Poder de compra
O Instituto Nacional de Estatística divulgou um estudo onde se evidenciam as cada vez mais profundas assimetrias do país.
O poder de compra de Lisboa é o triplo da média nacional; o do Porto é o dobro. O de Cinfães é metade da média nacional, estando entre os mais pobres do país. Celorico de Basto é o mais pobre — curiosamente os primeiros terrenos que andamos a ver foi em Celorico.
O futuro: Cada vez mais gente fugirá para as cidades do litoral. A desertificação do interior será inexorável.
A tocar no iTunes: Believe you me do álbum “Some Friendly” Charlatans (Classificação: 5)
Uma resposta para“Poder de compra”
Obviamente a política (ou melhor as políticas) dos governos dos últimos anos tem sido um autêntico desastre neste aspecto (e em muitos outros), tendo-se acentuado a disparidade entre o interior e o litoral, algo que é visível a olho nú, não sendo necessárias quaisquer estatísticas. Ao nível do poder local é melhor nem falar. As ideias são nulas e o problema do despovoamento nem sequer aflora aos seus parcos neurónios. Porém nem tudo será mau e não são apenas os indicadores económicos que fazem a qualidade de vida (embora nos queiram fazer crer que sim!). Assim, embora o poder de compra no vizinho concelho de Resende seja um dos piores do continente ainda há pouco tempo este concelho era classificado numa outra estatística como um dos do país em que há melhor QUALIDADE DE VIDA. Qualidade ou quantidade? Há pois que optar…
Qualidade de vida, no sentido de saudável, salutar, digna, feliz… o que John Seymour chama “the good life”, sem dúvida. Cada vez mais gente da cidade anseia por este regresso à terra, ao ar puro, aos alimentos de qualidade… nem que seja durante 15 dias por ano.
O problema é o resto. A distância cada vez maior de Lisboa (onde se gasta mais em painéis de propaganda, do que as pequenas autarquias do interior têm de orçamento total). A falta de infra-estruturas, crescimento (quanto mais sustentável), perspectivas de futuro. Há electricidade e telefone, mas falta tudo o resto. Nota-se falta de evolução, cultura, de educação (abandono escolar dantesco), de juventude… Os poucos jovens estão isolados, o sonho é partir.
É pena a qualidade e quantidade, neste caso serem mutuamente exclusivas. As populações do interior deviam ter direito a viver com qualidade e também com alguma quantidade de dinheiro no bolso.
Aliás, sem isso não há protecção do ambiente que resista. Um proprietário que esteja em dificuldades económicas, abate milhares de árvores sem olhar para trás. O que é que os ambientalistas ou pelo menos as pessoas preocupadas com o ambiente têm para lhe oferecer? Ou por exemplo no caso muito concreto das mini-hídricas no Vale do Bestança. Chegam as ricas empresas da capital a oferecer bons preços por terrenos a alagar. Terrenos, que estão ao abandono, entregues às silvas e cujos proprietários há muito desistiram de tentar retirar algum rendimento. Como é que os ambientalistas lutam contra isso? Que têm para oferecer a esses proprietários? É complicado.
Sem desenvolvimento dos lugares deprimidos do interior, não me acredito na sustentatibilidade do país como um todo. Cada vez que chegam estas estatísticas, acho que o país está mais longe do ideal.