Fruta normalizada


Este ano, devido à falta de água, muita fruta não vai atingir o calibre da normalização e por esse motivo não poderá chegar ao mercado. Vi uma reportagem no telejornal da SIC, onde um produtor de Pêra Rocha, perguntava porquê, mostrando uma pêra com ar saboroso, mas demasiado pequena.

Não sendo a natureza uma fábrica e as plantas máquinas calibradas, com elaborados moldes para produzir produtos todos do mesmo tamanho, não entendo o conceito da normalização.
Uma árvore produz fruta de todos os formatos e tamanhos. Pêras perfeitas, outras menos perfeitas, umas maiores, outras menores. Há quem diga inclusivamente, que a fruta pequena é a mais saborosa. Nas castanhas e nos morangos, isso só é verdade. Felizmente sempre comi alguns produtos produzidos directamente do quintal e sei que eles chegam de todos os tamanhos e feitios. Nestes dois anos, não só comemos em casa bastantes legumes e fruta do Sargaçal, como são todos sem químicos. Tudo nos sabe melhor, não por serem calibrados, mas porque são colhidos e consumidos quase de imediato, nas épocas próprias, quando as plantas podem dar o seu melhor.
A UE devia andar mais preocupada era com a utilização sem rei nem roque de fertilizantes sintéticos, herbicidas e pesticidas; com a distância do produtor ao consumidor e em reduzir essa distância ao mínimo; em deixar de subsidiar a agro-química; em apoiar a agricultura biológica, a formação e transição dos agricultores. Se a fruta é toda do mesmo tamanho e se é muito brilhante lá com aquelas ceras com que a esfregam, isso nada importa. Criam-se estas ilusões e depois, quem nunca viu uma pêra a crescer, julga que elas nascem todas do mesmo tamanho, sem bicho e a brilhar.
Na mesma reportagem, disse-se que o ano passado, o produtor vendeu o quilo da Pêra Rocha a 10 cêntimos. Ao consumidor, chegou a mais de um euro. Para onde foi o dinheiro? Mais valias de 10/11 vezes, estando a maior parte dos agricultores na miséria?
É necessário criar um circuito alternativo a este estado de coisas urgentemente. Para no produtor a fruta custar 10 cêntimos, o máximo (dos máximos) aceitável, seriam 50 cêntimos para o consumidor final. O mesmo que dizer, pagar no mínimo 20/25 cêntimos por quilo ao produtor, já que se está a vender por mais de um euro.
Para esses senhores das grandes superfícies, a minha mensagem é extremamente simples: Ide trabalhar!

Deixe um comentário

Mantenha-se no tópico, seja simpático e escreva em português correcto. É permitido algum HTML básico. O seu e-mail não será publicado.

Subscreva este feed de comentários via RSS

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.