5°C
Telefonei Quinta-feira passada ao Cláudio para ver se ele ia Sexta e se aparecia hoje. Pediu-me um favor — se lhe levava o Terminator III (cópia de DVD). Como não arranjo esse, perguntei se servia o Terminator I e II. Servia. Óptimo, o rapaz pareceu entusiasmado. Como as árvores estão quase a chegar, preciso de preparar os locais para não ser como no ano passado, um limpa de um lado e planta do outro.
Hoje chego lá, algo tarde, do Cláudio nem sinal. Dei uma olhada para o que lhe tinha pedido para fazer na Sexta e zero. É o cúmulo. Vindo ou não vindo, hoje vai ser o seu último dia. Não aturo isto.
Entretanto, estou calmamente a calçar as galochas, quando olho para a pencas todas arruínadas. Aproximo-me para ver melhor que calamidade se abateu ali e nítido por todo lado, cascos de vacas. Pronto, o dia já começou péssimo. Vou ter mesmo que investir nos portões, isto assim não pode ser.
Bom, fui buscar a moto-serra e tratei de cortar a lenha que retiramos do barroco. Quando acabou a gasolina fui ao palheiro, actividade por si só cansativa, estava a uns 400m. Isto ilustra bem a importância de planear bem o que se anda a fazer neste terreno. Um esquecimento, lá andamos nós 400m para cada lado e lá vão 20 minutos.
Reparo em dois artistas a conversar no Lameiro da Gracia. Viram-me ao longe e trataram de circular, mas para não haver dúvidas fui atrás deles e apresentei-me. Era o Sr. Fausto, dono do terreno de onde fotografei a queda de água e o Sr. Abel, que mais tarde vim a saber que já tinha tentado contactar comigo para pedir autorização para colocar umas vacas nos lameiros. O Sr. Fausto andava ali porque queria colocar água no tal terreno onde fui tirar as fotografias. Este pessoal é doido por água. Já temos tudo inundado porque o Sr. Américo anda com o ribeiro quase todo nos terrenos dele (e a água cai para os nossos em cascata) e agora ainda vem aí mais água porque a levada passa no nosso terreno para chegar ao do Sr. Fausto. Fico maluco.
Fomos inspeccionar a levada e concluiu-se que está toda a precisar de grande remodelação, dali não vai correr água nenhuma. Por baixo dos terrenos do Sr. Américo, uma entulheira indecente no leito do ribeiro. Deitaram as árvores abaixo (aqui, uma árvore=sombra) e mandaram-nas para o ribeiro. Como não há Guarda-rios e até parece que querem acabar com os Guardas-florestais, cada um faz literalmente o que quer e lhe apetece.
O Sr. Abel trabalha na Associação que eu já contratei o ano passado e ia contratar este ano para ter duas pessoas que me ajudassem a plantar as árvores. Além disso dá uns dias de vez em quando. Passei na casa dele ao fim do dia para combinar alguma coisa. Ficou de tratar de me fazer uma horta digna desse nome. Lá fui explicando que não queria químicos, acho que entendeu. Deu-me um monte de pencas.
Na hora do almoço, resolvi ir visitar o Sr. Laureano, mas apenas estava a mãe, uma senhora já de muita idade que me contou uma série de histórias da sua juventude e como cresceu com a D. Hermínia e os irmãos, Sr. Resende (Zézinho) incluído — que por falar nisso nunca mais apareceu e tenho saudades dele. Disse-me para não estranhar porque é um bicho do mato, mas eu acho que ele não está muito bom de saúde. Tenho de regressar ao terreno, acabei por gastar a hora do almoço a conversar e o Cláudio acaba por ser falado. A senhora diz-me para ter tolerância, ele é bom rapazinho, mas em casa aquilo é uma desgraça. E de desgraça em desgraça, lá me convenceu. Sou um coração mole.
Quando eu andava na faculdade de engenharia, marcava-se uma hora para qualquer coisa e tinha um amigo que considerava sempre que essa era a hora para começar a pensar em sair de casa. Fosse para o cinema, para beber um copo, estudar (às vezes estudava-se!), a hora marcada era a hora para a excelência se começar a arranjar para sair de casa. Nunca me chateei com ele, dava-lhe precisamente 10 minutos de tolerância e depois disso tratava de vida. Isto tudo para dizer, que é essa a minha noção de tolerância: 10 minutos.
O que a senhora me pediu foi muito, considerando o historial do Cláudio desde Junho passado, mas com boa cara lá fui ter com o rapaz ao Sargaçal. Porque entretanto ele telefonou, tinha chegado, às duas da tarde.
Cortei mais alguma lenha e fomos levar lá abaixo ao carro, duas carrelas totalmente cheias. Que depressão total descer e subir aquele estradão a meio do dia… A prioridade ficou a ser ter meios para subir aquilo, vulgo, Jipe. É que não dá, envelheço a subir e descer o estradão. Bons tempos em que o carro ia lá acima. Foi no tempo das facilidades à Sr. Cristóvão.
Depois fomos limpar as leiras para os citrinos. É onde vou plantar mais cinco tangerineiras e seis laranjeiras. Foi num instante. Como tinha sido limpo o ano passado, não custa muito manter e isso é algo que tenho reparado e acho muito positivo. Negativíssimo, foi pegar na minha tesoura podadora da Stihl (que corta ramos de 4cm com grande agilidade) e verificar que está totalmente liquidada. Ora, eu fui o último a usá-la e tenho a certeza absoluta que não deixei a tesoura assim, aliás parece que andou a cortar arame. Além disso os tubos de alumínio do cabo cheios de água. Para mim, isto já começa a ser abuso de confiança. Como a chave do espigueiro está habitualmente lá por muito perto, alguém já se anda a colocar à vontade com as nossas coisas e no nosso terreno. Se calhar, o dono das vacas que nos comeram as pencas. De uma forma ou de outra, incomoda e não é pouco.
Achei este dia muito estranho. Correram bastantes coisas mal, mas deposito alguma esperança no Sr. Abel e na sua capacidade de me tratar de uma horta sem me chatear muito. Esta semana já me vai comprar umas couves lombardas e uns grelos para começar.
Desci às seis horas. Estavam 5°C. Bebi um leite quente e que bem que me soube. A temperatura já está muito baixa e ao fim da tarde fica uma humidade insuportável. Mantendo uma actividade física constante, não há frio. Não se pode é parar.
A tocar no iTunes: Valis do álbum “Wetware” Cassandra Complex (Classificação: 4)
Uma resposta para“5°C”
Coragem!
Não desistir.