No Sábado, acordei e estava assim
Era o dia de chegar a família e da caminhada organizada pela Associação para a Defesa do Vale do Bestança. Eu não fui, tinha montes para fazer. Resolvi telefonar ao Cláudio… ele queria que eu levasse uma televisão a Cinfães, estava avariada.
Lá fui eu buscá-lo. Quando cheguei, não o vi, resolvi ir ver como estava o movimento para os lados da Associação. Uma quantidade de gente assinalável, 60 pessoas ou mais para a caminhada e chovia.
Dei a volta para ir buscar o meliante. Nada. Um frio desgraçado, ali parado… Mesmo assim, lá comecei a ferver. Telefonei — “mais dez minutos, estou a acabar de tomar banho”. É preciso uma lata incrível. Estava eu na Casa de Montemuro no bem quente, podia estar a ler, a escrever no computador, ou outra coisa. Vou buscá-lo e em cinco minutos atrasa-se meia hora?
Foi por um triz que não arranquei, mas quando chegou, disse-lhe claramente que na próxima, nem que tenha um elefante para levar. Que lhe pegue pela tromba e que o leve às costas. Não há paciência.
No dia anterior, tinha ido almoçar às 13h, voltou às 15h. “Atrasei-me”. São 10 minutos de caminho, quer dizer, atrasou-se como? Nessa tarde, quando paramos para lanchar, noto que me faltava um pão. De manhã tinha-lhe dito para comer um, para ficar com um para de tarde. Comeu os dois na maior das limpezas. Um abuso.
No Sábado, mais ao fim da tarde, fomos embora porque chovia demasiado. Já no jipe, disse-lhe para tirar um pão da mochila, mas para o comer depois que não queria migalhas. Fez a primeira parte e insolentemente, tirou o guardanapo e pimba, uma dentada. Fiquei boquiaberto. Há limites para a falta de educação e para as atenuantes todas e mais algumas. Só por uma questão de reenquadramento, levou quatro berros que mais pareceram oito. Ainda fiquei mais enervado, porque a Luisa ia no banco de trás e nunca tinha visto o pai aos berros daquela maneira. Tive que lhe explicar que o Cláudio era um comilão e eu fiquei zangado.
Passou ao modo “desgraçadinho”, mas eu é que estava passado. Por causa da Luisa, desanuviei o ambiente, mas a sucessão de insolências já me estava a tirar do sério, disso não há a mínima dúvida.
No Domingo, só para eu ser reenquadrado, não apareceu de manhã, nem apareceu de tarde. Foi quanto poupei. Agora volta a aparecer quando precisar de dinheiro. É triste. E eu só mesmo por caridade é que não lhe digo que o trabalho não é facultativo, nem só quando ele quer.
Em Setembro comprou uma roçadeira. Como a minha estava desafinada, pediu para ir com a dele (dobro do preço). Lá acedi e acabei por pagar praticamente a roçadeira nova. Achei positivo ter investido num instrumento de trabalho. Como em Setembro, consequentemente, o dinheiro foi mais, em Outubro trabalhou zero dias. É impressionante.
Aliás, este ano trabalhou o equivalente a 1.009 euros (já a contar com esses dias da roçadeira). Menos de metade de 2004. Fora isto, deu meia-dúzia de dias a outras pessoas. Não me perguntem como se consegue viver assim. Não sei.
Tudo isto num contexto em que eu dei a ideia que ele podia ir para o Casal como caseiro, uma propriedade do Sr. Resende, que está bastante doente. Inclusivamente cheguei a abordar o assunto com a irmã, a D. Hermínia, que é que nos tinha vendido um dos terrenos. É essencial que ele saia de casa, antes que dê mau resultado. Andou os dias entusiasmado com a possibilidade, mas revelou em duas ou três tiradas a mentalidade enraízada — não vai fazer arranjos naquilo que é dos outros, nem plantar árvores de fruto naquilo que não é dele, etc. Enquanto houver tecto de borla e fruta para colher, está tudo bem. Uma conversa de chacha.
Dizem-me para o ajudar, mas sinceramente não sei como. Cada passo que se dá para a frente, ele dá logo dois ou três atrás. Vai ser difícil.
Entretanto telefonou-me. Também já aprendeu a deixar passar dois ou três dias para a coisa acalmar. Nesse aspecto está a ficar esperto, porque era bem capaz de levar mais quatro berros à conta de Domingo. Mas não, lá estivemos a conversar disto e daquilo. Muitas desculpas por não ter ido no Domingo, estava com uma dor de cabeça, que até teve de tomar dois “benurões” (o plural de Ben-u-ron, pelos vistos), nem à Festa da Castanha foi. Diz-me que assassinaram um farmacêutico com uma caçadeira, num assalto. Foi na farmácia onde eu já tinha ido várias vezes. A pouco e pouco, lá se vai desvanecendo o resta da imagem idílica de pacatez do interior.
Este progresso, toda a gente dispensa.
A fotografia é tirada da Casa de Montemuro. O nosso terreno fica nas nuvens lá para baixo.
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