O Aquecimento Global é de origem antropogénica?

O consenso científico é sim. O Aquecimento Global registado no último século foi provocado por actividades humanas.

O Clima terrestre está dependente de 1) quanta energia recebe do Sol; 2) quanta energia é reflectida e absorvida; 3) como a energia é perdida pelo planeta.

Algo nestes 3 pontos mudou. O quê?

O Sol tem um ciclo de cerca de 11 anos na quantidade de energia que emite. Conhece-se a variabilidade solar desde vários milhares de anos através de 3 métodos: a) desde 1979 utilizando satélites; b) desde o século XVI utilizando registos do número de manchas negras que o Sol apresenta, o que está relacionado com a quantidade de energia libertada; c) utilizando isótopos químicos, cuja concentração em rochas e fósseis é influenciado pela quantidade de partículas energéticas que o Sol emite.

As partículas na atmosfera reflectem a energia solar. São produzidas na combustão dos combustíveis fósseis, por vulcões activos, pelos ventos (uma imagem de satélite muito bela é a que mostra areias do Sahara a serem transportadas para o Atlântico).

A concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera define a quantidade de energia absorvida. Os mais importantes são o dióxido de carbono, o vapor de água, o metano e os clorofluorcarbonetos. O efeito de estufa existe desde a infância da Terra e permitiu a existência de vida biológica. Caso contrário, a Terra seria um mundo gelado, uma irmã gémea de Marte. Os clorofuorcarbonetos são gases antropogénicos e em parte responsáveis pelo Buraco de Ozono. A sua produção foi banida através do Protocolo de Montreal. A sua concentração já começou a diminuir na atmosfera e espera-se que a camada de ozono esteja reposta aos níveis originais a meados deste século. Os restantes gases que eu enunciei já existiam antes da humanidade. Os seus níveis não foram constantes, subiram, desceram e nesses ciclos afectaram o clima existente na Terra. As concentrações dependeram da actividade biológica, da actividade vulcânica, de equilíbrios químicos no oceano, da própria temperatura em feedbacks positivos ou negativos.

A radiação de um objecto depende da sua temperatura. A Terra irradia a energia que recebe do Sol e ajusta a sua temperatura de forma a irradiar a quantidade recebida.

O estudo da actividade solar antes da revolução industrial (RI) permitiu explicações interessantes, como a de que o ‘Little Ice Age’, período de 1645 a 1715, em que as temperaturas medidas na Europa foram comparativamente baixas, foi provocado por um período de menor actividade solar. O ano sem Verão de 1816 foi provocado pela violenta explosão do vulcão Tambora, na ilha de Lumbawa, em Java. As partículas expelidas espalharam-se pela atmosfera terrestre e reflectiram a energia solar, mudando o clima globalmente durante alguns anos. [Em termos artísticos Turner produziu os seus melhores quadros, com céus de tirar a respiração; em Genebra, o ambiente soturno inspirou Mary Shelly a escrever “Frankenstein”. Byron também por lá andava deprimido e a declamar poemas tristes.]

Quando se estuda o pós-RI e se tem em conta só a actividade solar e vulcânica não se consegue explicar o aquecimento verificado. Só com estes até se deveria ter registado um ligeiro arrefecimento. A explicação só é encontrada se se tiver em conta os níveis de gases de estufa e de partículas na atmosfera e que são derivados da actividade humana.

Uma resposta para“O Aquecimento Global é de origem antropogénica?”

  1. jrf

    Ah, tinha-te dito que tinha uma dúvida, mas não é exactamente dúvida sobre o aquecimento global…
    O Protocolo de Montreal, sem dúvida que foi um passo importante, mas o que li na altura dizia que a ascensão dos clorofuorcarbonetos demora décadas e que o pico da sua produção/utilização ainda não se refletiu no tamanho do buraco de ozono.
    Por outro lado, também li algures, que se continua a exportar alegremente todo o tipo de produtos (deste teor e outros) banidos no ocidente, para países do Terceiro Mundo onde provavelmente não existe sequer legislação sobre o assunto e onde o Protocolo de Montreal passou ao lado.
    Eu acho que com ou sem Protocolo de Quioto, irá acontecer o mesmo com o CO2 e metano… Mesmo que no dia 1 de Janeiro de 2006 o Ocidente parasse de poluir, todo o tipo de tecnologia obsoleta existente iria parar ao Terceiro Mundo. O que já existe hoje já é suficiente para manter o processo de aquecimento terreste em movimento. Continuando o Ocidente no “business as usual” e potências emergentes a passar ao “business as usual”, diria que só um cataclismo de proporções bíblicas poderia mudar o destino.
    Já aceitei isso muito serenamente.

  2. Gabriela

    Oi JRF!

    Fim de ano, balanço, ando arredada de fazer umas cavadelas na tua horta.

    Eu sei que no Protocolo de Montreal foi estipulada uma redução gradual e finalmente uma eliminação dos CFCs e dos Halons, que iria afectar primeiro os países mais desenvolvidos e depois os subdesenvolvidos.

    É muito provável que nos entretantos as empresas tenham jogado com os tempos e aproveitado para vender aos segundos o que já não podiam nos primeiros e agora, devido a regras mais facilmente quebráveis, continuem a vender aos países menos desenvolvidos produtos já banidos.

    Li há uns tempos (penso que no Público) que em Portugal não se faz recolha de velhos frigoríficos, pelo que estes acabam por emitir os gases para a atmosfera. Isto não é só problema do Estado, é problema cívico das pessoas que deviam tomar também a sua parte de responsabilidade. É incrível o entulho e os electrodomésticos nas encostas das matas! Eu fico tão curiosa de conhecer quem é que faz isto. Felizmente Portugal é pequeno, porque se o mundo fosse à imagem lusitana, ia ser um sítio muito feio.

    Relativamente aos gases com efeito adverso sobre o ozono estratosférico tenho boas notícias. Já foi possível medir o reverter da situação. Os gases em questão atingiram um pico a 1992-1994 na baixa atmosfera (a troposfera) e agora diminuem lentamente. Na estratosfera (onde estes gases são degradados e libertam os cloros e bromos que destroem o ozono), a abundância de cloro estabilizou e espera-se que comece a diminuir, o bromo ainda está a aumentar.

    Aos níveis actuais de redução dos gases nocivos espera-se que a camada de ozono comece a dar sinais de recuperação na próxima década e que na segunda metade deste século se recomponha no seu estado original.

    O Protocolo de Montreal é um sucesso. Existe também um painel científico que todos os 3/4 anos publica um relatório de avaliação. O último foi em 2002 (“Scientific Assessment of Ozone Depletion: 2002). Um dos organismos envolvidos é a Organização Mundial de Meteorologia (WMO). Eles devem ter informação na página electrónica.

    O aquecimento global é mais complicado, pois toda a economia está baseada nos combustíveis fósseis. Não é só um segmentozinho…

    Eu também vejo o aquecimento global de uma forma serena. Para mim o mundo vai mudar. Espero que no entretanto seja possível as sociedades prepararem-se para essa mudança, de forma a minimizar as perdas de vidas. Ecologicamente, ou os biólogos vão andar a carregar ao colo as espécies biológicas ou os sobreviventes serão os oportunistas como os ratos e as baratas. O resto vai estar em zoo aclimatado. Só que daqui a 100, 200 anos as pessoas continuarão a ser felizes, tal como nós somos felizes apesar de nunca termos visto a floresta que cobria a Península Ibérica na altura em que o Viriato andava a lutar os romanos.

    Somos uma espécie muito adaptável.

    Na bibliografia da Terra assinala-se outro marco: fim do Holoceno – extinção biológica em massa. Causa: Homo sapiens sapiens. Se o homem estará por cá para ver os novos tempos é que não sei. Mas estou confiante que a Terra irá ver novos dias, novos mundos. Talvez exista mesmo Deus e ele resolva instalar de novo os dinossauros. Ou então seja o próprio Homo sapiens sapiens que utilizando a engenharia genética começa a criar uma nova biologia. Com a tendência que temos pra fazer asneira fico feliz por não estar cá pra ver os resultados e as discussões.

    Já estou a divagar.

    Bjs

  3. jrf

    Só que daqui a 100, 200 anos as pessoas continuarão a ser felizes, tal como nós somos felizes apesar de nunca termos visto a floresta que cobria a Península Ibérica na altura em que o Viriato andava a lutar os romanos.

    Somos?
    Só posso falar por mim. Sou, pelos padrões sociais, em termos absolutos e comparativos.
    Não é só o aquecimento global. Isso é uma parte, que ganhou honras de primeira página. O resto não é pouco. Já não deve existir um único ambientalista à face da Terra que acredite que algo vai mudar para melhor. Os que iniciaram os grande movimentos, ainda na década de 60, não viram mais nada senão degradação.
    Quando me ponho a pensar nestas coisas, sou um ser profundamente infeliz. E olha-se em volta e o que se vê? Vaidade, soberba e indiferença.

  4. Zp

    Pessoal, não é Quioto e sim KYOTO, que deriva da ligaçao entre os vocabulos KYO e TO. Que tipo de “aportuguesamento” louco da lingua japonesa é esse?!

  5. José Rui Fernandes

    Que tipo de “aportuguesamento” louco da lingua japonesa é esse?!

    Acho que se chama língua portuguesa.

    Não invalida os vocábulos Quio e To. Kyoto também está certo, mas porque haveríamos de escrever à inglesa? Em japonês é 京都市; Kyōto-shi.

  6. raquel

    que tipo de lingua e esta cada vez estamos pior…..
    so daqui a 200 ou 1oo anos e que as pessoas tem felicidade…

  7. jkl

    o aquecimento global e cada vez mais um problema para a humanidade e temos de combater contra isso e o efeito estufa tambem pode nao ter muito a haver com isto que esta publicado mas e para alertar.ok

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