Canais no Youtube
Nos últimos anos têm proliferado canais no Youtube de imensas pessoas que se mudaram da cidade para o campo. Mesmo muitos mudaram-se para Portugal, onde a vida é mais relaxada e barata (para eles) e a terra, designadamente a abandonada e remota, ainda é acessível. Acho que são os blogues modernos. Alguns têm imenso sucesso e o canal tornou-se efectivamente um trabalho, que exercem com profissionalismo e os milhões de visualizações providenciam algum sustento.
Porque de facto, muito poucos — ou nenhum —, vive realmente da terra. Podem cultivar umas coisas até com grande sucesso e ter ilusões de auto-suficiência, mas virtualmente todos dependem do mundo moderno. Não é uma crítica, é apenas constatar um facto e separar o que é a ficção de um show no Youtube, da realidade — e a realidade acaba por ser sinónimo de privacidade, por muito que exponham o seu modo de vida, há muito mais que não vemos.
Outra coisa que para mim é completamente estranha (embora seja comum no mundo anglo-saxónico, onde a relação com o dinheiro é completamente diferente), é projectos que pedem apoio directamente aos espectadores. São pessoas que mudam de vida voluntariamente, não querem um trabalho das 9 às 5, mas querem que as pessoas que têm esses trabalhos os ajudem financeiramente? É óptimo que ocupem a terra, que lhes dêem um uso, mas daí a sustentar o projecto vai um mundo de distância. Pode-se argumentar com os conhecimentos que partilham, o valor do entretenimento (que o Youtube também paga, porque virtualmente todos são canais monetizados com publicidade) e muitas outras coisas, mas para mim, não faz sentido pedir dinheiro a desconhecidos para ter o tipo de vida que se escolheu ter. É diferente, na minha cabeça pelo menos, se for para um projecto concreto ou por exemplo para ajudar num desastre (incêndio, o mais comum).
Estive doente quase 15 dias e acabei por ter mais tempo que o habitual para ver destes canais. Acaba por ser melhor que ver os canais de televisão nacionais, ou outros, que na minha opinião estão no ponto mais baixo de sempre.
Se conhecerem mais, coloquem nos comentários por favor.
Project Kamp
Este é o canal que vejo mais regularmente (já tinha falado deles anteriormente). Há uma energia positiva em volta de Dave Hakkens e uma curiosidade para ver todas as semanas o que vai sair dali. Espanta-me como sabem fazer tudo e agora como estão a arranjar gente mais especializada em algumas áreas (video, cozinha…).
The Dutch Farmer
Outro holandês… Já seguia este canal há uns tempos por causa das técnicas bastante eficazes que ele utiliza. Também se mudou para Portugal com a família, para aquele que me parece ser o local mais remoto de todos, com o terreno mais agreste. É incrível.
Farmer For Fun
Um inglês bem disposto que parece gostar realmente da vida que leva na sua quinta. Também é militante em incentivar mais gente a vir, mostrando regularmente terras para venda na sua zona (tudo no Centro, como a esmagadora maioria).
Make. Do. Grow.
É um dos que gosto mais de ver, os vídeos são bem feitos e há sempre imensa informação útil.
Modern House Cabin
O que referi acima, com muita informação prática sobre o que planearam e construíram. Entretanto, com o sucesso, tudo é patrocinável ao ponto de taparem o logotipo Bosh das ferramentas — suponho que a Bosh não lhes tenha dado nada e ficaram tristes.
Real Algarve Living
Desta lista, o único no Algarve, um inglês que é uma força da natureza e faz tudo sozinho (tem o irmão perto também). Uma ética de trabalho a sério.
Luke & Sarah’s Off-Grid Life
Este casal tem bastante piada e vão ao pormenor de dizerem quanto gastam por mês na estrada para a auto-suficiência. Têm cerca de 17ha bastante selvagens mas cheios de recantos com interesse, que adquiriram em 2018 por 58.000,00€. Julgo que são de Malta e também vivem no Centro.
Silicon to Soil
Um casal americano que se mudou da Califórnia para o Douro. Comecei a seguir porque me interessou o primeiro episódio, a quantidade de projectos que é algo que eu também imagino sempre (de forma caótica dentro da minha cabeça) e também terem 22 hectares que estão a transformar em permacultura.
E mais estes:
Alex Farms
Um ucraniano numa quinta de 28 hectares no centro. Este é um dos poucos com dimensão de quinta que eventualmente poderá ser produtiva. Uma das coisas que ele quer fazer é vermicompostagem. Entretanto desapareceu sem dar notícias.
Back in Portugal w. Joaquim Conde
Este é de um português regressado do Canadá que resolveu restaurar uma casa agrícola que era do avô. E gosto do que tenho visto.
Compofant
São vizinhos do Dutch Farmer.
Chumbaria
Este casal vai restaurar uma pequena aldeia no Centro.
Cindy Vine Portugal
Uma sul-africana também por cá.
Eugenia Diaz
É a autora (com o marido) da Modern House Cabin (que previsivelmente tem o seu próprio canal). É daqueles canais que vejo como se fosse ficção — por exemplo ela fala regularmente da sua solidão e de estar sozinha, quando o que se vê é que está com o marido. A “cabana”, a horta, fazerem tudo eles próprios, é bastante admirável — mas não gosto do tom encenado.
Happy Quinta
Um brasileiro e uma alemã no Norte.
Jump Head First
Casal belga.
Matt Grant
Em Monchique.
My Portugal Dream
O objectivo deste parece ser ter uma pequena casa de férias.
TheNewbys
Estes são dos poucos que estão no Norte, mas não sei onde.
OK Portugal
Este canal também faz videos promocionais de propriedades no Centro para prospectivos clientes.
Penzeance 2 Portugal
Este canal acabou com o falecimento precoce de um dos elementos do casal, não muito depois de se terem mudado para cá. Foi triste.
Sailing Zingaro
Compraram uma serração no Centro, junto ao rio, com um aspecto incrível. Licença para fazer qualquer coisa é que é pior.
The Scotters Go Off Grid
No Norte.
Simple Life Portugal
Em Bragança, um sueco e uma canadiana.
Terramor
Uma portuguesa de Lisboa.
The Yellow Bots Homestead
Uma americana e um francês no Alentejo, vindos da Suíça.
Uma resposta para“Canais no Youtube”
[…] meu caso, muitos de quem alega levar uma vida mais sustentável e em comunhão com a natureza — dos quais tenho uma lista que vou mantendo mais ou menos actualizada. Para isso acontecer, têm de existir muitos milhões de pessoas nas cidades, a cuidar das […]