Chá, tisana ou infusão?
Luís Alves do Cantinho das aromáticas, trava uma verdadeira batalha pela utilização correcta das palavras em português, mas com esta guerra não concordo.
O chá há muito que foi consagrado pelo uso popular como a designação de uma infusão de qualquer planta e não apenas da planta do chá (Camellia sinensis) e está muito longe de ser caso único na língua portuguesa (em inglês seria “herbal tea”). Está correcto dizer “vou beber um chá de limonete” ou “vou beber uma infusão de limonete”, mas ao ler as duas frases comprende-se bem a preferência pela palavra “chá”. Por outro lado, se chá é apenas uma infusão de Camellia sinensis, as infusões de todas outras plantas não têm direito a uma palavra própria, por alguma razão (histórica) chá adquiriu o significado de infusão genérica.
Na mesma linha, uma outra palavra que apareceu de forma relativamente recente foi “teína” e já fui corrigido por diversas vezes: “o chá não tem cafeína…” — explicam-me de forma grave —, “o café é que tem, cafe-ína, percebes?” Percebo tudo muito bem. A suposta regra é que o café tem cafeína, o chá tem teína (não devia ser chá-ina?), mas é exactamente a mesma substância. Pela mesma lógica, todas as outras plantas que contêm cafeína deviam ter o seu próprio nome para a molécula cafeína.
Apesar de entender as preocupações do Luís Alves, estes preciosismos só servem para criar confusão nas pessoas. Quase toda a gente acha que a cafeína e a teína são coisas diferentes, mas “teína” caiu em desuso ainda no século XIX, quando se concluiu não ser uma substância diferente da cafeína — com o conhecimento que existe hoje, foi-se recuperar a palavra morta para quê? Motivos comerciais do tipo a cafeína faz mal, a teína faz bem? Não me admirava nada.
Conclusão, água quente com erva-mate, é um chá, uma infusão, ou uma tisana? E contém cafeína ou teína? — Para mim? É um chá e contém cafeína, mais simples é impossível.
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