Greenwashing

E mais um comentário sobre o greenwashing, agora omnipresente: O que vai acontecer é muito simples. Consumidores bem intencionados vão chegar à brilhante conclusão que afinal o seu esforço, designadamente financeiro, a comprar produtos mais caros e “verdes”, não deu em nada. Brevemente deve estar para aparecer o outro lado desta moeda e voltaremos ao “business as usual” de onde na verdade nunca se saiu. Individualmente também ninguém faz o mínimo esforço e estou em crer que este marketing manhosamente verde resulta porque as pessoas gostam de ser enganadas. Sentem-se bem com isso. Dói menos.
Em breve o verde deixará de ser o novo preto. O preto será o novo preto, que aliás nunca deixou de o ser.

Uma resposta para“Greenwashing”

  1. jardineira aprendiz

    Não seria melhor ver o greenwashing como um começo? Depois as pessoas vão aprender a separar o trigo do joio e a saber o que realmente é verde. Os falsos verdes é que vão voltar a ser pretos, ou então tornar-se realmente verdes.

    Porque não há alternativa viável. Então é melhor jogar pelo optimismo, ou entramos em depressão!

  2. José Rui Fernandes

    Em depressão já nós andamos, não sei é se é pelos melhores motivos :) .

    Honestamente, o meu texto vai no sentido de só haver joio. Os senhores da Sonae enchem a boca com 100.000 árvores das quais, vão sobreviver quantas? 1.000? Talvez nem tantas, a menos que sejam plantadas em jardins com todos os cuidados. Tudo treta.

    Não interessa nada eu cultivar uns metros quadrados sem químicos, quando como até já documentei, é a própria câmara que agora limpa as ruas com herbicidas.

    Conheço vegetarianos que andam literalmente a raspas todo o ano para irem ao Brasil nas férias, deitando por terra um suposto esforço para uma vida com menos impacto ambiental.

    Conheço quem não se poupe a despesas para comer só biológico, ande nas “ondas budistas” — e ondas é uma forma de dizer, é mais nas nuvens — e passe a vida a voar realizando dezenas de viagens turísticas por ano, nas quais incluo o indispensável turismo científico.

    Greenwashing como começo, só se for do fim. Na melhor das hipóteses vai ser mais uma irrelevância.

  3. Francisco Carvalho

    não desespere… isto é uma luta altamente desigual… no fim ganham sempre os mesmos, basta ver a campanha altamente enganadora da Água Serra da Estrela… parece que é “cool” proteger o ambiente, mas só à frente dos mass media… porque não faz um post sobre o Rock in Rio??? esses também enganam bem… eu é que não vou lá…

  4. jardineira aprendiz

    Mas a consciencialização é o primeiro passo! É claro que muitas iniciativas são hipócritas, ou na melhor das hipóteses ignorantes (os responsáveis pelo marketing da sonae sabem lá qual é a altura de plantar! Ou sabem lá a diferença entre uma árvore inteira e uma árvore decepada!)

    Mas o facto de se falar das coisas é um começo e muita gente irá tentar perceber a causa das coisas. Nunca se falou tanto de equilíbrio ecológico. Nunca se falou tanto da pobreza. Muita gente nem sabia da gravidade dos problemas nem das causas. Esta semana veio um artigo na Visão sobre a crise alimentar que fala da especulação financeira com os alimentos, e sobre o aumento astronómico dos lucros das empresas de agroquímicos numa altura de crise alimentar. Há muitos anos que conheço o comportamento predatório destas empresas, mas quem até agora queria ouvir falar nisso? Agora as pessoas sentem a necessidade de perceber porque as está a começar a afectar. E estão a começar a acordar, porque não têm outro remédio. Vão ter que perceber a diferença entre o verde verdadeiro e o falso.

    Eu fico animada quando vejo produtos de comércio justo nas prateleiras do supermercado, com todos os senãos que possam ter estas cadeias de distribuição, e mesmo todas as coisas menos claras que possam estar associadas a algumas etiquetas de comércio justo (que as há).

    Não são mudanças que permitam consertar toda a porcaria que vai sendo feita. Mas são um ponto por onde começar, a estimular. Não é à toa que os gurus do pensamento positivo têm tanto sucesso. Eu acredito que o reforço positivo nas coisas que valem a pena podem fazer a diferença. É preciso regar o trigo e pôr herbicida no joio! (salvo seja!) (E eu não quero entrar em depressão!)

    Bem, peço desculpa se estou a ser chata, mas esta questão parece-me importante!

  5. Alexandre Leite

    “Porque não há alternativa viável. Então é melhor jogar pelo optimismo…”

    Se não há alternativa viável, porquê o optimismo??? (mas realmente se não há alternativa, também não adianta estar deprimido…)

    Parece-me que a “solução” passa pela busca de uma alternativa. Mas rapidamente, antes que isto afunde. E uma alternativa que seja forte e duradoura!!!

    Ao mesmo tempo é preciso acabar com o capitalismo!

  6. José Rui Fernandes

    os responsáveis pelo marketing da sonae sabem lá qual é a altura de plantar! Ou sabem lá a diferença entre uma árvore inteira e uma árvore decepada!

    Mas isso parte de um princípio de uma pureza de intenções em que eu não me acredito. A ignorância não explica tudo e muito menos desculpa — pelo menos a este nível. Eles sabem muito bem o que fazem.

    Esta semana veio um artigo na Visão sobre a crise alimentar que fala da especulação financeira com os alimentos, e sobre o aumento astronómico dos lucros das empresas de agroquímicos numa altura de crise alimentar.

    Sim e na Quadratura do Círculo falaram na crise alimentar (na vertente preços altos) e uma das soluções que pode mitigar o problema segundo José Pacheco Pereira, são os transgénicos. Etc, etc.
    As figuras públicas, “opinion makers”, estão pouco sensibilizadas para o problema e as que estão tendem a não ter qualquer tipo de credibilidade. Cada vez é mais difícil encontrar gente a seguir o que preconiza para os outros. Veja o caso do Al Gore — tomou medidas para ter uma vida “carbono zero”, mas alguma vez lhe passou pela cabeça que para toda a gente ter a sua vida carbono zero, não chegava o sistema solar inteiro? Passar a viver numa casa menor é alternativa para essas figuras públicas? Com os seus Prius nas garagens e deslocações de avião ou helicóptero? E eu nem sequer acho que somos ou devemos ser todos iguais — mas não vale a pena exagerar nas diferenças, principalmente quando isso coloca em causa o próprio planeta e para quem se preocupa com essas questões, a existência condigna do semelhante.
    Nesse aspecto o nosso país tornou-se exemplar e ainda não vimos nada.

    É preciso regar o trigo e pôr herbicida no joio! (salvo seja!)

    Acho que isso é que tentamos fazer com estes blogues, à nossa diminuta escala. Mas é o que diz o Francisco Carvalho, a luta é altamente desigual.

    Bem, peço desculpa se estou a ser chata, mas esta questão parece-me importante!

    Nada chata.

    Ao mesmo tempo é preciso acabar com o capitalismo!

    E a alternativa será qual?

  7. Alexandre Leite

    A História dirá qual será a alternativa à barbárie (ao capitalistmo).

    Claro que podemos fingir que não há alternativa ao capitalismo e continuar a pintar de verde o que é preto…

    Mas procure “alternativa à barbárie” no Google e veja o resultado :)

    Cumprimentos

  8. Francisco Carvalho

    “a existência condigna do semelhante”

    Para mim, esta sua frase resume os milhões de problemas do mundo, ou seja, ninguém se preocupa com o seu semelhante… e se nem com o seu semelhante, quanto mais com o planeta e toda a sua biodiversidade. A ganância falará sempre mais alto… é pena, mas dos quase 7 biliões de pessoas no planeta, poucos não olham apenas para o seu próprio umbigo…

  9. José Rui Fernandes

    Mas procure “alternativa à barbárie” no Google e veja o resultado :)

    Ah, a revolução vai ser googlada. Tudo bem.
    Segundo os resultados e um até é explícito, a “alternativa à barbárie” é o bom velho socialismo. Ou seja, hoje usa-se o Google para viajar no tempo 100 anos. E olhe que não é para a frente. Além disso, já passei a fase dos chavões. Não sei o que é isso da barbárie.

    Está a ver como as coisas são? Critíca-se uma situação x, vem aqui um visitante falar da barbárie e quando dou por mim já estou a defender o capitalismo. É que barbárie por barbárie, sempre prefiro a que me dá alguma liberdade à barbárie explícita, provada e comprovada, do socialismo.

    E não haja dúvidas, mesmo sem contar com tudo o resto, o registo ambiental dos países que experimentaram a “alternativa à barbárie” foi digno de registo.

    Remeto-o para a banda desenhada de John Porcellino do meu post anterior. Se ler essas curtas páginas, situadas em 1845 (portanto anteriores à “barbárie” e ao socialismo), facilmente chega à conclusão que não vai ser com chavões e ideologias retrógadas que vai resolver problemas que se arrastam há centenas de anos e que agora se agudizam porque finalmente existem os meios para consumar o fim.

  10. José Rui Fernandes

    mas dos quase 7 biliões de pessoas no planeta, poucos não olham apenas para o seu próprio umbigo…

    Agora é a minha vez do chavão: As questões são muito complexas. Lembre-se que desses mesmo muitos lutam para sobreviver no dia a dia, coisa que nós, já não sabemos o que é, diria, há muitas gerações. Nessa perspectiva, entram as leis mais cruéis da natureza e entre morrer à fome ou extinguir mais umas plantas e uns animais… Bem, eu acho que para eles esse problema nem se coloca, nem seria entendido.
    É por isso que paradoxalmente, em África, é o desenvolvimento (económico) das populações que acaba por permitir criar reservas e salvar alguma coisa — mas também é certo que a montante e jusante, a pilhagem é completa, a começar pelos governantes (a maior parte não é filha directa do tal socialismo caro Alexandre Leite, designadamente em Angola?).

    Para mim esse número é o problema número um do Mundo. Há gente a mais. Por isso eu disse “para quem se preocupa com essas questões”, eu não me preocupo. Lamento e emocionam-me as situações particulares de pobreza e sofrimento extremo, mas na “big picture” tenho uma visão totalmente ecocêntrica. O Homem só me interessa como parte de um todo.

    Por exemplo, comecei a contribuir para a UNICEF quando se deu o tsunami (ou maremoto), porque aquelas crianças (vivas) partem o coração. Mas não senti qualquer tipo de emoção com o número de mortos. Nem agora com o ciclone na Birmânia. Aliás, já que falamos disso, o governo de inspiração socialista, já deve ter provocado mais mortalidade que vários ciclones juntos. Antes de promoverem o nome Myanmar o nome completo era a República *Socialista* da União da Birmânia. É mais um, caro Alexandre Leite, que como alternativa ao capitalismo falhou rotundamente em impressionar-me.

  11. Alexandre Leite

    Penso que sabe que nisso dos “socialismos” acontece a mesma coisa que com os “comportamentos verdes”, descasca-se um bocado da tinta e logo se vê a sua verdadeira cor.

    Essa do “Há gente a mais” também me parece um pouco retrógrada. Imagino que os que estão a mais são os africanos e os asiáticos, e por isso não se emociona com os desastres ambientais que lá aconteçam…

    Mas se quer acreditar que a situação de Angola é causada pelo socialismo então não insisto.

    Cumprimentos

  12. Francisco Carvalho

    para dizer a verdade, também vejo muitas vezes esses desastres naturais e os milhares de mortos que causam com um certo distanciamento(muitos dirão com grande desumanidade), tendo em conta que somos mesmo muitos para um planeta tão frágil… também é esse um problema global e sem dúvida uma das principais razões para o estado actual do mundo… e claro, o socialismo não será solução nenhuma e muito menos ditadorzecos como o senhor Chavéz… mas também temos que ter em conta que o neo-liberalismo não é solução para nada… basicamente o mundo está numa encruzilhada, ou então já seguiu mesmo o caminho para o abismo…
    quanto aos sete biliões tem razão, os verdadeiros culpados estão basicamente reunidos na Europa e América do Norte, apesar da China também estar a fazer um “belo trabalho” no neo-colonialismo que vem impedindo muitos países de saírem do seu marasmo económico…

  13. José Rui Fernandes

    Penso que sabe que nisso dos “socialismos” acontece a mesma coisa que com os “comportamentos verdes”, descasca-se um bocado da tinta e logo se vê a sua verdadeira cor.

    Exacto e a sua verdadeira cor é o capitalismo. Essa também já é velha.
    Mas olhe que em Cuba até já há computadores. Em muitas coisas, felizmente o tempo não volta para trás.

    Essa do “Há gente a mais” também me parece um pouco retrógrada.

    Não vejo como. A demografia está obviamente no topo dos problemas ambientais de hoje. Amplamente documentado, nem sempre como o maior problema (até imagino porquê), mas entre os maiores.

    Imagino que os que estão a mais são os africanos e os asiáticos, e por isso não se emociona com os desastres ambientais que lá aconteçam…

    Quando quiser discutir demografia e taxas de natalidade, esteja à vontade. Logo se verá “quem é que está a mais”, como inteligentemente colocou o problema.
    Para me vir aqui dar lições de moral vai precisar de se esforçar um bocadinho mais. Só distorcer o que eu digo de acordo com o que lhe dá jeito parece-me curto.

    para dizer a verdade, também vejo muitas vezes esses desastres naturais e os milhares de mortos que causam com um certo distanciamento(muitos dirão com grande desumanidade), tendo em conta que somos mesmo muitos para um planeta tão frágil…

    E os que dizem isso são sempre os santarrões e moralões. São os mesmos que nunca mexendo uma palha criticam que se ajude os cães e os gatos porque “há tantas criancinhas a passar fome”. É assim.
    O senhor Chávez é obviamente um dos heróis do socialismo de hoje. Para já tem a almofada do petróleo, mas o futuro da Venezuela é o caos e a miséria, a história sempre nos ensina alguma coisa. Como “herói”, ter no curriculum não alinhar com George W. Bush, é escasso — mas não alinha só nas palhaçadas televisivas que encena, porque no que interessa, o petróleo tanto quanto se sabe continua a fluir para o lado do amigo americano.

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