Gestão de espécies invasoras

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Trevo-azedo, <em>Oxalis pes-caprae</em> L. (Oxalidaceae)</p>
<p><a href=Num texto anterior falámos de espécies invasoras, o que são e que impactos podem ter. Neste vamos abordar a sua gestão.

Primeiro que tudo a prevenção
A solução acertada é começar pela prevenção! Nem todas as espécies exóticas2 introduzidas se tornam invasoras3, mas todas devem ser tratadas como tal e só após provada a sua segurança deve ser autorizada a sua introdução. Existe já legislação em Portugal (decreto-lei 565/99) que regula a introdução na natureza de espécies não indígenas1. Este decreto lista as espécies exóticas já introduzidas e proíbe a introdução de outras, a menos que se realize um estudo de impacto e que se prove que a espécie é inofensiva. Este decreto proíbe também a detenção, a criação, o cultivo e a comercialização das espécies consideradas invasoras.
Uma das grandes dificuldades associada a este problema é que cada um de nós pode contribuir para ele. A educação e informação do público tem um papel essencial na prevenção: muitos de nós nunca ouviu falar em espécies invasoras e não faz a mínima ideia do potencial problema que está a provocar quando introduz uma espécie exótica. Por exemplo, quando falamos de plantas, o conceito de que nem tudo o que é verde é bom, ou que uma planta pode provocar degradação ecológica, é ainda muito difícil de interiorizar para a maioria das pessoas. É preciso investir na divulgação! Todos precisamos saber quais são estas espécies! Com este intuito, a equipa do projecto Invader está a investir na elaboração de fichas sobre as principais espécies de plantas invasoras, e a primeira versão, destinada a um publico técnico, está já disponível na internet e brevemente em papel.

Depois, a erradicação…
Para o caso das espécies com elevado potencial invasor que estejam introduzidas, a solução passa pela monitorização do território, especialmente nas áreas com interesse para a conservação da natureza, de forma a detectar novas espécies “escapadas” muito pouco tempo após a sua introdução. Deste modo será possível, idealmente, detectar invasoras quando apresentam distribuições muito limitadas e quando ainda é possível, com custos relativamente baixos, erradicá-las. A opção mais aconselhada é eliminar as espécies que são potenciais invasoras antes que se tornem um problema de grandes dimensões! A erradicação é então possível, muito mais fácil e menos dispendiosa.

Por fim, o controlo…
Nas situações em que as espécies já se encontram muito difundidas/espalhadas a resolução do problema passa pelo estabelecimento de prioridades (quais as espécies e áreas prioritárias) para posterior aplicação de metodologias de controlo. Essas metodologias podem passar por controlo físico, químico, biológico, fogo controlado ou, normalmente mais eficaz, uma combinação de várias metodologias. Frequentemente, a aplicação de metodologias de controlo apresenta muitas dificuldades, custos e por vezes impossibilidades.

O papel de cada um…
O sucesso da luta contra as espécies invasoras passa por nos sentirmos responsáveis, cada um de nós, por parte da resolução deste problema! E há várias formas de contribuirmos: em primeiro lugar, não contribuir para a introdução de novas espécies; por mais inofensivas que nos possam parecer! Depois, informarmo-nos sobre as espécies que já são consideradas invasoras e nunca as adquirir. Se as tivermos em casa, eliminá-las. Muita informação está acessível na Internet. Além disto, podemos participar em acções de controlo de espécies invasoras. Já vão aparecendo iniciativas que associam a participação em trabalhos de controlo à formação ambiental e nos permitem contribuir activamente para a resolução do problema. Um exemplo pode ser visto aqui.
As invasões biológicas resultam quase sempre, directa ou indirectamente, de actividades económicas. Isso faz com que o controlo das espécies invasoras seja um problema basicamente humano, e não apenas biológico. Nós movemos espécies para novos locais, espalhamo-las por todo o lado por razões que vão do essencial ao banal. São os nossos comportamentos, as nossas necessidades, os nossos quereres e valores que potenciam a maioria dos problemas com espécies invasoras.

Sugestão de leitura muito actual e acessível!
Yvone Baskin. A plague of rats and rubber-vines. Island Press, 2002.

1Nativa = 1indígena = espontâneo = autóctone, espécie que é natural, própria da região ou país em que vive.
2Exótica = introduzida = alóctone, espécie não nativa/indígena da região ou pais onde se encontra, tendo para aí sido levada, frequentemente de forma propositada, pelo Homem. Apesar de algumas destas espécies se tornarem invasoras, muitas delas não representam qualquer problema e são até bastante benéficas.
3Invasora, espécie, frequentemente exótica, que se expande natural e rapidamente (sem a intervenção directa do Homem) em habitats naturais ou semi-naturais, produzindo alterações significativas ao nível da composição, estrutura ou processos dos ecossistemas, chegando inclusivamente a eliminar outras espécies e causar prejuízos
ecológicos e/ou económicos.

Texto de Elizabete e Hélia Marchante
Biólogas (Projecto Invader)

Uma resposta para“Gestão de espécies invasoras”

  1. Marlene

    Primeiro parabéns pelo site. Tomei conhecimento do projecto invader atravéz deste site, e foi com grande espanto que descobri que algumas das plantas que eu tomava por autóctones são na verdade invasoras. Á alguns dias deparei-me com uma rutunda totalmente cor de rosa, não posso afirmar com 100% certeza mas seria chorão da praia. A minha pergunta é como actuar nestas situações? Se é proibida a sua venda como é que elas vão parar as mãos de uma entidade pública e plantadas num local de tanto destaque?

    Marlene

  2. Elizabete Marchante

    De facto, várias espécies invasoras são tão comuns e habituamo-nos a vê-las há tanto tempo que as tomamos por nossas. O chorão-das-praias tem sido, infelizmente, muito utilizado em jardins e até em espaços públicos; tem mesmo sido usado em acções de educação ambiental, já depois do decreto-lei (565/99) que o proíbe estar em vigor. Acontece o mesmo com outras espécies de plantas invasoras.
    Um dos grandes problemas associado às espécies invasoras é precisamente o desconhecimento por parte de público, não só público-geral, mas por vezes até o público-técnico que lida com estas espécies no dia-a-dia; daí estarmos a investir em educação ambiental e sensibilização.
    Quanto à questão que coloca, creio que o que deveria ser feito era avisar a entidade que usou essa espécie que legalmente não a pode utilizar. Creio que legalmente pode-se fazer uma denúncia.
    Ao Serviço da Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR compete “zelar pelo cumprimento das disposições legais e regulamentares referentes à protecção e conservação da natureza e do ambiente, bem como prevenir, reprimir e investigar os respectivos ilícitos” pelo que poderá pedir esclarecimento sobre esta situação… está disponível on-line o “SOS Ambiente” http://www.gnr.pt/portal/internet/sepna/
    Existe ainda a linha SOS Ambiente 808 200 520 para onde poderá ligar a pedir esclarecimento.

  3. Manuel Ribeiro

    Caros amigos, as leis existem e nem sempre são para cumprir, pois eu para conseguir concordar com esta lei das plantas invasoras, teria de a ver primeiro ser alterada, pois invade-se tanta coisa e ninguem nada faz e só se preocupam com as que mal não fazem a ninguem !!!
    Antes de proibir devia-se plantar e depois começar a tirar as ditas invasoras, agora trocar as invasoras por nada, então mais vale deixá-las estar , pois pelo menos temos arvores.
    quanto ao que viu na rotunda deve ser chorina e não o vulgar chorão , o que não é uma especie proibida, mas para exemplo do que se faz ao chorão , basta dar uma volta pelas dunas maritimas e ver o que seria se o chorão não existisse, mais uns milhões de m3 de areia para alguem ganhar uns euros!”!

  4. José Rui Fernandes

    Ora aí está uma perspectiva interessante.
    Nem tudo o que existe é plantado. Aliás o problema das invasoras acaba por ser esse. Retirando espaço de manobra às espécies autóctones. Ou seja e pegando no exemplo das dunas — os chorões, não permitem que as plantas autóctones sobrevivam nas dunas, se reproduzam e também elas as fixem.
    Além disso, não é fazer mal a alguém que está em causa. É o equilíbrio natural, que de resto, existe mais facilmente sem ninguém por perto.

  5. Humberto

    Olá.Gostaria de tirar algumas dúvidas sobre a introdução de espécies não indígenas na Natureza,mas não sei com quem.
    Podem-me ajudar?
    Muito obrigado

  6. Rui Sousa

    É extraordinário a falta de sentido crítico com que se diz que determinada planta é invasora e se começa a falar em controlá-las e arrancá-las apenas porque vêm de outro lado e se reproduzem com facilidade, sem se fazer uma listagem dos prejuízos ou não que podem causar. Dois exemplos: o chorão das praias e o trevo de flor amarela conhecido como azedas. Quanto ao chorão felizmente que ele existe, um bom exemplo são as praias da Costa da Caparica pois onde não há chorão também não existe mais nada, nem sequer as dunas pois sem plantas que as fixem a areia desaparece. Se é para arrancar o chorão então só se em alternativa plantarem lá qualquer coisa (não vejo bem o quê), porque senão a acção é apenas destrutiva, além de que qual o problema de ter uma planta que dá uma flor tão bonita a ornamentar jardins e rotundas? O valor ornamental de uma planta não deve ser levado em consideração? E se já está tão espalhado em Portugal, não é a sua plantação em jardins que fará grande diferença em relação ao perigo de invasão. Quanto às azedas, ocupam a terra de novembro a Março e depois desaparecem, constituindo uma reserva alimentar para abelhas e borboletas nos meses de inverno em que há tão poucas flores que lhes possam servir de alimento, e a verdade é que apesar de classificada como invasora, o que eu vejo é que o trevo co-habita alegremente com o funcho, as urtigas, a borragem, o aniz, as malvas, as papoilas, etc, plantas autoctones que não só não desaparecem como até prosperam juntamente com os trevos.
    Portanto. parece-me que em vez de arrancar as invasoras, devia pensar era em plantar-se plantas autóctones, isso sim seria construtivo, em vez de, como quase sempre, serem precisamente as associações de protecção à natureza aqueles que mais desrespeitam a vida: arrancar plantas, esterilizar gatos, matar os pombos, isso não é amar a natureza é destrui-la.

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