Deadwood, The Wire e Mad Men

Deadwood é uma série televisiva que passou injustamente despercebida no nosso país, com a saída em DVD de apenas as duas primeiras épocas.
É ficção alicerçada num Oeste que existiu, a começar pelo local, aqui numa fotografia de 1888 (Shorpy). Os personagens são históricos e fascinantes, Seth Bullock, Al Swearengen, Wild Bill Hickok, Calamity Jane, Wyatt Earp ou George Hearst (Wikipedia), entre muitos outros.
A acção centra-se nos acontecimentos que levaram à fundação da cidade e as lutas para o seu domínio, com toda a politiquice e principalmente pulhitiquice em doses que chegam a ser surreais. Os episódios estão tão bem realizados que praticamente valem por si, mas infelizmente há um grande defeito em toda a narrativa: Não acabou. Foi cancelada na terceira época e foram planeados dois telefilmes para concluir a obra, mas agora passados praticamente três anos o mais provável é que os cenários sejam destruídos. A terceira época está na Amazon.co.uk, sem legendas em português — embora seja bem verdade que as traduções que temos arruinam qualquer série, considero a linguagem utilizada intraduzível. O melhor é utilizar as legendas como ajuda (é bem preciso) e dentro do espírito da série tentar perceber o que se passa pensando em inglês.

The Wire é uma série policial que se desenrola em Baltimore, uma cidade de maioria negra e com números de criminalidade brutais. Também passou completamente despercebida em Portugal, onde editaram as duas primeiras épocas em DVD (com o nome A Escuta). Felizmente que as três seguintes estão disponíveis na Europa, com legendas em português, pois por cá, o respeito pelo consumidor continua a ser nulo. No entanto, é mais uma série intraduzível. Aliás, os actores praticamente tiveram de aprender um novo idioma, tenho dúvidas que a linguagem do submundo de Baltimore, ainda conte como inglês. Entre as palavras inventadas e o sotaque, chega a ser inacreditável.
O drama é denso até dizer chega, centra-se num grupo central de personagens polícias na sua maior parte disfuncionais e noutro de criminosos que não vêem a sociedade como muito mais que uma selva. Entre o que se passa nas ruas e o que se passa nos bastidores da política da cidade, não é difícil perceber porque é uma série que passa ao lado de todos os prémios importantes. Deve mexer com os nervos de muito boa gente.
A sociedade de Baltimore retratada na série, representa tudo o que desprezo, independentemente da simpatia que muitos daqueles desgraçados me inspiram. Não a vejo como uma metáfora de nada, antes como a realidade de um modelo de desenvolvimento que em última instância, não resulta e com o qual não concordo. Degradação, lixo, droga, álcool, ultra-violência, adultério, corrupção, baixa política, o grau zero de todos os valores. A impotência e o risco de lutar contra a corrente, que é mostrada como fortíssima, intransponível.
Mais real que isto, só se vivêssemos nos “projects” e falássemos todos “ebonics” (outra palavra para inglês vernacular da comunidade negra americana).

Mad Men é completamente diferente das duas anteriores. Centra-se numa agência de publicidade ficcional, a Sterling Cooper, mas inserida com tal perfeição na sociedade nova-iorquina de 1960, que arrisco dizer que a televisão não ficará muito melhor que isto. Os personagens pertencem a várias classes da sociedade da época e interagem na agência, onde todos trabalham. Com tudo o que faz as pessoas, as suas extensas fraquezas e escassos pontos altos. As duas fraquezas mais representadas graficamente na série, são o álcool e o tabaco. Deve ser a série com mais copos e cigarros por minuto da história do audiovisual. A terceira deve ser o sexo, se bem quem neste caso não é nada gráfico para manter o drama apresentável a certas horas. O título é uma referência à Madison Avenue, onde se instalaram as principais agências de publicidade.
A qualidade de imagem é extraordinária, a iluminação está tão bem concebida que faz parte da história, são os personagens e as suas sombras. O ângulo de filmagem é de acordo com a época, toda a produção é milimétrica. O genérico tem a assinatura Imaginary Forces, que ganhou notoriedade com o genérico do filme Seven (e dezenas de outros desde aí).

Em comum, as três têm actores do melhor que é possível, uma credibilidade e profundidade de personagens que começo a considerar impossível de conseguir no cinema. Em termos meramente técnicos, a tecnologia aproximou a TV de tal forma do cinema que é virtualmente impossível de distinguir. A edição em DVD evita a publicidade e o risco de perder tempo a ver o lixo que prolifera pela TV. Se puderem, não deixem passar estas séries.

Na Amazon.co.uk (a única com legendas em português é The Wire):
Deadwood Épocas 1 a 3
The Wire Épocas 1 a 5
Mad Men Época 1
Mad Men Época 2

Uma resposta para“Deadwood, The Wire e Mad Men”

  1. zito machado

    Boa noite,
    Procurei no site da amazon algo que-me indica-se que trazia legendas em PT, e não identifiquei. Como sabe?
    cumprimentos

  2. zito machado

    Obrigado. É uma serie fenomenal acabei á pouco 1 temporada. Agora espero ansiosamente pela amazon ( que seja rápida, pois é um vicio quase fisico).
    Um desejo de futuros bons posts.

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