Positivo


Este país gosta do fadinho triste, do miserabilismo, do diminutivo e da maldicência do que é nosso. Infelizmente não sou excepção. Gostava de ter mais orgulho na nação — como umas suecas (a Jena e a Maria) no Mónaco, que quando viram um Volvo a passar, assinalaram o facto com alegria (há quantos séculos foi isto, no primeiro Interrail?).
O que é verdade é que na última semana me cruzei com uma série de acontecimentos positivos. Pequenos. Para a grandeza da Nação e dos seus problemas. Mas positivos.

Assinalei o facto de Portugal ter cumprido as metas para a reciclagem. É bom, mas gostava de mais. O “reduzir, reutilizar, reciclar” é algo tíbio. Principalmente o reutilizar, bastante notório no caso do vidro e dos plásticos. Apesar dos portugueses se mostrarem disponíveis para separar o lixo, haveria um incremento exponencial, se a recolha fosse selectiva em sacos de cor. À Segunda, embalagens; à Terça, vidro; à Quarta, papel…
Também, a já assinalada classificação de 238 árvores no Porto, fruto do trabalho da associação Campo Aberto e dos três autores do blog Dias Com Árvores, leitura diária por aqui.
Igualmente da associação Campo Aberto, adquiri a revista Ar Livre pela primeira vez. Foi na Livraria Nova Fronteira, no Centro Comercial Brasilia. Tem um conteúdo interessante que merece ser lido e custa 2,50€. De negativo, apenas a contracapa, com publicidade a um banco — nada concreto, mas algo me diz que a banca e o ambiente, em comum, não têm nada.
Na Quinta-feira passada fui jantar à sede da Associação para a Defesa do Vale do Bestança. Tomei contacto com o primeiro número do boletim cultural Prado, que estou a ler com interesse. Custa 7,50€ e pode ser pedido directamente para a associação, ou adquirido na Livraria Nova Fronteira. Também já está na página o plano de actividades para 2005 e já no próximo Sábado, dia 12, há uma caminhada do Cais de Vila Nova de Gaia à cidade de Espinho, sendo o percurso na sua quase totalidade pelo caminho pedonal (passadiço) construído em madeira sobre as dunas. Devo estar presente, vou ver se convenço a Susana a ir também, no site está classificada como de dificuldade média, mas eu classifico como facílima — no máximo há a questão de serem 21km.
Um dia que fui ao Norte Shopping, vi um quiosque de promoção de um site chamado Portal do Cidadão. Na primeira oportunidade, lá fui ver a coisa, declaradamente céptico. Fiquei surpreendido. Não só está com um aspecto muito bom, como funciona — não só no sentido informático e de arquitectura da informação do termo, mas também no fim para que aparentemente foi criado. Está nos primórdios, mas parece-me que se vai tornar algo genuinamente útil e imprescindível. Procurei “árvores classificadas” e mais surpreendido fiquei.
O resultado exigiu uma pequena reflexão. Concluí em duas penadas que realmente este governo que temos não teve a mínima hipótese. O primeiro ministro é fraco, fraquíssimo — mas, a verdade é que não me lembro de ver, ouvir ou ler nada de positivo. Nadinha. Isso não é possível. Até o mais incompetente dos broncos, por uma vez faz algo de positivo, nem que seja por sorte. Não me interessa a lógica partidária, pelo contrário. Não sei quem foi o autor da ideia do Portal do Cidadão (e do Compras.gov.pt, outro excelente site e conceito), nem quem a implementou. Não sei se veio de trás e estes só cortaram a fita. Está bem feito e é bom para os cidadãos, isso devia bastar. Nunca é suficiente, na lógica política. Esta democracia que temos é uma partidocracia muito fraca, na melhor das hipóteses. É um palco de maus actores, de um lado só a dizer bem, mesmo do que está mal; do outro só a dizer mal, mesmo do que está bem. Não entendo.
Aliás é um assunto dispensável, mais ainda, num post Positivo.

Na fotografia, o Lameiro Pequeno. Verde, apesar da seca.

Uma resposta para“Positivo”

  1. Nuno Ferreira

    Quanto ao compras.gov.pt não me posso pronunciar, mas quanto ao portal do cidadão posso garantir que é algo que já vem detrás, embora não tenha a certeza se ainda do governo de Guterres ou já com Durão Barroso.

    Mas concordo, seja quem foi que teve a ideia, ou porquê, funciona e é eminentemente útil e prático, e só por isto justifica inteiramente a sua existência.

  2. armando

    Tens toda a razão. Partilho contigo, a 100%, estas tuas reflexões. Este primeiro ministro foi é uma nódoa mas teve excelentes ministros e teve a coragem de mexer em muitas “vacas sagradas”. Sobre os jornalistas, lê o post no meu blog com o título “Bárbaros”.

    Um abraço.

  3. jrf

    Já li o texto “Os Bárbaros” e comento por aqui. No essencial concordo e quem já esteve envolvido em algo que foi notícia, ou pelo menos saiba dos famosos “factos” em primeira mão, só pode ficar escandalizado com o que se diz e escreve.
    Por exemplo, quando eu era coordenador do Salão de Banda Desenhada do Porto, desesperava (literalmente) com o que lia nos jornais — e pelo menos um, a soldo do Salão da Amadora (ninguém até hoje me convenceu do contrário), escrevia maldosamente. Denegria, porque podia. Impunidade é o nome do meio dos jornalistas.
    Se diziamos “este ano temos menos visitantes devido ao temporal”, era publicado como algo do género — “salão às moscas, organização pondera a continuidade”. Se custa a acreditar, é porque nunca viveram nada por dentro com cobertura jornalística.
    Também há a questão factual pura e simples, que é uma desgraça — nota-se às léguas quando dominamos um assunto, o que dá para desconfiar de todos os outros. Mesmo o básico, passa ao lado. Num artigo sobre a nossa livraria, enganam-se na morada, ou no nome, no site… É o mínimo dos mínimos.
    Não concordo com a exclusividade portuguesa neste particular. O resto é tudo igual. Espanha, Itália, França, Inglaterra… com os seus famosos tablóides das parangonas e notícias fabricadas.

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