Ida ao Prado
Sábado, rumei para o Bestança uma vez mais, desta vez de boleia, sempre foi menos um jipe na estrada. Chegamos ao Largo da Nogueira pontualmente às 9h30, já lá andava o pessoal, com dois tractores, equipamento e os respectivos comes e bebes. Íamos para o Prado montar uma tenda, no terreno da Associação para a Defesa do Vale do Bestança. Eu não ia com eles tão cedo. Fiquei à espera do senhor Henrique para combinar, bem combinado, o início dos trabalhos nos tanques. Posteriormente regar, o que se prolongou por toda a manhã.
Andei quilómetros no terreno, na tentativa sempre fútil de ir a todas. Mas é impossível. Mesmo assim, como o Tanque 2 estava bem cheio, reguei bastante. O Cláudio iria ao fim da tarde continuar. Entretanto, o calor começou a ser pujante, era hora de partir para o Prado.
Saí do Lameiro da Gracia devia ser meio-dia. No Vale do Bestança, sou a pessoa mais optimista do Mundo. Pensei eu, em meia-hora estou lá, mesmo a tempo das feveras grelhadas. Carregado de mochila, saca da máquina fotográfica e tripé, a coisa tornou-se mais fácil de dizer que fazer. Juro que Valverde sempre me pareceu mais perto. Na fresca da noite é num instantinho. O facto é que nunca mais chegava. O tripé começou a pesar toneladas.
Encontrei o Zézinho (senhor Resende). Deu para descansar dois minutos. Prometeu que me levava umas laranjas no Sábado seguinte. Este senhor Zézinho é demais.
Lá cheguei a Valverde e toca a tomar o caminho pelo monte, sempre a descer até ao Bestança. Sempre a andar para a frente, mas o tripé puxava-me para trás. O que é certo é que o famoso Prado nunca mais chegava. O que valia era a paisagem. Mais uma vez, iria chegar em último.
Passado aquilo que me pareceu uma eternidade, o Prado já me parecia uma miragem distante. Os tractores, o equipamento, os comes e bebes, tudo não passaria de uma partida que me pregaram. Provavelmente para os apanhados. Devia estar perto da fronteira com Espanha… A fome, a sede e o calor faziam-me delirar, só podia. O Prado porventura nunca mais chegava?
Mais uns cinco minutos, finalmente o Bestança, o pessoal não devia andar longe… E lá estavam, a preparar-se para uma espécie de sesta. Já tinham comido e bebido, claro. Já passava da uma e vinte.
Estava tão rotinho que bebi um litro de Compal, comi um pão com uma fevera e foi tudo. Este ano não sei porquê ando particularmente alérgico (gramíneas) e isso não me ajuda propriamente a respirar nestes locais que eu gosto. O que é facto é que fico um pouco prostrado e a energia vai-se toda.
O terreno fica exactamente na foz do Ribeiro de Barrondes com o Rio Bestança. Vai ser aqui que os intrépidos descedores do Bestança (ler também as notícias) vão acampar no próximo fim-de-semana, a meio da jornada.
Ainda faltava montar o toldo superior da tenda, as espias e uns detalhes. Depois de um merecido descanço sob um Sol rigoroso, lá recomeçaram os trabalhos. Eu, com a minha falta de energia atroz, não ajudei praticamente nada. Pelo menos fui documentando o processo.
A tenda é do senhor Franklim, na fotografia também a dar uma ajuda. É o meu vizinho no Sargaçal e já me disse que quando quisesse a tenda era só dizer (e o tractor, e o gerador, e…). Vou pensar seriamente no assunto. No Verão era capaz de dar em campista nas calmas.
Bom, a tenda lá ficou pronta, alguns foram tomar banho ao Bestança e grelhou-se mais um entrecosto, para dar energia para a subida de volta até Valverde. Na fotografia só falta o senhor Segadães, que entretando tinha ido embora.
No regresso, o senhor Alberto conduzia concentradamente o seu pequeno tractor e o senhor Franklim ia atrás. À chegada a Valverde treparam mais uns clientes para o reboque. Apesar de ser a subir, a volta não me custou, não há nada como um fim de tarde agradavelmente fresquinho (e a mochila foi no tractor).
Mas é um facto que o local não é acessível a toda a gente. Todos vamos para uma idade em que será difícil a deslocação neste tipo de jornadas. Temos que viver e apreciar a vida no nosso tempo, posteriormente dando lugar aos mais novos, com a consciência que se preservaram locais assim, que são um legado para o futuro.
O Vale do Bestança está bem servido de estradas e caminhos, assim se melhorem, limpem e conservem. Mais estradas, poderão servir uns quantos interesses particulares, mas neste momento, já não servem o vale.
Cheguei a casa a tempo de ver um bocadito do jogo. Isto do futebol está longe de me tirar o sono, não trocava uma tarde no Prado, por duas horas no sofá a ver futebol. Nem que fosse a final (que de resto nem vi).
Uma resposta para“Ida ao Prado”
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O prado até que tem uma vista bonita só é pena o acesso não ser dos melhores ,principalmente para pessoas um pouco mais idosas, faz-me lembrar o acesso de vila de muros á ponte de covelas que quem tiver um pouco dificuldade de mobilidade torna-se penoso embora depois de lá chegar dar gosto observar a paisagem.
Caro Fernando, é como lhe digo, acharia bem melhorar os caminhos, calcetando-os por exemplo, mantendo-os limpos — parece impossível mas em três anos já vi desaparecer vários caminhos…
Mas sou totalmente contra dar acesso a veículos, designadamente jipes, motoquatro e afins. Aliás sou a favor é de vedar o seu acesso.
Quando eu for mais idoso, concerteza que não poderei ir ao Prado e porventura ao Bestança a não ser em Pias, paciência. O importante é que os vindouros lá possam ir, como eu pude, desfrutar das suas belezas.
O maior problema é os caminhos pedonais de dia para dia serem cada vez pior pois em passeio ,com um caminho pedonal em condições até uma pessoa idosa que tenha um minimo de mobilidade poderia fazer esses percursos , agora se para um jovem já provoca dificuldades para uma geração mais madura é impossível ,por outro lado vedar o acesso a esses locais pode ser a sua destruição basta pensar no caminho que á uns anos fizeram do cemiterio de vila de muros para as lameiras no estado actual em que se encontra .
Note que eu disse vedar acesso, mas não às pessoas, mas a certos veículos motorizados.
Sem dúvida que os caminhos do Bestança bem arranjados e empedrados, seria outra coisa. É um local com muito potencial. É necessário também investir — mas no país o que se assiste é a um cada vez maior desinvestimento no interior, mesmo para fins turísticos.