Tapada
Não se pode dizer que passei um dia de ano novo muito comum. Normalmente é o ócio completo. Fui às 11h para o Sargaçal, saí às 20h, todo empenadinho. Andei sozinho, foi proveitoso. Trabalhei bastante, só não plantei árvores. Como diria John Seymour, sou só um. Só posso fazer o que um pode fazer. Mas, farei o que um pode fazer.
Comecei por recolher e amontoar folhas para plantar 100 bolbos de Crocus de várias cores/espécies. O ideal é plantá-los até ao fim de Dezembro, para florirem lá para Março. Foi no limite. Pareciam muitos, mas desapareceram num instante. O terreno é que é muito. Li algures que tudo o que é esquilo e pequeno roedor adora estes bolbos. Na Primavera logo se verá quantos sobreviveram.
Fui para o local da gaiola para composto e revirei a pilha que lá está quase pronta. Resolvi fazer outra pilha com material que estava a compostar (mal) em três pilhas menores. Carreguei tudo para lá em seis ou sete carrelas. Depois fiz um montão de folhas — que deve ficar pronto daqui a dois anos. Foi um erro não ter começado a amontoar folhas o ano passado, mas com tudo o que havia para limpar não foi possível. O facto de conseguir fazer estas tarefas este ano, é um indicador que apesar de tudo, o terreno está melhor.
Depois desta actividade física, resolvi ir cortar umas estacas de ameixoeira caranguejeira (Prunus domestica) para reprodução. Não tenho grandes esperanças porque é suposto serem cortes do crescimento do ano corrente, mas as árvores em questão estão negligenciadas e o que cresceram este ano foi uma nulidade total.
Entretanto fui ter com a família ao restaurante Solar de Montemuro que serve uns grelhados mesmo bons. Fica mesmo por cima do Sargaçal, embora a vários quilómetros pela estrada (uns 15 minutos). A vista é muito boa, embora também inclua a entulheira que parece maior cada dia que passa. Bom, pelo menos é assim que sabemos estar por cima do Sargaçal, é o ponto de referência.
Quando voltei, comecei a limpar a leira onde vou plantar umas 15 árvores, além das seis macieiras e seis pereiras que já plantei. Comecei por enrolar os arames do bardo que o Cláudio tinha tirado (não voltou para acabar o trabalho). Foi a pior parte. Quatro arames grossos, seguramente com mais de 30 metros, não são fáceis de enrolar. O primeiro foi o pior. No quarto já estava quase especialista.
Entretanto chegou a família. A Luisa ficou a dormir no carro, o Pedro andou ao colo da Susana e os meus sogros resolveram ir ajudar-me a tirar as videiras. Estiveram por lá uma hora e regressaram ao Porto. Continuei a recolher os detritos vegetais com afinco, ainda com esperanças de fazer uns buracos e plantar umas árvores, mas a noite caiu com grande velocidade e junto um nevoeiro e humidade penetrante. Antes que ficasse totalmente escuro, fui encher quatro garrafões de água e carregar a lenha que andava nas bermas do estradão — que revelou ser mais do que o que parecia. Nesta altura andava literalmente a correr de um lado para o outro. Ainda carreguei uma carrela de calhaus que levei para junto do palheiro (para posteriormente colocar dentro dos buracos do lameiro pequeno). Quando se aproxima a hora de regressar dá-me uma energia extra, mas não adianta nada.
Regressei à leira e comecei uma fogueira a custo. A humidade já era tanta que pensei que não ia conseguir. Dei uma corrida para ir buscar uns fetos secos e foi isso que salvou o fogo. Já eram umas seis horas e estava completamente escuro. Ah! Mas já se nota que os dias crescem! Em duas horas recolhi, queimei tudo e ainda tive tempo para lanchar. O nevoeiro, cada vez mais cerrado, deu um ar fantasmagórico ao cenário. Havia um clarão cor de laranja logo por cima das copas das árvores.
Esta fotografia é da tapada que nunca esteve tão bem. Acho que é difícil explicar e compreender que as silvas já cobriram tudo o que a vista alcança. Algumas destas árvores já nem viam a luz do Sol. Este ano vou plantar mais uma série de árvores e pode ser que com o tempo se torne num interessante pequeno bosque.
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