Um almoço revelador
Fui almoçar a Cinfães (principalmente para marcar o quarto) e parte da conversa com uma pessoa que conhece extremamente bem a região tem alguma relação com os cães abandonados. Foi a confirmação de algo que eu já suspeitava e de muitas coisas que eu já sabia. É escusado encarar a vida no campo com grande lirismo.
Há muito mal no campo. Mesquinhez atroz. Inveja desmesurada. Há uma evolução interrompida. Muita animalidade e “comportamentos quase simiescos”. Talvez isto seja chocante para muita gente, para mim é em parte. Não é totalmente porque já passei por algumas situações de perto. Tenho mais de um ano disto. Os intelectuais de esquerda que por aí andam, gostam muito de falar da “América profunda” a propósito de tudo e de nada; um dia destes deviam debruçar-se sobre o “Portugal profundo” e explicar-nos uma série de comportamentos bem enraizados neste zé povinho.
Em Vila de Muros, há muito pouca gente e conheço pessoas espectaculares. Mas, no geral, ninguém se dá com ninguém. Todos têm que dizer de alguém. São os caminhos. É a água (mais que abundante). São os animais. É o lixo da borda de cima que cai para a de baixo. São as terras. Tudo tratado com a mais refinada mesquinhez. Sentido comunitário, nulo. Lixo para as ribanceiras (Ah! Já há contentor de lixo, que ninguém usa pelos vistos). Linhas de água atulhadas. O vizinho do lado que as limpe.
O primeiro a chamar-me a atenção para isto foi o Cláudio, por estranho que pareça, há mais de um ano, nos primeiros dias de trabalho. “O senhor não conhece as pessoas daqui”, disse-me ele já a propósito não sei de quê.
Mesmo na Associação de Defesa do Bestança, não há misturas. É a velha máxima de cada macaco no seu galho, levada muito a sério.
O que se passa por aqui não vai encher grandes livros de poesia. Isso é certo.
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