Quando se abre a torneira…
A humanidade percorreu um longo caminho, até chegarmos aos dias em que se abre uma torneira e a água corre. O que acontece antes da torneira teve as suas consequências ambientais. Depois da água desaparecer no ralo, outras coisas acontecerão, igualmente com as suas consequências. O autoclismo, é uma invenção particularmente eficaz para poluir água que custou muito dinheiro a tornar potável.
Vivemos um tempo em que a nossa tarefa mais simples implica algo pernicioso a montante e a jusante. Se não for numa caverna, é impossível viver com princípios sociais e ambientais coerentes.
Os vegetarianos comem soja, que promove a destruição da amazónia; a McDonals e KFC promovem a destruição da amazónia; a madeira é ecológica e saudável, a teca de fabricantes insuspeitos provém de florestas com exploração sustentável, que afinal desaparecem a olhos vistos; damos a melhor e mais cara alimentação aos nossos cães e gatos, só para posteriormente descobrir os testes horríveis que essas marcas fazem em cães e gatos vadios; a indústria da beleza e da moda, é o que se sabe há muito tempo; o iPod é fabricado em condições deploráveis; alguns sapatos da Zara, cosidos por crianças; comprar produtos chineses, é dar apoio tácito a uma ditadura particularmente odiosa e hipócrita; produtos de marca, fabricados na China, nunca chegaram mais baratos ao consumidor ocidental, apesar da mão de obra barata, poluição desregrada e ambiente de trabalho militarista; a reciclagem de vidro acaba por gastar uma quantidade de energia que dificilmente a justifica; andar de avião é a pior coisa que um indíviduo pode fazer pelo ambiente; andar de automóvel, a segunda pior; para os alimentos que comemos chegarem sem mácula ao supermercado, ar, terra e água foram contaminados com todo o tipo de substâncias nocivas; os próprios alimentos estão cheios de substâncias nocivas…
Desta lista infindável, concerteza que muita gente encontra algumas actividades e hábitos que pode alterar no dia a dia. Alguns são extremamente fáceis, como não frequentar o McDonalds ou KFC, evitar produtos chineses, talvez até evitar o avião e andar menos de automóvel, ou até consumir um pouco menos, ou já será pedir demais? A pergunta é para mim.
Mais items na lista, ou menos items na lista, é pacífico que ninguém está propriamente muito interessado em mudar grandes hábitos. Nesse sentido, torna-se difícil dar grandes lições de moral. Pode-se talvez dar uma diminuta liçãozinha de moral, aqui e ali, nada mais.
Mesmo assim, arrisco dizer que tal como considero asqueroso fugir aos impostos abexigando quem cumpre, é igualmente repugnante a constante semi-arrogante, semi-ignorante, tentativa de ridicularizar quem sabe e demonstra o mínimo de preocupação por estes temas. Essa tropa um dia destes desperta para a realidade e descobre que a) afinal nem todos são de esquerda, b) esse nem é exactamente o cerne da questão.
Uma resposta para“Quando se abre a torneira…”
Quando se abre a torneira…
a água corre
o petróleo corre
o gás corre
Quando se acende o interruptor…
a luz acende
…
Meio mundo ou mais do que isso, assume estes actos como certos, infelizmente caminhamos para a não certeza.
Muita, mas mesmo muita gente só tomará consciência mediante a falta, nunca com a possibilidade de puder vir a faltar.
Quando realmente faltar, aí sim, haverá mudança de comportamentos.
Há por aí muito exagero naquilo que o amigo jrf está a escrever mas certo é que será essencial no futuro internalizar no custo dos bens de consumo os seus custos ambientais.
Exemplo clássico é a água: que é sistematicamente muitíssimo inferior ao custo de a produzir (potável), as únicas entidades que implementam algumas medidas largamente insuficientes para poupar água ainda são algumas industrias consumidoras massivas deste recurso, ora não faz sentido hoje em dia garantir um abastecimento básico de água às populações e fora disso disponibilizar água potável ao seu verdadeiro preço de mercado. E quem dis isto em Portugal diz isto muito mais em outros pontos do globo. Por exemplo, aqui no Reino Unido é absolutamente ridiculo, a água é de virtualmente de borla, paga-se uma taxa plana nos impostos municipais e a partir daí consome-se o que se quer, obviamente que este tipo de tarifação é um incentivo claro ao consumo de água, pode ter sido adequado no passado em que os padrões das chuvas anuais eram certos mas hoje emdia com alterações climáticas terá necessariamente qwue mudar.
Quanto ao facto de andar de andar de avião ser a pior coisa que se pode fazer pelo ambiente e que andar de carro a segunda p ior é factualmente errado. A actividade humana que mais CO2 produz é a produção de electricidade, o sector transportes se não m,e engano conta para 1/4 das emissões assim sendo a pior actividade humana, qualquer um dos electrodomésticos lá em casa emitirá mais CO2 ao longo do ano que qualquer viagem de automóvel ou de avião… andar de avião ou de carro estará entre as 10 ou vá lá 20 piores actividades, mas o 1º e 2º pertencem mesmo às termoelectricas.
Acho que não. Os exemplos são, julgo eu factos e podia juntar outros tantos de memória. Onde está o exagero?
Fonte: The Earth Care Manual: A Permaculture Handbook for Britain and Other Temperate Countries de Patrick Whitefield.
O que o autor quer dizer (e eu) é que em termos individuais, se queremos ter algum impacto a primeira medida seria deixar de andar de avião (acho que o autor só vai onde se pode deslocar de comboio) e a segunda, de carro.
Não duvido dos seus dados em termos globais, mas depois matematicamente está muito errado. O facto do sector energético ser X das emissões, não se traduz, como é evidente, de uma forma proporcional para os consumos em casa. Portanto, em termos de responsabilidade directa individual, acredito que Patrick Whitefield esteja correcto. Claro que é sempre em termos genéricos — uma viagem de seis em seis anos (eu) é menos do que uma por semana (o meu irmão). O impacto do segundo seria umas 300 vezes maior…
Pode fazer uns cálculos com estes dados (PDF).
Caro jrf, o sector energético taduz-se bvamente em sua casa. Porque tudo aquilo que você tem em casa custa energia a ser produzdo, assim sendo, o CO2 que uma máquina de barbear por exemplo representa não é simplesmente os kW anuais que se gastam para manter electroes a fluir pela ficha para e fazer barba… a máquina foi produzida com enormes inputs energéticos. Obviamente que você reponde que um carro ou um avião também têm de ser construidos, correctíssimo, a construçã de um auto~móvel emite muito mais CO2 do que aquele que jamais será emitido pelo mesmo a viajar… ou seja: pior que andar de carro é comprar um… poupa mais CO2 a comprar um carro usado do que a reduzir em 50% as suas viajens de automóvel.
“as únicas entidades que implementam algumas medidas largamente insuficientes para poupar água ainda são algumas industrias consumidoras massivas deste recurso, ora não faz sentido hoje em dia garantir um abastecimento básico de água às populações e fora disso disponibilizar água potável ao seu verdadeiro preço de mercado.”
este parágrafo saiu esquisito porque este teclado tem manias…
leia-se então:
as únicas entidades que implementam algumas medidas – largamente insuficientes – para poupar água ainda são algumas indústrias consumidoras massivas deste recurso, ora isto não faz sentido hoje em dia. É essencial garantir um abastecimento básico de água potável às populações, mas fora disso, a água potável deveria ser toda ela disponibilizada ao seu verdadeiro preço de mercado.
Pode repetir? Não percebo.
Tudo custa energia a ser produzido. É a energia implantada — por essa razão é necessário pesar os prós e contras entre por exemplo:
Mudar o frigorífico de classe G para A .
Mudar o sistema de aquecimento a gás para solar.
Mudar de carro consumidor para um mais eficiente.
…
Mas essas contas não são muito fáceis de fazer, nem dados concretos estão muito acessíveis (além da quantidade de dados ser tão infindável como a quantidade de produtos). Bom, mas mesmo genericamente não há muitas bases para trabalhar que tenham entrado no “mainstream”.
Não tenho nem esses dados, nem essas certezas. Mas dependerá sempre da amortização em quilómetros do carro, mesmo tendo em conta que essa amortização se faz à custa de mais emissões. Acho um assunto complicado para se falar assim. Tendo em conta a profundidade do livro que referi, confio minimamente no que o autor diz. Vê-se que é alguém que anda a pensar nestes assuntos há muitos anos.
Mas o que diz resume-se a algo que concordo, defendo e é eventualmente o único caminho: Reduzir (da equação Reduzir, Reparar, Reutilizar, Reciclar). O último factor já se tornou claro para mim que mais não faz que mitigar o excesso de lixo a preços muitas vezes incomportáveis e que a ser regulado unicamente pelo mercado, não existiria.
Quanto à água ao preço dela, é outra discussão deveras complicada — energia ao preço dela, produtos hortícolas ao preço deles… Ninguém está preparado para essa ordem mundial.
Ainda sobre a água, há algo que não bate certo — água potável cara (subsidiada ou não), poluída nas retretes, usada para lavar carros e regar jardins…?
O sistema devia ser duplo a nível local, com reciclagem das águas cinzentas e diferenciação entre água potável e água para outras tarefas.
Tecnicamente é simples na teoria, difícil na prática. Não me parece que vá acontecer nos próximos 100 anos. A menos que o planeta aqueça mesmo a sério…
“Mas essas contas não são muito fáceis de fazer, nem dados concretos estão muito acessíveis (além da quantidade de dados ser tão infindável como a quantidade de produtos). Bom, mas mesmo genericamente não há muitas bases para trabalhar que tenham entrado no “mainstream”.”
Por as contas serem dificeis o principio nao deixa de ser valido. Da mesma maneira que a abertura de uma torneira tem uma corrente de acontecimentos no passado e uma corrente de consequencias no futuro também a compra de uma casa, um carro, uma caneta, um clip, um iPOD…
“Não tenho nem esses dados, nem essas certezas. Mas dependerá sempre da amortização em quilómetros do carro,”
Maquinaria electrica que ajuda à construccao do automovel, materias primas que foram extraidas com maquinaria electrica, processadas e transportadas uitas vezes por estrada, trabalho humano que inclui transporte de pessoas (e imensas viajens de carro), transporte do veiculo novo até ao stand de vendas que se mantém em funcionamento gastando electrcidade…. qual é a sua dúvida aqui?
“O sistema devia ser duplo a nível local, com reciclagem das águas cinzentas e diferenciação entre água potável e água para outras tarefas.”
Correctíssimo. Faz todo o sentido. Se a água potáel fosse comercializada ao seu valor real apdamente essa diferenciação surgiria para conter custos. Alias, isso até já ocorre, mas apenas em indústras consumidoras massivas de água potável (como a agro-alimentar) em que a água, mesmo a estes preços se orna um custo signifcativo.
Não deixa de ser válido, mas é aplicado com base em “feelings” — Patrick Whitefield diz que a mudança para a energia solar térmica por exemplo compensa de raíz, ou se os equipamentos a substituir estão velhos e a sua energia implantada “amortizada”… Trocar só porque é solar, no fim é mudar tudo para que tudo fique na mesma. Outra faceta do consumismo.
A dúvida é que em termos concretos não temos os dados na mão. Mas também lhe digo — só haveria vantagem em haver menos carros em circulação, ou seja, serem fabricados e comprados menos. Faz parte do “reduzir” que defendo.
O facto é que em casa dos meus pais há três carros. Na minha dois, um dos quais um jipe que comprei por causa do terreno (embora usado). Voltamos à minha teoria inicial — tenho um terreno onde pratico muitas actividades saudáveis, mas já comprei um jipe para lá chegar. É difícil.