Aves de rapina
Lá fui eu decidido a plantar, no mínimo, quatro nogueiras e 10 castanheiros, além de uma pequena Uva-do-oregon — que foi das poucas plantas que até agora conseguimos fazer crescer de semente com sucesso.
Estava quase a chegar e já andava o Sr. Laureano a podar. Parei para o cumprimentar e combinei ir a casa dele à hora do almoço.
No Sargaçal estava tudo rigorosamente na mesma. Tal qual ficou na semana passada. Choveu bastante na Quinta-feira e o Sr. Américo e Sr. Zé não foram, o Cláudio, também não — aliás, não foi toda a semana, excepto uma tardita. E por falar no meliante, nem sinal dele. Saco do telefone, fuminho já a querer sair. Acordei o trabalhador… doía-lhe a cabeça… não pode ir… talvez de tarde…
E pronto, já estava a ferver outra vez. Adeus descanso. Este terreno não é anti-stress. Pelo contrário. Vou acabar por ficar maluco.
Preparava-me para mais um dia sozinho, com trabalho a mais só para mim, quando no céu, mesmo por cima, vejo cinco aves de rapina a voar em círculos. Observei-as demoradamente. Andaram por lá todo o dia. Às vezes cinco, outras três ou duas. Não sei que aves são, mas são lindas. Pelo menos tenho a companhia das aves.
Comecei logo por plantar a Uva-do-oregon, foi fácil e já tinha sítio, junto aos bolbos. De seguida recolhi algumas folhas e pus no monte, mas estava demasiado vento e desisti. E assim se acabaram as tarefas fáceis.
Na Fonte do Cavalo, o Cláudio tinha passado com a roçadeira, mas limpar os detritos à tonelada, ficou para mim. Sem isso não podia fazer os buracos para os castanheiros. Toda a manhã a acartar aquela entulheira com um ancinho. Consegui fazer bolhas nas mãos.
Fui a casa do Sr. Laureano para o almoço. No caminho romano (pelo menos é o que dizem), vinham duas enormes vacas na minha direcção, encostei-me ao muro bem encostadinho, na esperança que nem notassem que lá estava. Atrás, vinham o Sr. “Jacé” (que é a pessoa mais velha ainda a trabalhar por lá, deve ter 89 ou 90 anos) e o Sr. Resende! Que surpresa. Há meses que não o via. Pelos vistos, deixou de aparecer porque empenou duas costelas e andou à rasca. Nem fez o vinho. Hoje também não podia aparecer porque estava com as vacas. Fiquei de ir ter com ele a um terreno que ainda não conhecia, perto do ribeiro. Depois do almoço lá fui.
Fiquei a conhecer um novo caminho que vai dar a uma ponte de pedra sobre o ribeiro. Muito bonito. O terreno também é muito bonito, começa nessa ponte e acompanha sempre o ribeiro. Ele vende-o, mas não tem acesso para viaturas. Infelizmente, do Sr. Resende só vi o boné e as vacas. Ainda chamei, mas nada. Regressei ao Sargaçal, porque tinha muito que fazer.
Lá andava o Cláudio! Menos mal. Eu tinha deixado a ferramenta para tirar os bardos lá à vista e ele deduziu bem que era para tirar bardos. Andou toda a tarde nisso.
Tratei logo de plantar duas nogueiras. Depois, fiz doze buracos, acartei composto, recolhi uma carrela de pedras (que vão servir para encher um buraco no Lameiro Pequeno) e plantei mais duas nogueiras. Ajudei o Cláudio com os bardos e entretanto começou a ficar noite. O grande trabalhador foi embora e plantei um castanheiro. Estava decidido a plantar mais nove, às escuras. Depois, desisti. Quero aquilo bem alinhadinho e na verdade não se via nadinha. Era impossível fazer o alinhamento.
Meti lenha no jipe e regressei.
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