Primavera Sound 2015
Desta vez, compraram um bilhete para mim sem eu ter encomendado nada… não sei como é que estas coisas me acontecem. Lá fui. Sem vontade nenhuma. Como muitas vezes acontece, um dos segredos da felicidade é manter as expectativas bem baixas. Não havia nada que eu quisesse realmente ver. Acresce ter andado sozinho a maior parte do tempo, algo que detesto habitualmente, mas até disso gostei. Circulei por todo o lado, sem ter que ir atrás de ninguém ou esperar por alguém — o reverso foi não ter visto praticamente nenhum concerto completo.
Quando cheguei fui até ao palco ATP onde andava a Yasmine Hamdam, uma libanesa que tinha visto a fazer um número (YouTube) no filme Only Lovers Left Alive de Jim Jarmusch. Logo a seguir Giant Sand, que também gostei e muito. Estava a começar bem.

Patti Smith
A grande surpresa foi Patti Smith — estou à vontade porque não é minimamente o género de música que goste de ouvir habitualmente —, grande concerto. Tudo bom. Por esta altura, já tinha dado para perceber que ao contrário do ano passado, o som estava perfeito nos diversos palcos.
Depois enganei-me ligeiramente e em vez de ir para o palco Pitchfork ver Sun Kil Moon, fui parar ao ATP para uma borracheira indecente chamada Electric Wizard. O público parecia gente fina, connoisseurs, andavam para lá todos às cabeçadas ao ar. No ecrã passavam uns filmes série-B com mulheres nuas. Antes que levasse com uma daquelas cabeças pendulantes, fui até ao Pitchfork.

Sun Kil Moon
Sun Kil Moon desenrolava uma canção chatíssima, numa configuração deveras estranha para o som apresentado: duas baterias, um indivíduo sentado como se estivesse a tocar na sala de estar, outro de pé com uma guitarra e outro a cantar num timbre vagamente familiar com Foals. Mau. Finalmente acaba, o vocalista chama o guitarrista Vasco dos Blind Zero e tudo aquilo melhorou muito ao ponto de explodir. Saiu o guitarrista e o homem chama a Yasmine, nem a letra sabia, mas já não se podia voltar para trás, adorei. No fim pareceu-me perceber que o segundo baterista era dos Sonic Youth. Saí todo satisfeito para Spiritualized.
Spiritualized é daquelas bandas que não liga patavina ao público, querem é tocar e as canções seguiam umas às outras sem intervalo para aplausos. Para mim, o ponto alto do Primavera Sound, a música Electricity — se fosse jornalista do P3 dizia já que foi simplesmente “electricidade pura”. Se não tivesse gente à espera já nem ia a Belle & Sébastian. Também foi bom, mas são demasiado auto-ecléticos para o meu gosto. Depois de uma música que gosto muito, arrisco-me sempre a levar com outra que gosto muito pouco (o que aconteceu praticamente sempre). Antes e tendo em conta Sun Kil Moon e Spiritualized, ignorei completamente The Replacements, já não tenho paciência para punks de idade avançada (a excepção é Patti Smith pelos vistos, mas não percebo porque um álbum como o Horses é considerado punk).
Antony and the Johnsons… não vamos rejeitar à partida uma ciência que desconhecemos. Diz que o senhor se ia apresentar com uma orquestra de 40 elementos e que o festival se ia calar para o ouvir atentamente. Ouvi atentamente — se bem que em sofrimento —, umas quatro ou cinco músicas e achei suficiente. Já detestava antes, saí perfeitamente convencido que detestava com todo o mérito. Fui até à Casa Guedes comer uma sandes serrana, o presunto tinha esgotado, teve de ser com salpicão. Todos aqueles gemidos naquele vozeirão enervante tinham-me dado fome. Num festival com estas características, questiono a coerência de apresentar um espectáculo destes, mais adequado para uma sala… enfim, foi uma seca extraordinária, muita gente debandou, muita gente sentou-se e deitou-se no que restava da erva, mas também é verdade que andavam por lá muitos apreciadores do estilo túnica branca com voz forte acompanhada de orquestra.

Ariel Pink
Não saí sem ter ido ver Ariel Pink, um muro de som com características enlouquecedoras e mais que suficiente para eliminar todos os vestígios sonoros do Antony dos meus ouvidos. Acho que vou voltar para o ano.
Actualização: Umas fotos no Flickr.
Deixe um comentário