A Vida Sustentável Tal Como Apresentada no Youtube
Recentemente li que os servidores na Irlanda já gastam mais energia (21% do total produzido) que todas as habitações do país (19% do total produzido). Também é sabido que os caridosos objectivos energéticos das grandes empresas tecnológicas estão literalmente em banho maria, depois de constatado o gasto insustentável de energia com a chamada inteligência artificial. Em última análise, somos nós os utilizadores que potenciamos esse gasto. Se não houvesse procura, o cenário seria outro, mas a procura é cada vez maior. De tudo. Há uma voragem que não para de crescer e só tem piorado desde que comecei este blogue há 20 anos ou mais.
Andava para me informar do custo energético de ver filmes no Youtube — ironicamente no meu caso, muitos de quem alega levar uma vida mais sustentável e em comunhão com a natureza — dos quais tenho uma lista que vou mantendo mais ou menos actualizada. Para isso acontecer, têm de existir muitos milhões de pessoas nas cidades, a cuidar das infraestruturas, da produção industrial, do cultivo de alimentos, produção de electricidade, telecomunicações e servidores. Entretanto o tempo foi passando, mas entretanto lembrei-me que poderia fazer o mesmo “estudo” utilizando eu próprio a inteligência artificial.
E assim, diz o ChatGPT, com todas as falhas que possa ter:
Streaming a YouTube video 1 million times (at 20 minutes per view) uses approximately 67,000 kWh of energy. This amount of energy is roughly equivalent to the monthly energy consumption of about 200 European households, assuming an average monthly energy use of about 333 kWh per household.
Como é sabido, muitos desses projectos que existem no Youtube, tornaram-se dependentes das visualizações para poderem perseguir um determinado estilo de vida. Não quero destacar por ser negativo, ou como crítica, mas apenas porque é o que gosto mais e sigo mais regularmente (todas as semanas, na verdade), mas o Project Kamp é um desses exemplos. Se num mês típico obtiverem 1,5 milhões de visualizações de 20 minutos, a energia gasta daria para 300 casas de família1. Isto, para duas ou três dezenas de pessoas viverem no meio do campo sem qualquer tipo de conforto ou mordomias. Ecologicamente, este protótipo de “um novo estilo de vida”, é compensador? Tenho sérias dúvidas.
Tudo que fazemos neste mundo — viver —, tem um impacto e tem consequências. Seria interessante existir mais literacia ecológica (tal como económica, aliás, mais literacia pura e simples), para pelo menos cada um ter a consciência das consequências das suas opções. Já chega a Taylor Swift com as suas viagens em jactos privados ou o detestável Zuckerberg com o seu iate ‘Launchpad’ de 300 milhões, a pregar um estilo de vida mais sustentável. Para os outros.
- Uma casa americana, gasta em média e sem surpresa, quase o triplo [↩]
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