O aumento dos preços dos combustíveis como incentivo
Vítor Constâncio, essa constante do sistema financeiro português, considera “que esta alta dos preços do petróleo é um incentivo para a economia de energia e para o desenvolvimento de alternativas” (Agência Financeira), ou seja, para a eficiência energética em todas as suas componentes.
Acho que se exige mais a um Governador do Banco de Portugal do que este nível de vacuidades que qualquer português consegue esgrimir na mesa do café. Não se percebe como pessoas informadas, do alto dos cargos que ocupam, não previram esta crise desde… os anos 70.
Enquanto estas pessoas prevalecerem, o nosso país nunca será desenvolvido. É mais fácil construir um aeroporto baseado em pressupostos que são desmentidos diariamente (Ambio), do que implementar uma rede de ciclovias nas cidades.
Para esta gente, o sinónimo de eficiência energética é substituir o ar condicionado e as viaturas por novos modelos. Isso, e o zé povo apertar o cinto. Porque não dão o exemplo em nada — nada!
Uma resposta para“O aumento dos preços dos combustíveis como incentivo”
Hoje já quase toda a gente percebeu que acabou a comida barata, a energia barata, os combustíveis baratos ou a água barata. Estão a tornar-se bens de luxo ou quase, a que cada vez terão mais dificuldade de acesso as classes médias e de menores rendimentos.
Como é possível que o governo português ainda recentemente tratasse a questão dos combustíveis como uma birra dos condutores mal habituados, subordinada em termos de importância ao equilíbrio orçamental ? Onde estão as previsões e as medidas preventivas que seriam de esperar de um governo responsável ?
Como se explica a resignação e passividade da Europa perante o encarecimento acelerado de produtos de que dependem os seus mais básicos padrões de vida, ao ponto de ter que ser acordada por um Manuel Pinho ansioso por encontrar bodes expiatórios ?
São todos incompetentes e irresponsáveis ou há outras explicações para este fenómeno ?
Convém talvez compreender que, mesmo dentro de um país como o nosso, nem todos são afectados da mesma forma e alguns até podem sair beneficiados destas crises. Quem exporta para Angola e é pago pelos rendimentos do petróleo talvez não tenha razões de queixa, ou quem é accionista da Galp, ou quem vende para a Venezuela às cavalitas do governo de Sócrates, ou quem tem sempre os combustíveis, e não só, pagos pelas empresas ou pelo Estado.
Esta questão dos preços do petróleo, do acesso ao crédito e aos produtos alimentares pode afinal ser, no essencial, mais uma forma de certas classes expoliarem outras.
Também ao nível internacional, nomeadamente na Europa e EUA, conviria perceber quem ganha e quem perde com este terramoto. Para sabermos se estamos perante aprendizes de feiticeiro que jogam um perigoso xadrez contra as potências emergentes, em que as peças são poços de petróleo e mísseis nucleares.
Convém lembrar que alguns dos bens de primeira necessidade baratos, foram mantidos assim artificialmente. Isso libertou as populações ocidentais para se lançarem em todo o tipo de gastos supérfulos que alimentaram o crescimento desmesurado de certas indústrias e fortunas.
O nível de consumo ocidental é insustentável (do ponto de vista dos recursos planetários) e só possível quando noutro lado há gente literalmente a cair de fome. Junte-se um demografia imparável, países emergentes que querem viver como os ocidentais, desastres ambientais nunca vistos… E temos escassez de quase tudo — água, metais, petróleo, cereais, energia, etc, etc.
Mas muitas destas consequências estão mais que previstas e discutidas há décadas. O que não se fez, foi implementar medidas atempadamente (veja-se agora o que se passa com o ambiente — conferências é fácil de organizar e até dá para fazer algum turismo). Preferiu-se o facilitismo e o dinheiro que não custa a ganhar. A Noruega tem um fundo colossal que construiu para quando o seu petróleo acabasse (porque obviamente sabem que vai acabar), outros mais ao estilo cigarra, não têm nada. Têm dívidas e deficit.
Para mim o preço do petróleo como culpa dos especuladores também não colhe. Pode haver uma componente daí, mas é a procura que dita o preço, porque quem achar caro pode sempre não comprar. Por outro lado, um sistema financeiro tão permeável ao especulador, para mim não serve (e na verdade suponho que foi desenhado assim).
Resumindo: Está complicado.