Hora da Terra

Estive quase para não escrever sobre (mais) esta iniciativa. Earth Hour. Cada dia que passa, sou menos a favor destas acções. Para que é que isto serve? Lá tenho eu que ir ler o site… Tem em português:

tornou-se numa das maiores iniciativas mundiais de luta contra as alterações climáticas

Praticamente tudo dito logo no primeiro parágrafo. Traduzindo do mundo de fantasia para a realidade, significa que não vale a pena ninguém se cansar demasiado com esta história das alterações climáticas.

Para o que isto serve essencialmente é para ecologistas de sofá, de internet, de SUV ou coisa pior, limparem a consciência. Para expiarem um ou outro pecadilho ambiental que cometeram no último ano. Ou ontem, no McDonalds.

(…) marcos emblemáticos mundiais, tais como a ponte Golden Gate, em São Francisco (EUA), o Coliseu de Roma, em Itália, e o painel publicitário da Coca-Cola em Times Square (Nova Iorque, EUA), ficaram às escuras, como símbolos de esperança por uma causa que se torna mais urgente a cada hora que passa.

Também serve para isto. Para líderes políticos de má qualidade mostrarem como estão empenhados na sustentabilidade. Serve para a Coca-Cola, ser um “símbolo de esperança por uma causa que se torna mais urgente a cada hora que passa”. Se é urgente, a minha sugestão é remover o referido painel publicitário antes até da iniciativa. Desse modo, fica às escuras 8.760 horas por ano (8.784 horas nos anos bissextos, para uma escuridão extra).

Neste tempo todo, desde que escrevo no Sargaçal, conheci meia-dúzia de pessoas (se tanto) que tivessem desviado a sua vida um milímetro para um caminho mais sustentável. Tipo eu (um milímetro é a lista e está desactualizada, suponho que para pior, lá voltarei). Ainda não conheci ninguém que tivesse alterado a sua vida significativamente de modo a viver de acordo com princípios que eventualmente defendem. Mas conheço dezenas que adoram salvar o Mundo, mas nem sempre, só quando apagam as luzes e assinam petições para tudo e para nada. Ou quando clicam em links que plantam árvores, noutros purificam água e noutros salvam animais da extinção. Também se pode participar em conferências, organizadas pelos mesmos que financiam toda a casta de atropelos ao ambiente (aqui é a CGD, mas podia ser o BCP ou o inefável, mesmo verde, BES). É um pagode!
Enfim, eu já me contentava em baixar o consumo energético mensal da família. Ando a tentar há dois anos e não consigo nenhum resultado significativo. Vou-me andar a enganar com “horas da Terra”? Não vou. Vou fazer de conta? Também não. Lamento muito.

Uma resposta para“Hora da Terra”

  1. jardineira aprendiz

    Pois, eu concordo, mas neste momento acho que é mesmo preciso fazer barulho (ou apagar as luzes). Há alguns meses, conversava com uma pessoa pouco envolvida com estes assuntos de defesa ambiental, que me dizia ‘vês, com este frio e com esta chuva alguém se lembra do Al Gore ou do aquecimento global?’ Bastam uns meses de chuva e clima ‘normal’ e as pessoas já não pensam no assunto! Estas iniciativas podem ter o mérito de lembrar aos esquecidos e incrédulos, que pelos vistos continuam a ser muitos, que o problema não foi, nem vai embora. E, se houver bastante aderência, pode também servir para mandar a mensagem a quem se procupa com o que rende votos, que este assunto pode render votos, e deve ser tomado a sério.
    Não sei, é claro que em alguns países começa a ser um pouco folclore, sem desprimor para o folclore, mas neste momento parece-me que tudo o que acrescentar algo é necessário.

    Em relação a alterar a vida para viver com os princípios de sustentabilidade que se defendem: eu conheci vários, mas infelizmente tiveram que mudar de rumo, porque é dificílimo remar contra a corrente. Eu também tentei, e reconheço que, mesmo lutando contra a corrente com pouca energia, tive que fazer demasiadas concessões. Ninguém muda o mundo sozinho, ou vão mudando todos, ou um dia destes todos têm que mudar à força, sabe-se lá a que custo. Por isso acho que vale a tentativa, não? :)

  2. José Rui Fernandes

    Jardineira Aprendiz, há uma questão técnica levantada frequentemente que não concluí ainda se é verdade, nem investiguei. Diz-se que estes apagões e o enorme pico posterior, criam desequilíbrios na rede eléctrica que acaba por ser pior a emenda que o soneto, podendo mesmo gastar-se mais energia. Basicamente a energia não está numa caixa de onde se tira o que se precisa e entre produzir o que é necessário num momento e dissipar (em calor) o que não foi utilizado, as coisas são muito difíceis de gerir.

    Ao clima normal, ou mesmo frio, acrescentaria as dificuldades económicas que muitos já estão a sentir e mais vão sentir no futuro próximo. As questões ambientais passam para terceiríssimo plano e é até rebentar. O que até é estranho, porque pessoalmente até encontro muitas semelhanças entre o colapso financeiro e o natural. Numa palavra é gastar mais do que se tem. No caso natural a maior parte das vezes atropelando um direito fundamental de criaturas que co-habitam o planeta, que é o direito a existir.

    Quanto a mudar de vida, acho grave que não consigamos mudar a nossa própria vida. As forças contrárias são de facto muito significativas e encadeadas. Mas mesmo assim.
    Repare que as decisões “micro” que tomamos que no global significam pouco e pessoalmente muitas vezes significam muito, poderiam facilmente ser substituidas por decisões “macro” ambientalmente inteligentes e mais significativas. Mas, não se vê um único governante minimamente preocupado com o ambiente durante décadas. Coincidência? Não me parece. Nem o ministério do ambiente. O presente aliás é de uma indigência suficiente para se questionar para que existe e porque havemos de o pagar.
    E há outra questão: Há muita gente, mesmo muita, que não deseja minimamente mudar o Mundo. Às vezes pode-se ficar com uma ideia da existência de uma “boa vontade global” porque o nosso círculo é todo muito voluntarioso nem que seja só em ideias, mas a realidade é outra. Se por um milagre de repente se começasse a consumir metade dos recursos, a reacção desses jacobinos ambientais seria de auto-congratulação — “mais sobra para nós”.

    Para resumir que já vou longo: Eu não noto uma única acção significativa que contrarie o aquecimento global. E ando atento. E os exemplos são de cima e são de baixo. Eu não vejo ninguém na prática trocar uma viagem de avião, por um futuro radioso. Ninguém.

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