O ambiente como lucro e auto-promoção
Não é necessário ser catedrático para numa distraída observação, concluir que este modelo de sociedade está esgotado ou a esgotar-se a um ritmo alucinante. Refiro-me ao modelo de sociedade ocidental, de consumo, desperdício, automóvel, poluição, egoísmo, valores duvidosos e politiqueiros. Segundo este artigo da CNN, o aquecimento global está a aproximar-se do ponto crítico de não retorno.
O planeta para ser salvo, necessita da colaboração de todos. Não vão ser os ambientalistas das t-shirts “salvem as florestas húmidas” que o vão fazer. Isto não vai lá de t-shirt. Só com camisas de flanela, mangas arregaçadas e muito trabalho.
Há pequenas coisas que todos podem fazer e que até é criminoso, nos dias de hoje, não as fazer. Utilizar o automóvel o menos possível; separar o lixo — mesmo sabendo que no caso do vidro, se está a deitar fora garrafas em perfeito estado e vão ser necessários megawatts de energia para fazer novas (melhor é re-utilizar o vidro); comprar produtos locais (ou o mais local possível); utilizar lâmpadas compactas fluorescentes; re-utilizar sacos de plástico várias vezes; plantar pelo menos uma árvore…
Isto são as pequenas coisas. As grandes mudanças, não tenhamos ilusões, estão dependentes das grandes corporações e é delas depende o futuro do planeta — o poder político há muito que está subjugado aos interesses económicos. Há um actor incontornável neste cenário, que se chama US of A. Pode ser divertido para o pessoal da extrema esquerda criticar os americanos por tudo. E por nada. Até está na moda, fica sempre bem e no caso concreto do presidente George W. Bush, até é difícil de não acertar. Mas vai ser com os EUA que o planeta vai ser salvo. Ou então, não vai.
Para os americanos, democracia é sinónimo de capitalismo, que por sua vez é sinónimo de mercado, que por sua vez é sinónimo de lucro. Só lucrando alguma coisa com isso é que as empresas globais vão mexer uma palha para salvar o ambiente. Só lucrando alguma coisa com isso é que as pessoas influentes irão abrir a boca a favor do ambiente, criando a partir daí um movimento na opinião pública que exigirá mais produtos amigos do ambiente, o que tornará as empresas mais atentas e interessadas em mudar.
A revolução não se fará com o retorno às cavernas ou tão só ao campo. É tarde demais para isso. Vai ser na sociedade de consumo, com pragmatismo e pouca ou nenhuma ideologia.
Existem já há alguns anos sinais nesse sentido. Segundo o JN a ecologia é a nova moda em Hollywood, mas não é só em Hollywood que as coisas estão a mudar nos EUA. A Ford lançou um SUV híbrido e não tem capacidade para satisfazer as encomendas. A mesma Ford, instalou 2,5 hectares de cobertura verde na sua nova fábrica de camiões (outro artigo).
No campo financeiro, existem hoje em dia diversos fundos especializados em companhias “verdes” que constituem uma boa alternativa para os investidores conscienciosos, permitindo jogar o jogo capitalista, “business as usual”.
Outro exemplo (para terminar, existem múltiplos), é o que tem acontecido na indústria de energia solar. A Siemens comprou a Arco Solar; a Shell comprou a unidade solar da Siemens; a BP comprou a Solarex; as empresas de energia atómica há muito que meteram o pé na porta. Para muita gente, sem dúvida bem intencionada, isto além de heresia, é uma conspurcação de uma energia limpa por parte alguns dos maiores poluidores do Mundo. O que eu digo é: preferia que idealistas empresas independentes fabricassem os módulos solares e que salvassem o planeta romanticamente. Infelizmente, a realidade não está para romances. Estas mega-corporações têm um músculo para produzir e promover a energia solar, que as pequenas empresas não possuem.
Eles que se afoguem em dinheiro, mas que nos deixem viver em paz e sossego, num planeta mais justo e mais limpo. As figuras públicas que se promovam ignobilmente à custa do ambiente, que sejam pagas para isso, mas que ajudem a mudar as mentalidades. Gostava que fosse de outra forma, mas não vai ser. E antes assim que de forma nenhuma.
A tocar no iTunes: Always a flame do álbum “In the Afterglow (live)” Gene Loves Jezebel (Classificação: 3)
Uma resposta para“O ambiente como lucro e auto-promoção”
Bem, é claro que no meio disto tudo começa a ser interessante que os Estados Unidos se começam a isolar, ou a ser isolados, colocados entre a espada e a parede, até pelos seus mais acérrimos aliados, pelo menos nos pontos ambientais, como se pode ver aqui. A grande questão é que com a previsível queda americana, pelo menos economicamente, como vaticinado aqui, assim como em outros blogues com um minímo de consciência e conhecimento sobre o assunto, começa a ser particularmente interessante ver o que se vai passar na Ásia, em vários aspectos, entre eles e especialmente o ambiental, com o também previsível crescimento económico (com tudo o que isso acarreta) e poderio da China e India, os eventuais substitutos futuros dos actuais USA.
Claro que a questão é se já não estaremos a caminhar por um novo beco que entretanto já criamos e que não tem saída… (tentarei mais tarde encontrar um artigo recente que vi e que tem a ver com o que escrevo neste meu parágrafo… as minhas desculpas…)
Eu não mencionei a Ásia emergente para não me alongar (mais) por um lado e por outro, porque acho que 90% do problema está directamente relaccionado com as potências industriais do Ocidente.
A Índia e a China estão a tornar-se grandes potências à custa quase exclusiva da procura de mão de obra barata por parte das empresas ocidentais. Se essas empresas se comportarem com ética e decência, levando consigo normas ambientais já implementadas no Ocidente, tratarão de forma justa as populações locais. Melhorando o nível de vida dessas populações, o ambiente tem uma chance mínima de ser protegido.
Claro que no passado (e muito no presente) são as próprias empresas que criam os problemas. Quem não se lembra da Union Carbide (adquirida posteriormente pela Dow Chemical — que também fabrica o “roofmate” usado para isolar os nossos telhados)? E do caso da Coca-Cola, que na Índia privava as populações da água potável para que o Mundo pudesse beber a sua água corada e açucarada — entretanto acho que isto mudou por pressão da opinião pública (americana).
Tenho esperança que tudo melhore, nem que seja porque pior começa a ser impossível.
No fundo, no fundo, também acredito que estamos num processo irreversível. Por exemplo no caso da camada de ozono e no efeito de estufa, os gases que estão a provocar os efeitos, subiram calmamente desde os anos 60. Os destas últimas décadas (exponencialmente mais), ainda continuam na sua pausada ascensão. Quando lá chegarem, não sei como vai ser e mesmo que as emissões parassem hoje, o que já anda no ar parece mais que suficiente para enormes estragos.
O meu problema com a China (não tanto com a Índia) é que para quem não respeita os direitos humanos, e nem vou falar do dos animais, dá que pensar como eles tratarão o ambiente. E a minha certeza é que os maus hábitos são fáceis de aprender e difíceis de reverter. E não tenho conhecimento de como eles encaram a educação ambiental por lá (talvez algo que me dedique a investigar nos próximos tempos). Não tenho dúvidas que empresas internacionais, das potências Ocidentais acabam por ceder à opinião pública, mas resta saber se os governos destes estados em crescimento lhes dão rédea solta. E ainda há que considerar as empresas locais que se desenvolverão ainda mais. Não me esqueço, sobre este assunto, uma reportagem sobre empresas de pasta de papel, europeias, que por aqui estavam sobre pressão da opinião pública, mas que depois encontravam vários subterfúgios (empresas fantasmas ou subsidiárias locais) em países como a Indonésia, em que não só davam cabo das florestas, como contaminavam solos, águas e no final tinham povoações inteiras e suas populações destruídas e à mercê de um sem número de doenças provocadas pelo que lá andavam a fazer. Para além do mais é claro que tenho sérias dúvidas sobre que travão poderá ser posto ou imposto, em vários assuntos, a uma China galopante (basta ver que a Europa, ou alguns chefes de estado, estão a ponderar voltar atrás no embargo de armas).
Sobre os USA também acredito que falta pouco até que batam no mais fundo e tenho esperança que eventualmente o povo Americano que é a verdadeira força por trás daquela nação, acorde, se consciencialize e finalmente dê a volta ao assunto, dê por onde der. Mas até lá chegarmos continuo céptico principalmente quando todos os dias vejo, e tenho, relatos de americanices perfeitamente absurdas (para não dizer mais e em falta de melhores palavras) considerando que estamos no século XXI e eles supostamente eram a nação mais avançada numa miríade de coisas.
Acerca do artigo que mencionei para basear o meu parágrafo final, de um post anterior, finalmente encontrei-o (peço desculpas, muito trabalho e dores de cabeça…):
A threat more serious than emerging diseases or nuclear war is on our doorstep: Ecocide.
Biosociologist Jared Diamond argues that environmental destruction has triggered a chain reaction that threatens life as we know it.
Que posso dizer? Vais acabar por despertar o pessimista em mim, com toda essa informação. Mais vale não abrir o livro negro do ambiente desses países… Gasp! Ainda usam DDT! Como já alguém observou, um optimisma é basicamente alguém muito mal informado. Muito mais verdade nas questões ambientais.
A China é um caso sério e paradigmático. É um óptimo exemplo de como funciona este Mundo. As grandes empresas (das muy democráticas potências ocidentais) começaram a mudar-se para lá em massa, logo após o massacre de Tiananmen; ninguém resiste ao charme ($) chinês.
Eu já tinha lido um artigo do mesmo autor, muito na mesma linha. Tudo isto é grande demais para nós, simples cidadãos. E quem tem o poder, não quer saber.
Um objectivo de vida que tenho e que persigo com afinco, é deixar para os meus filhos (e dos outros também) a Terra tal como a encontrei, no mínimo; se possível melhor qualquer coisinha. Entre o que estão a fazer ao planeta e a queda de um meteoro que nos apague daqui de uma vez, prefiro a última opção.
Até lá, vou continuar a plantar árvores e a revoltar-me com as entulheiras e os caçadores.
Pronto jrf, eu depois com algum tempinho e mais disposição (apesar de ser de madrugada estou com os nervos em franja por mais uma novela profissional que se está a desenrolar “on mail” e que me está a dar cabo da paciência), vou ver se reencontro online algo sobre um tipo (mas muito contestado) que acha que não está tudo tão mal quanto isso, que a comunicação social exagera em tudo o que relata sobre o ambiente e que clama que a humanidade é esperta demais, e como consequência do desenvolvimento humano encontrará novas formas científicas e tecnológicas para dar conta do recado a tudo o que de mal possa acontecer… ;)
De resto só um comentário: quando dizes que é tudo grande demais para nós… será se formos elementos isolados, mas em conjunto não, e acho que mesmo que não se veja, uma nova consciência está a surgir e tenho a esperança que um certo revivalismo de eras negras que estamos a viver de alguma forma nos dias que correm seja uma espécie de último suspiro dessas tendências. Por isso mantenho a esperança apesar de admitir que de vez em quando fraqueja.
Eu acho que sei quem é esse autor. Não é um nórdico (ou com nome nórdico)? agora não me lembro do nome.
Confesso que cada vez menos me acredito na humanidade “no seu conjunto” e “em conjunto”. O individualismo é cada vez maior, isto para não dizer egoísmo. A grande verdade é que a maior parte das pessoas, desde que tenham novelas, futebol e centros comerciais, estão bem a marimbar-se para os problemas ambientais. Quem vier atrás que feche a porta.
Pois, o tipo chama-se Bjorn Lomborg, Dinamarquês, e é o autor de “The Skeptical Environmentalist”, um livro que causou muita polémica, muita disputa e que foi muito contestado por supostamente faltar ao rigor e verdade científicas. Claro que se juntares que o gajo é formado em ciências políticas e com queda para as estatísticas depressa poderás pensar que ele é daqueles que poderá fazer de números o que quiser e caso tu digas que um copo está meio vazio, ele contestará que na realidade está meio cheio… A página oficial dele e do livro é esta e por acaso vi agora há pouco que ele lançou um novo livro em 2004, como editor, fruto de o que suponho tenha sido um congresso organizado por ele. O título do livro é “Global Crises, Global Solutions: Priorities for a World of Scarcity” e faz-me pensar se ele nos anos que passaram desde o primeiro livro já não terá caído um bocadinho mais “na real”.
De resto percebo o que queres dizer acerca da “humanidade portuguesa”, não sei até que ponto se poderá alargar à “humanidade global”. Acho que depende das culturas e de muitas mais variáveis. Mas que a parte mais visível pelo menos em Portugal é a que descreveste, lá isso é… mas por sorte há sempre os outros e acredito que o vazio do que falas não dure para sempre e finalmente um dia a “fome existencial” das pessoas vai ter de ser cheio com algo de facto consistente… visão muito filosófica a minha, não é? ;) É só baseado no andarmos todos à procura de algo e muitas vezes nunca sabermos o quê…