O prodígio
No Público, o governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio rejeitou que as actuais dificuldades se devam à união monetária. O euro contribuiu para a “década prodigiosa” de 90, com “ganhos extraordinários” na qualidade de vida da nação: “75 por cento [das famílias portuguesas] têm casa própria, temos mais automóveis por habitante que a Dinamarca.”
É nestas alturas, que eu, que até nem sou contra salários altos e no presente já sou a favor da união monetária, questiono o valor dos salários destes senhores. Argumentozinhos fáceis, vindos de quem ganha mais de 19.000 euros por mês, não admito.
Mas qual década prodigiosa? 75 por cento com casa própria? Que casa? Paga na íntegra? Com que taxa de esforço? Mais automóveis que a Dinamarca? Como é que se tem o desplante de mencionar um país como a Dinamarca? Sublinhar uma futilidade poluidora rodoviária como indicador do que quer que seja? No mesmo jornal, refere-se o recorde mensal de vendas da Porsche, de onde se conclui que o problema português afinal é dinheiro a mais. O senhor governador quererá abordar nem que seja superficialmente outros indicadores da Dinamarca e de Portugal, considerando que é um país da dimensão do nosso?
Os números que o próprio Dr. Vítor Constâncio apresentou, anunciam nada menos que uma recessão. O problema já não é convergir com a Europa, é crescer, nem que seja uma décima. O que não vai acontecer, porque se nesta fase estão previstos apenas 0,5%, vamos acabar em números negativos. É escusado vir com “décadas prodigiosas” e outros “prodígios”. No actual estado da nação, misto de incompetentes, oportunistas, verdadeiros maus carácteres e abjecções diversas, temo que o ambiente vá sofrer mais que nunca. Basta acenar com lucros fáceis e investimentos milionários e não há REN, RAN e plano director que resista, na lógica de curto prazo que preside toda a acção governativa com ciclo de quatro anos, sem desígnios, estratégia e objectivos nacionais, que a norteiem.
Deixe um comentário