Complexo de inferioridade
Há 30 anos, ia a Espanha com os meus pais. Era um dia inteiro. Longas filas na fronteira, carros revistados, voltava com os bolsos cheios de chocolates, era uma emoção. Um escudo eram duas pesetas.
Entretanto, cá estamos. Um euro é um euro, salvou-nos da vergonha de precisar de dois escudos para comprar uma peseta. O nosso vizinho também teve a sua ditadurazinha e até pior, uma violenta guerra civil, terrorismo a sério… Entrou para a CEE, tal como nós recebeu milhões. E de repente…
Só para mencionar duas ou três pequenas notícias recentes: Foi anunciado o Airbus A380 e junto com a França, Inglaterra e Alemanha lá está o nosso vizinho; por falar em Alemanha, aqui ao lado já se disputa a liderança mundial de energia eólica instalada, exactamente com os alemães; a BP já tem lá instalada uma fábrica de painéis solares e prepara-se para a segunda… A Espanha está a colar-se em definitivo aos gigantes da Europa e nós aqui ao lado, mais divergentes que nunca.
Uma resposta para“Complexo de inferioridade”
Nem de propósito, ao ler este artigo, estou a ouvir um disco espanhol intitulado “ALARIFES MUDÉJARES”, de Eduardo Paniagua. Um disco fabuloso, na senda de muitos outros (alguns premiados) já editados por este intérprete (Calamus-The Splendour of al-Andalus; Cantigas de Sta. Maria de Alfonso X “el Sabio”; Jardin de al-Andalus; etc…). A questão é que os “nuestros hermanos” levam um avanço cultural considerável. Apoiam as artes; as letras; a cultura; enquanto que cá há apenas espaço para “futebóis”, programas e música pimba e pouco mais…
Nem a nossa própria história nos consegue mover e tirar desta modorra de “apagada e vil tristeza”…
Cerveira Pinto
A Espanha há muito (séculos) que é um gigante Europeu.
Nunca percebo como nos comparamos a eles quando a realidade sempre foi, e será, diferente.
Começámos a divergir na Restauração e a partir daí as diferenças (do nosso lado para pior) continuaram a acentuar-se como nunca…
E já agora, vir falar de música pimba e de “futebóis” em relação à nossa realidade comparados com Espanha, até parece que o futebol em Espanha é algo menor… Já para não falar que foram eles que inventaram, por exemplo, o famigerado concurso “Operação: Triunfo”…
Quem tem tvcabo pode dar uma olhada nos canais espanhóis de vez em quando para ver que essa definição de cultura elevada está um bocado longe da realidade…
Aliás, pela mesma definição basta olhar para o Reino Unido e para os Estados Unidos e ver o que se passa por lá…
Há imensas coisas que se podem e se devem fazer no nosso país para nos empurrar para um futuro melhor, mas não admito que se “copie” os maus exemplos dos outros só porque são maiores, mais ricos e mais poderosos.
Nuno Ferreira
Acho que ninguém deseja importar maus exemplos, isso é pacífico.
Mas, a Espanha é um gigante europeu, no presente. Nós éramos. Perfeitamente ao nível da Espanha. Eles tiveram muitos altos e baixos, com baixos de muita fominha e muito pézinho descalço, no século XX.
O que está em causa para mim e tentei expressá-lo, é o percurso dos dois países no passado recente, que só não é diametralmente oposto por não se tratar de geometria.
Também não acho que seja na televisão que se vai descobrir grandes exemplos culturais, pessoalmente nem sei o que é essa tal de “operação”. Já há muito tempo que optei por não ver televisão, ou por ver o mínimo dos mínimos.
As questões entre Portugal e Espanha, são complexas e vão muito mais além do “eles são melhores que nós”. O país vizinho é neste momento uma nação com uma direcção bem definida. Quando muda o governo, os grandes desígnios nacionais mantêm-se. Isso significa, que para nós seria muito importante estar num nível onde pudesse existir algum equilíbrio, porque quer queiramos quer não, seremos cilindrados. Os exemplos já abundam. Nas pescas, no TGV (de tanto titubear português, os espanhóis acabaram por traçar as rotas), na água…
E este último ponto acho particularmente preocupante. A Espanha está listada como um país que terá sérias carências de água nos próximos 25 anos. Teremos réstea de força para fazer prevalecer os nossos direitos à água dos rios internacionais?
Acho que ainda seremos do tempo em que se falará mais de água que de petróleo.
Na minha opinião Portugal e Espanha nunca poderão ser muito comparáveis.
No total da Península Ibérica nós temos 1/5 da população total e em termos de território teremos 1/4?
Somos dois países diferentes, com dois destinos diferentes. A questão é sabermos fazer inteligentemente o nosso destino, e é isso que nos falta. Claro que podemos ser grandes fazendo uso de muito de bom que “apesar de tudo” temos, mas para isso precisamos de líderes inteligentes e decentes… e onde andam eles? E claro, deixar a conversa dos “coitadinhos” e deixar de sermos descaracterizados por uma certa padronização europeia quase impingida à conta de milhões que por muito bem que tenham feito infelizmente e a meu ver também só serviram para dormirmos à sombra da bananeira. E também precisamos de facto de um rumo concreto.
Houve uma altura em que acho que era mais aceitável compararmo-nos a Espanha, isto quando “Espanha” era um aglomerado de reinados. Por essa altura já Portugal era um país bem definido e teve a história que teve apesar do seu pequeno tamanho.
De resto Espanha tem e terá sempre um grande problema, que ainda para mais está a ressurgir bastante no presente: a herança dos reinados espalhados, que deram origem às regiões, que cada vez mais querem a autonomia e até mesmo a independência? E nisso, se nós formos espertos (ou fossemos), saberemos e aproveitaremos o facto de que temos sempre relações mais previligiadas com as regiões autónomas de Espanha do que com Espanha como País. Basta ver-se o caso da Galiza, e também das regiões fronteiriças na zona do Alentejo/Algarve.
Claro que este entre outros não é o único problema de Espanha. Mas é evidente que eles têm a sorte de terem acordado há muito, nós nem por isso, mas… a Irlanda também acordou tarde, mas no entanto…
Ao ler sobre este assunto fez-me lembrar o caso de no ano passado e por causa de empresas portuguesas estarem a ser compradas por Espanholas terem vindo empresários a terreiro dizer que mais valia Portugal ser integrado em Espanha. Isto sempre me deu vontade de rir porque por muito mal que estejamos algum dia aceitaremos de novo sermos parte de Espanha? De resto num mundo global até os Espanhois têm problemas de sobra. As Ilhas, pelo menos algumas, já são praticamente Alemãs, o Sul Inglês… e de resto ainda hoje vi nas notícias online que a CGD está a tentar comprar uma rede Espanhola de Hospitais. É engraçado como estas notícias são relegadas para um segundo plano, além de outras de Portugueses que vencem e convencem em diversos domínios no estrangeiro, mas aquelas em que somos “invadidos” vão para primeiro.
Sobre a água, ainda me lembro da história do transvase do Douro, Tejo e Guadiana, que depois ficou sem efeito. Ainda me lembro dos lixos radioactivos que vinham para perto de Portugal e acabaram por não vir. Não digo que Portugal seja mais forte que Espanha mas terá os seus trunfos, desde que acorde, e terá de os saber jogar bem, principalmente (repetindo-me) fazendo uso das boas relações com regiões específicas de Espanha.
De resto, não que queira de novo criar pessimistas, mas o Sr. Bush e companhia têm guardado e escondido um relatório, que apesar de tudo veio a público, mas voltou a ser abafado, em que é bem vincado que na realidade o que acabará por ser o grande motivador de guerras e terrorismo, num futuro próximo, será a escassez de recursos naturais, alimentos e água.