A caminhada dos abismos
A caminhada pela linha férrea entre Fregeneda (Espanha) e Barca D’Alva (Portugal) é um hino à contemplação da natureza.
O início do percurso tem lugar na velha estação de Fregeneda e logo após aparece o primeiro túnel com mais de 1500m de extensão. Outros 19 hão-de vir, mas este é o mais espectacular. Após a saída do túnel deparamo-nos com um cenário fantástico de imensidão e horizonte natural com a ribeira de Morgaez do nosso lado esquerdo. O silêncio da paisagem só é cortado pelo restolho da caminhada pelo balastro da linha. O rio Águeda aparece depois de vencido o túnel que alberga uma grande colónia de morcegos. Surge então a ponte Morgado e com ela as primeiras vertigens para quem as não consegue dominar. Numa extensão de 17Km temos de atravessar 10 pontes usando, em quase todas elas, um passadiço de ferro por vezes seccionado em espaços superiores a meio metro que só uma passada firme logra vencer. Parar a meio das pontes (a mais espetacular é a ponte Pollo Valiente que apresenta curvatura) e olhar as profundezas até ao rio Águeda transmite-nos uma sensação de domínio sobre uma natureza agreste sobrevoada em círculos pelas águias e abutres-do-Egipto que abundam naquelas paragens.
As pontes estão em mau estado devastadas por incêndios. Atravessá-las só para quem não tiver vertigens e só com tempo seco e sem vento. O perigo é latente.
Impõe-se a maior concentração. Abrigos de pastores de uma só porta, redondos e com tecto abobadado encontrá-mo-los ao longo da linha numa manifestação etnográfica interessante. À passagem de um túnel surge uma abertura a meio que nos permite observar a paisagem de um alcantilado sobranceiro ao rio. Impôs-se uma paragem para almoço e confraternização. A progressão pela linha faz-se bem pois que não há vegetação. O cheiro a rosmaninho e à flor da giesta é constante. O zimbro começa a invadir a linha. O património construído está em ruína, mas uma ruína ainda assim bela que evoca o romantismo de outros gloriosos tempos em que o comboio silvava naquelas serranias. Atravessada a ponte de Las Almas está-se em Barca D’Alva. Aí a destruição do património é chocante.
Fim da primeira parte da viagem. Recolhemos à residencial para um merecido banho antes do jantar. Só dois dos participantes puderam sentir a delícia da água quente, os outros bem se lembraram dos tempos da tropa. Ao outro dia, a dona da unidade hoteleira deu-nos um cartão, com requintado design, onde se lia “Bago D’Ouro Hotels”! Encetámos a caminhada de Barca D’Alva ao Pocinho. 26Km. Aqui o Douro é mais manso e a paisagem muito igual. A diversificação da paisagem espanhola é substituída pela constância da paisagem duriense. Ainda assim vale a pena pese embora o mau estado da linha para os percursos pedestres dado que a vegetação, em muitos troços, quase que a encobre e as assapadas são constantes.
Enfim, estas vivências já ninguém no-las tira. Muito melhor que as palavras só as imagens. Só uma recomendação: a quem queira fazer esta caminhada que atente bem no facto de não haver na parte espanhola qualquer hipótese de acesso automóvel à linha. Só tem duas saídas em caso de algo de mau acontecer: andar para a frente ou para trás. Pode parecer evidente, mas é quando se minimiza o evidente que as coisas acontecem.
Uma resposta para“A caminhada dos abismos”
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Admiro-vos. Parabéns!Até sinto vertigens ao imaginar-me lá…
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Paisagens lindas, mas esta caminhada não era para mim…
:-)
Há 12 anos atrás também pela altura da Páscoa fiz esta caminhada embora no sentido inverso: de Pocinho a Barca d’Alva. Não passamos para o lado espanhol. Tenho respeito pelas minhas vertigens!
Lembro-me da destruição chocante do património ferroviário. Gostei do nome da residencial :-) na altura não se chamava assim…
As paisagens são muito lindas! Bela escolha de caminhada!
Paisagens bonitas, grupo giro e ousado, com fotos bem ilucidativas da beleza de uma região única.
Não consigo é perceber, e descupa-me-á a reflexão, Sr. Jorge Ventura, se no tocante à residêncial em questão em Barca DÁlva (“Bago D’Ouro Hotels”), não gostaram da água quente, se da água fria, se dos tempos da tropa, se da dona da unidade, e se/ou do cartão requintado…
Já agora, o jantar foi bom, ou foi ração de combate, como nos tempos da tropa?
Já agora, foram bem ou mal recebidos?
Já agora, e se não se gosta de uma coisa, porque não dizê-lo de forma aberta, leal, tranparente e frontal, para que todos percebam do que fala? É que o cinismo das meias palavras não se coaduna, creio eu, com a aparente boa vontade, condescendência e complacência do seu texto…
Já agora, caso não saiba, existem nesses locais uma coisa que se chama “Livro de Reclamações”.
José Costa
Fiz esta caminhada há dias sozinho (n devem faze-lo) pelas razoes aqui já explicadas. É de facto impressionante ver uma obra destas construída no meio do nada. Aconselho a realizarem esta caminhada.
Estava interessada em fazer o mesmo percurso. Conhece alguma empresa que acompanhe ou organize tal passeio?
Obrigada pela atenção.
Catherine Carrasqueira
Foi com enorme interesse que visitei, neste Verão, a velha estação de Barca d’Alva. Que ruína! Que património imenso destruído… Já não será possível salvar tão bela linha de caminho de ferro que poderia muito bem ter servido fins turísticos. Tenho visto fotos dos túneis e dos abismos por onde a linha passa. Assombroso!…
Conozco bien esa zona a ambos lados de “la Raya”. La ruta de la via de ferro es impresionante.Si quieres cualquier información puedes ponerte en contacto conmigo. Paravens!
O percurso é fantástico (património paisagistico, património arquitectónico), digno de um western americano.
Eu e um grupo de amigos gostaríamos de fazer o percurso mas gostava de ter informações ou conselhos se fosse possível.
Abraço.
Va a ser aprobado un presupuesto de 600.000 para arreglar esta ruta por parte de la Diputación de Salamanca, según anunció en Barca d´Alva la presidenta de la Diputación de Salamanca el día 9 de diciembre de 2007, y adaptarla para senderismo. En la actualidad no es aconsejable salvo a senderistas muy expertos o para realizar algunos recorridos parciales.
Quero aqui parabeniza-los por esta jornada fantástica, em um lugar simplesmente lindo, magnífico, deslumbrante.Juntamente com todos vocês, lamento o descaso e o abandono deste ramal ferroviário que liga Portugal e Espanha. Aqui no Brasil, algumas ferrovias(caminhos de ferro) praticamente desapareceram do mapa, outras estão desativadas, e, se ninguém tomar providências, os trens(comboios) deixaram de existir, tudo isso por causa de interesses políticos. Meu país resolveu priorizar o transporte rodoviário, deixando de lado as ferrovias(caminhos de ferro).Gostaria de mais informações sobre esta caminhada sobre os trilhos deste lindo ramal ferroviário???
Um grande abraço a todos os amigos portugueses e espanhóis.
Dia 25 e 26 de Abril vou fazer esse percurso juntamente com um amigo, no entanto gostariamos de ter mais gente a acompanhar. Quem quiser vir é so dizer: ruialbertovrocha@gmail.com
Olá Rui!!
Porque não vens connosco já este fim-de-semana 5 e 6 de Abril?
Começaremos a caminhada em La Fregeneda dia 5 pelas 11h mais tardar.
Confesso que estou aterrada, embora com uma enorme excitação pela aventura!!
Alguns conselhos que me queiram dar?! Agradecia imenso!!
Beijinhos
Andreia
O meu contacto é muriel_me@hotmail.com
Há aqui um claro paradoxo: bonito porque permite andar a pé, ou bonito assim, porque não pode ser visitado de comboio?
Para os que preferem um caminho-de-ferro abandonado, não leiam o que vem a seguir. Para os outros, algumas sugestões:
Por exemplo, tentar salvar a Linha do Tua, que é ameaçada por uma inexplicável mega-barragem! Assinando aqui: http://www.petitiononline.com/tuaviva/petition.html
Juntar-se e comentar em: http://www.linhadotua.net
Depois: fazer viagens de comboio! Aqui: http://www.linhastravessas.com
E ir visitando pessoas que têm feito o que podem pelo comboio em Portugal: http://www.ocomboio.net, http://www.ferroviaberta.net, http://www.gafna.net.
A pé pode ser bom, de comboio será decerto muito melhor. Mais social, pelo menos!
Juntem-se e vivam o comboio connosco!
E não se esqueçam de estar alerta, que felizmente há quem fale na reabertura desse troço! Esperemos que sim!
José Cândido
GAFA
Já fiz essa caminhada, é fantástica mas na primeira ponte tivemos as primeiras desistências já que é preciso coragem para passa-las a todas… eu estava a ver que não conseguia nas últimas :)
Cumps
Pedro Costa
Viva. Algum está interessado em fazer este percurso por volta dos dias 17 a 20 de Agosto de 2010? Sou do Porto e vou passar uns dias a Macedo de Cavaleiros, por esses dias tinha gosto em companhia para esta aventura. Só falta uma semama. 917293831