Histórias de José Marques Loureiro (3)
José Marques Loureiro era natural de Besteiros, distrito de Viseu. Pode-se dizer que a sua carreira como horticultor começou com apenas 15 anos, quando veio para o Porto. Assim conta Duarte de Oliveira no Jornal Horticolo-Agricola.
O professor na escola de aldeia onde aprendeu os rudimentos da língua portuguesa, era também um escultor de grotescos santos de madeira.
Um dia, depois da aula, dizia aos discípulos o homenzinho, que acumulava o ofício de esculpir e ensinar:
— Ajoelhem-se meninos, diante deste santo e rezem.
Os rapazes ajoelharam-se e o Josésito, com muita fungadela de riso, virou-se para o mestre e resmungou:
— Eu não me ajoelho. Isto não é um santo, é um boneco que vocemecê acabou ontem de fazer.
Aí é que foram elas. Caiu uma carga de palmatoadas no desgraçado José, que desatou a fugir para casa com as mãos que pareciam cepos.
— Meu pai! Meu pai! Veja estas mãos! — gritava desesperadamente, em grande pranto.
— Que é isso?
— Foi por eu dizer ao senhor mestre que, o mono que ele fez, não era um santo mas sim um boneco.
O pai, que era uma abençoada criatura, irritou-se com a história e quis tomar contas ao fabricante de imagens, mas o rapaz demoveu-o disso, manifestando-lhe desejos de ir para o Porto.
— Ah! Se eu fosse para casa seu amigo Pedro! — suspirava o pequeno José.
Era Pedro Marques Rodrigues, o conhecido Pedro das Virtudes, que fundara o primitivo estabelecimento da Rua dos Fogueteiros.
— Isso não é possível; sou muito amigo dele, mas bem sabes os desgostos que me está causando no Porto, o teu irmão Francisco, esse estroina que não tem cabeça para se governar.
— Mas o pai bem sabe que eu não sou o Francisco — obtemperou muito cabisbaixo.
Escreveu-se ao senhor Pedro Marques e ele acedeu ao pedido, atendendo à circunstância do rapazola saber ler e escrever, entrando o José, e seguindo para o Brasil o irmão Francisco, que estava ao seu serviço e que tão más contas dava de si.
Eis aqui como principiou a carreira do pai legítimo da horticultura portuguesa, o querido José Marques Loureiro, que iniciou por causa de um santo, e que ele, com uma teimosia de criança, ainda bem pouco antes do seu passamento afiançava que era um mono, abrindo as mãos, como quem procurava ainda encontrar nelas os vestígios das palmatoadas dadas por essa fera domesticadora de crianças.
Mas, abençoado mono; abençoado santo que fizeste de um homem que, sem ti, ficaria eternamente desconhecido, um dos grandes vultos do nosso pequeno país, onde os beneméritos são tão escassos.
Uma resposta para“Histórias de José Marques Loureiro (3)”
Em busca de imagens de José Marques Loureiro, já que a esfingie em sua homenagem desapareceu do pedestal da “Flora”, no jardim da “Cordoria” no Porto, deparo-me com esta curiosidade muito interessante sobre esta figura ímpar para os jardins de Portugal e em particular para a cidade do Porto e que certamente vai despertar o interesse dos meus alunos.