A vacina

No tempo em que os animais falavam, mas se calhar ainda não escreviam, fomos contratados para fazer um cartaz para “O Dia do Ambiente” da Câmara do Porto. Se tínhamos acabado o curso, foi mesmo por essa altura. Eu não tinha a consciência ambiental que tenho hoje, mas para lá caminhava. Investiguei a possibilidade de se usar papel reciclado. Só havia uma refundida empresa na Rua de Cedofeita, que comercializava papeis da fábrica Fontes (propriedade de um suiço — mais uma constatação).

Apresentei a ideia a um ser que se nutria lá pelo Pelouro do Ambiente e do qual não me lembro do nome (mesmo). Diz-me o asno, que queria papel brilhante. Não havia papel brilhante reciclado. Muito simples, diz-me ele, coloca-se no papel couché o símbolo (da reciclagem) e escreve-se em letra que se veja, “papel 100% reciclado”. Não pude deixar de também reparar, na altura, que as relações entre o dito personagem, a gráfica e a fotomecânica, tresandavam.
Em casa, houve uma discussão violenta com os meus pais, pois a minha mãe trabalhava na câmara e eu não podia de forma alguma prejudicá-la. Despertei muito tarde para a canalhice da vida adulta e levei aqui a minha primeira vacina profissional. Perguntamo-nos se isto ia ser assim. E foi algumas vezes assim. Outras pior. Agora já não.
Ainda hoje, eu e o gerente da tal empresa, que conheci há uns 12 anos, somos bons amigos. Neste Mundo nunca é tudo bom, mas também nunca é tudo mau.

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