A segunda dose


Quando andei às voltas com as caixas dos passadores, não tive tempo de colher fruta nenhuma. Na Quinta passada, quando lá cheguei, verifiquei imediatamente que as cerejas das três melhores árvores já estavam arruinadas. Bastante desanimador. A cereja é um fruto ingrato, mas desanimador de qualquer modo.

Verificar que ia andar sozinho, também não foi muito animador. Fui almoçar com o meu pai que apareceu lá com dois amigos. Depois fomos dar uma volta pelo terreno. O meu pai ainda vai andando, mas o Sr. Freitas e Sr. Aristides nem dar a volta conseguiram. É a dureza, o sobe e desce não é para certas idades citadinas. Estavam 32 graus.
Apanhei uns 7kg de cerejas para eles. Das cerejeiras mais altas não consigo, porque me dou mal com as alturas. O dia passou e mais uma vez, fiquei com mais stress do que o que já levava daqui. Nem a pagar se arranja gente para trabalhar e há tarefas que em definitivo é muito difícil para mim fazer — apanhar frutas nas alturas é uma delas. O meliante do Cláudio apareceu era quase noite, cravei-o logo para apanhar laranjas.
Na sexta, decidi que ia acabar de ligar as caixas sozinho, o máximo que podia acontecer era não conseguir — desta vez o Cláudio ia ajudar o Sr. Américo numa vessada no campo lá pegado. Pelo menos ia trabalhar, nunca pouco com o Sr. Américo.
Primeiro cavei umas batatas fantásticas, liquidei uns escaravelhos e cortei couves (praticamente as últimas). Revirei umas pilhas de composto, porque nas pilhas do Sargaçal cresce toda a espécie de flora, desde fetos a batatas, passando por hortelã e ervas de todo o tipo — e silvas. Que potência.
Lá fui eu para as caixas. Liga daqui, liga dali. Cava acolá. A coisa ia indo no meu vagar. Cheguei a um ponto resolvi ir chamar o Sr. Américo só para aprovar antes de cobrir tudo com as toneladas de terra que ainda estavam no caminho.
Quando cheguei ao campo, fiquei admirado com a quantidade de povo. Nove pessoas, a espalhar estrume de vaca e em grande actividade. Estavam dois casais de velhotes e uma criança, mas mesmo assim é uma quantidade de energia inacreditável para um campo que não deve ter mais de 5000m2. Tudo bem que só o Cláudio andava ali a ganhar, mas mesmo assim, parece-me demais. Deve haver outro modo — a palavra “permacultura” vem-me à mente.
Aquilo estava tudo correcto, demorei bastante tempo a nivelar as caixas e comecei a cobrir tudo com terra. O tempo foi passando, a terra nunca mais acabava… Eram quase 19h30 e apareceu o Sr. Zé — tinha-se zangado na vessada porque o filho do Sr. Américo não quis chamar as vacas para lavrarem com ele; queria com o pai. Foi o suficiente.
Já que ali estava, resolveu dar-me uma ajuda e cavou uma vala para o tubo de escoamento. Não foi mau. Combinei com ele trabalhar na próxima Quinta, mas é outro que não quer andar sozinho, tenho de chamar também o Cláudio, o que nesta fase já dispensava. Mas, este não quer andar sozinho por outros motivos, na minha opinião. Eu acho que ele tem medo de fazer asneiras e prefere que ande o patrão, como é altamente surdo e meio mudo, também eu receio não me fazer explicar.
Acabei o trabalho — depois tiro fotos. Já eram 21h15, via-se bastante mal. Aquilo aumentou bastante a minha auto-estima campestre, mas estes dois dias foram inevitavelmente muito desanimadores.
Saí já de noite, nem sinal do Cláudio nem do Sr. Américo (que à partida passariam por lá). Posteriormente o Cláudio disse-me que ficaram no campo os dois até às 22h30… portanto, desde as 7h30… dá 15 horas de trabalho físico inacreditável. Só lhe faz bem e conhecendo o Sr. Américo, nem para respirar devem ter parado.

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