Cinco dias em França: As primeiras impressões

Fortaleza de Angers
Dizia um amigo dos meus pais, que depois de um certo número de viagens, é mais pastelaria, menos pastelaria. Para mim, é mais catedral, menos catedral — tenho uma inércia enorme para viajar, agora associo as viagens a depleção de recursos e de facto sinto-me bem em casa.
Já não ia a França há uns tempos. Não gosto particularmente de França como um todo. Tem um “je ne sai quoi” que realmente não me agrada. Mas analisada caso a caso, vale muito a pena. Vi maravilhas sem fim.

Desde o meu interregno de visitas ao país da “baguette”, noto a uniformização de Portugal ao nível do desenvolvimento visível, sendo a face mais evidente as estradas. O aeroporto de Pedras Rubras está 50 anos à frente do de Beauvais, que é uma espécie de barraco com uma pista em frente. As nossas portagens quilómetros à frente… Retive no entanto duas coisas: O parque automóvel, comparado com o nosso é absolutamente miserável, agora entendo as exclamações dos estrangeiros que quando cá vêm acham que aqui somos todos muito ricos. Eu não ligo a carros, mas as diferenças são extremas. Em automóveis, somos bons.
Em árvores, fica-se a entender a calamidade que se abateu sobre as nossas cidades de progresso imparável. Por exemplo, no Porto, só daqui a cinquenta anos iremos ter algo parecido com o que se vê em França. Isto é, se as árvores lá chegarem. Aqui não costumam chegar a velhas. As da Avenida da Boavista, como milhares de outras, não vão medrar de certeza.
De uma forma ou de outra, não será para o meu tempo. Mas é uma tristeza.

Na fotografia está a fortaleza de Angers. Nunca tinha visto nada igual, nem parecido.

Uma resposta para“Cinco dias em França: As primeiras impressões”

  1. Elsa Castelo

    Temos portanto uma inversão das prioridades.

    Muitos e bons carros, com o sobre indevidamento das famílias e emissões cada vez mais elevadas de CO2.

    Por seu turno, cada vez menos árvores, descompensando enormemente aquelas emissões.

    Estamos portanto muito mal, uma vez que, não só temos famílias indevidadas, como o próprio Estado se indevida, por conquentemente ter de comprar quotas aos países menos poluentes.

  2. Manuela

    Vi maravilhas sem fim…
    Castelos, igrejas, … jardins e mais jardins.

    Viva é só para dizer olá. Então foi desta a ida a França?
    Lembro-me que quando abalei para lá nas férias de há dois anos comentaste ;- ) que ainda não se iam aventurar com os pequenotes.
    A propósito de França vale a pena ler a reportagem sobre os espços verdes de Paris na última National Geographic.
    Abraço

  3. Mário Ferreira

    Vale a pena ler a National Geographic não só pelos espaços verdes de Paris mas também pelos excelentes artigos sobre os Parques Naturais e as ameaças aos mesmos. Coloca uma prespectiva muito realista sobreo futuro dos parques, embora peque um pouco por espelhar quase só a realidade dos EUA.

    Em relação ao parque automóvel tenho a modesta opinião de que os portugueses são capazes de dormir no chão, não ter móveis em casa, comer mal apenas para ter um carro de gama média (ou melhor). É o sinal exterior de uma riqueza que é só aparente, não tem existência real. Conheço casos assim e trabalhar na banca ajuda a ter esta visão pouco romântica do que se passa, aliás grande parte da frota aprrendida pelas leasings por falta de pagamento é de viaturas topo dde gama.

  4. José Rui Fernandes

    Mário, o que dizes, é o que se ouve. Carros = crédito. Mas eu imaginava que não seria sustentável, mas pelos vistos é. Eu não critico nada, tenho dois veículos acima da média e se o segundo foi usado e comprei por causa do Sargaçal, o primeiro foi a pensar na fiabilidade, conforto e principalmente segurança de quem anda nas estradas portuguesas que é o meu caso (numa nota à parte, não vi conduzir melhor nas estradas francesas) — e custou uma quantidade de dinheiro assinalável (1/3 foi impostos).

    Manuela, os castelos e igrejas interessaram-me no sentido que tinham árvores e jardins… Não sei se é culturalmente lamentável dizer isto, mas entre a igreja e o canteiro, andei a escolher o canteiro… Ando sem grande cabeça para grandes factos históricos e informação que não possa utilizar regularmente.
    Não fui com a família! Fui com um amigo a uma feira de casas de madeira. Como foi um fiasco, o meu irmão estava em trabalho em Paris, apanhou o TGV e foi ter connosco a Angers — e a partir daí foi turismo. Também acho uma pena andar para lá sem a Susana e miudagem… Acho que tenho saudades.
    Lembrei-me muitas vezes do Dias Com Árvores, porque realmente o que dizem é a pura verdade e são dos poucos a chamar a atenção para o desbaste no património natural das cidades portuguesas.

    Elsa, eu não fiz essa associação porque não há exactamente uma relação de causa/efeito, embora obviamente se possam constatar diferenças culturais e preferênciais abissais. O facto é que Paris tem um trânsito caótico em quantidade e modo de condução. Aliás aquilo parece um bocado o salve-se quem puder — isso é levado ao extremo na circular exterior… Sem comentários. E nós tínhamos GPS.
    Independentemente disso, as árvores nos espaços públicos e privados são maduras. Há zonas onde dá gosto passear e andar entre árvores de semelhante porte.

  5. Mário Ferreira

    Peço desde já desculpa pelos erros ortográficos no comentário anterior.
    Não era minha ideia criticar quem tem carros acima da média e os pode pagar, o que cada um faz com o seu dinheiro é estritamente pessoal. O que não é sustentável é escalada fenomenal no crédito que nos está a tornar ultra-dependentes do estrangeiro para comprar o dinheiro que serve para financiar os particulares. Isso é preocupante. Também começa a ser preocupante o nível de individamento médio de cada família, e num ciclo de aumento de taxas, com o subsequente aumento das prestações, como o que estamos a viver actualmente (e com tendência de piorar) a situação das famílias tende a piorar financeiramente. Também é preocupante a descida brutal no índice de poupança. Somando isto tudo não é difícil perceber que estamos perto de uma brutal “chamada á realidade” para muitos portugueses.
    Aliás ainda não vi ninguém do governo a explicar convenientemente a questão das futuras reformas, é poucas pessoas se aperceberam que vão ter que começar a poupar para a reforma aos 30 anos e não aos 50…

    Desculpem o longo comentário.

    Um abraço.

  6. José Rui Fernandes

    Não era minha ideia criticar quem tem carros acima da média e os pode pagar, o que cada um faz com o seu dinheiro é estritamente pessoal.

    Nota que não entendi como crítica. Eu é que não me coloco de fora das minhas próprias críticas.
    Agora a escalada do crédito é algo que já se fala há anos e anos; e só se fala de escalada. Pessoalmente acharia que não seria sustentável, na prática é. O John Seymour dizia que é essencial as pessoas livrarem-se dos créditos.
    Eu diria que é essencial livrarem-se de tudo o que não seja para uma casa. O carro, sendo essencial, é tolerável. As televisões de plasma, Varadero, Punta Cana e Mercedes classe 220€ (do BPI), na minha opinião é dramático e não entendo o que passa na cabeça das pessoas (para além do facto de não saberem somar 2+2).

Deixe um comentário

Mantenha-se no tópico, seja simpático e escreva em português correcto. É permitido algum HTML básico. O seu e-mail não será publicado.

Subscreva este feed de comentários via RSS

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.