O exercício do inútil
Este poste e os seguintes tiveram como semente o repto lançado pelo João Miranda do Blasfémias a 30 de Setembro chamado “A difícil arte de modelização“. Quando me chamaram a atenção para o dito já 12 horas se tinham passado. Resolvi portanto ser mais completa na resposta (o assunto é vasto e merece mais que recadinhos), mas devido à minha falta de tempo e, nestes últimos dois dias, à incapacidade de escrever um bom texto, o adiamento tornou-se extenso. Para o JM será fácil misturar num postezito conceitos diversos e ficar satisfeito com o resultado. Coloca mais umas figuras coloridas e atraentes e sente que a sua setinha envenenada está pronta a disparar. Para quem sabe um pouco mais do que se fala, explicar concisa e correctamente e sem maçar sobre algo que daria para muito tempo de postes… Um pesadelo.
O nome que dou ao poste surge pela última frase que vários colegas me disseram quando lhes contei esta minha saga de clarificar aspectos da ciência envolvida nas alterações climáticas: “Não percas tempo, Gabriela. Todos têm a sua opinião e ninguém ouve mais do que pensa que sabe.” Isso e as minhas incursões ao Blasfémias e aos postes seguintes do JM. Senti-me cansada e triste.
Ainda assim, acredito que não posso desistir. Escrevo o que sei. Façam com isso o que quiserem. A liberdade de expressão é também a liberdade de acreditar em quem se quer. Que as pessoas fazem as opções erradas sem ser por limitações de informação é algo que está por aí. Os jornais com maior tiragem são os sensacionalistas. Enfim.
O JM começa pela modelação regional; coloca uma imagem sobre o sistema climático que é simulado utilizando uma panóplia de diferentes modelos; refere modelação molecular, que no clima é um absurdo [era como se eu precisasse de saber o sequenciamento do DNA do JM para aferir se ele é teimoso]; passa pela sensitividade dos modelos; pela modelação de alterações climáticas abruptas e termina na incerteza das simulações utilizadas pelo IPCC. Eu fico sem fôlego. Já encontrei este fenómeno várias vezes: o que menos sabe é o mais audaz. O que mais sabe é o mais humilde no seu conhecimento. Interessante.
Uma resposta para“O exercício do inútil”
Caríssima Gabriela
Obrigado por não desistir e por nos continuar a brindar com os seus brilhantes e elucidativos textos, facto pelo qual felicito também o José Rui e este fantástico “Sargaçal”. É com perseverança, inteligência e humildade que se alcançam os melhores objectivos. Obrigado e bem haja.
Manuel