas o Google dá, o Google tira. Ter ranking 7 é impressionante para um blogue português, reconheço. Mas a influência que não tinham, continuam a não ter.
A Helena Matos continua e parece que anda a postar estas alarvidades sem se rir. Agora compara números de comentários no caso da cadela do Paulo Rangel, com outros dois textos sem qualquer relação ou controvérsia. Já para não falar na quantidade dos comentários de analfabetos radicais a apoiar a sua própria prosa neolítica. O João Miranda pelo menos é ironia de cima a baixo, aliás muitas vezes tão subtil que os pacóvios julgam que a coisa é para levar a sério.
Enfim, vara longa parece ser uma boa estratégia. :)