Negócios e conservação da natureza
Não foi possível comentar anteriormente uma discussão gerada no blogue Ambio, sobre o facto de o Banco Espírito Santo ter apresentado uma estratégia de apoio e conservação da biodiversidade.
Confesso, que da nota de imprensa, não percebo muito bem o que se passa. Não entendo (como sempre) o que na prática se vai passar e o que de facto vai chegar de positivo à biodiversidade. Já no que refere ao banco, entendo sem grandes explicações que pelo menos, melhoram a imagem imediatamente, embora aquele verde berrante que escolheram nunca lhes vá cair bem e arrisca-se mesmo a ficar fora de moda.
É uma pena que os comentários tenham logo começado inquinados com o anonimato. Pessoalmente, não aceito muito bem uma conversa que se quer construtiva com anónimos. Encaro os blogues como outra faceta da vida do dia a dia, não compreendo o anonimato neste contexto.
No entanto, Henrique Pereira dos Santos, achou por bem responder… Coloca questões que não são de resposta fácil, mas o facto é que não me agradam os argumentos apresentados.
Pergunta o Henrique Pereira dos Santos se o que tem sentido é discutir a “pureza ambiental” do BES para entrar “no mundo moralmente superior dos que não têm interesses económicos” ou deixar as instâncias normais funcionarem.
O funcionamento normal das instâncias normais, está à vista de toda a gente e é discutido diariamente, logo, isso como argumento fica curto. A conversa do “mundo moralmente superior” é de pura chacha e traduz uma filosofia que agora está muito em voga. O que o anónimo referiu e acho que é legítimo, é se esta é uma atitude que espelha uma nova filosofia do banco, se é apenas mais uma área de negócio ou puro “greenwash”.
E é legítimo porque, por azar, volta-se a falar do caso Portucale. Mas nem era necessário, porque em termos imobiliários, os bancos quando não são os promotores de mais um projecto em Rede Natura, são verdadeiras sombras dos empreiteiros.
Pelo que entendo do que o Henrique Pereira dos Santos diz, é impensável ser “greenwash”, de nova filosofia não parece ter nada, portanto, deve ser uma área de negócio. Ora, eu tenho um problema com negócios ligados à biodiversidade.
Primeiro, porque parece que tendem a encontrar biodiversidade de primeira (digamos, espécies cinegéticas para esses grandes amigos da natureza que são os caçadores) e biodiversidade de segunda categoria. Além disso, atribuir um valor de mercado a valores naturais que para mim são intrínsecos, nada garante que de hoje para amanhã, a mudança do mercado não promova a destruição desses mesmos valores naturais, às mãos de exactamente as mesmas entidades.
O Henrique Pereira dos Santos fala em contaminação da actividade económica com os valores da biodiversidade, onde eu vejo uma verdadeira quinta coluna dos poderes económicos nos últimos redutos de natureza que ainda existem. Há dúvidas em quem tem a real capacidade de contaminar o quê? Tenha paciência caro Henrique Pereira dos Santos.
A razão porque os “malandros” da União Internacional para a Conservação da Natureza apoiam este processo desde o início, na minha opinião, espelham o falhanço dos esforços de conservação destas últimas décadas e é um vergar de princípios a quem de facto detém o poder. É praticamente um “não podes vencer, junta-te a eles”, mendigando as migalhas que sobrarem da exploração natural generalizada, constituindo reservas ou pseudo-reservas, que mais do que reservas naturais, são vistas por esse poder, como reservas de recursos, a utilizar quando o desejo por mais assim o ditar.
Por fim, acho lamentáveis os argumentos do Miguel B. Araújo. Eu julgava que a utilização da palavra “fundamentalista” e derivados estava confinada aos Fernandos “corram-nos à pedrada” Ruas desta nação. E confinada, nem é a melhor designação, porque eles andam por aí a granel.
E compara o futebol, a cultura e o ambiente? Se o BPI trabalhasse activamente em projectos de destruição cultural, ficava bem a Serralves receber o seu apoio? Receberia?
E tinha que vir com o futebol? A comparação é tão boa, que “os três grandes” habitualmente têm o mesmo patrocinador principal para não ferir susceptibilidades dos sócios, que como se sabe são muitas. Ou seja, o facto do BES investir apenas no FCP era capaz de lhe trazer dissabores em Lisboa… Exactamente ao contrário do que diz.
Parece é que no ambiente está tudo bem se de inúmeras acções prejudiciais dos “agentes económicos”, caírem umas migalhas para a biodiversidade. Está é tudo mal.
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