O problema da ecologia
“(…) ninguém sacrifica o presente pelo futuro”, foi assim que o Dr. Pacheco Pereira sintetizou um dos grandes problemas das democracias ocidentais, durante a Conferência do Equinócio, que decorreu no IPATIMUP no passado dia 9 de Outubro.
“É o problema da ecologia, a crítica ecológica no fundo diz-nos, vocês hoje estão a gastar o que vos vai faltar no futuro. Alguma vez alguém vai deixar de ter este microfone a funcionar, ter aquecimento central, ter esta mesa sólida, sabendo que a energia, e os recursos e os materiais para utilizar isto tudo inevitavelmente vão faltar às gerações seguintes? Não, nenhum de nós faz isso”.
Concordo plenamente e acrescentava ainda duas ou três coisas.
Eu como um dos últimos ingénuos, esperei durante muito tempo que entre os privados com poder e o(s) estado(s), pessoas esclarecidas sacrificassem algum do presente pelo futuro, não todo, mas pequenas coisas. Ora o que se observa não é nada disso. São os menos poderosos, que de uma forma entre o desesperado e o patético, tentam preservar, salvar uns retalhos aqui e ali.
Independentemente, nota-se alguma consciência ecológica a entrar finalmente no mainstream, mas preocupa-me a forma e o conteúdo.
Por exemplo a reciclagem. Entre o aterro e a reciclagem, é preferível a reciclagem. Mas ninguém fala em reduzir, em reparar, em reutilizar. O caso do vidro é paradigmático. Há um incentivo para destruir produtos em perfeito estado em nome do aumento de quotas de reciclagem, quando a energia gasta no processo, toda contabilizada, praticamente torna a questão ecologicamente irrelevante.
A proliferação da palavra verde, está a permitir essencialmente muito “greenwash” e o modo como todo o problema da sustentabilidade está a ser apresentado ao público é sempre com o intuito de vender mais. Um site como o TreeHugger, que até gosto bastante, gasta grande parte do seu espaço a promover produtos “verdes” independentemente de serem totalmente supérfulos. A lógica de um “roadster” eléctrico ou de um Porsche Cayenne híbrido, não vai além de serem objectos a juntar à colecção de carros de actores de hollywood que por acaso só se fazem transportar de avião ou helicóptero. Há um “greenwash” das próprias atitudes do dia a dia, as pessoas andam-se a enganar.
Mesmo ao nível associativo e institucional, a ecologia existe essencialmente enquanto actividade lúdica. São uma caminhadas, uns convívios, uns comes e bebes… Na prática têm muito pouco poder e exercem ainda menos o pouco poder que têm. Não desvalorizo de forma alguma o contacto com a natureza e os aspectos positivos das actividades sociais por parte das associações e há excepções, mas é muito preocupante.
A ecologia, nos dias de hoje, esgota-se praticamente em más notícias. Diárias. Tal como ninguém sacrifica o presente pelo futuro, ninguém sacrifica uma ideia de felicidade e expectativas irracionais por promessas de dificuldades. Mas alguém vai ter que começar a pagar a factura, aproximam-se tempos muitos complicados. Isso para mim, mais que óbvio, entra pelos olhos dentro.
Ao contrário do Dr. Pacheco Pereira, o meu pessimismo não é instrumental.
Uma resposta para“O problema da ecologia”
Tento às vezes encontrar ideias simples.
O que pudemos fazer hoje para melhorar o futuro?
Diminuir o consumo.