Gelo na estrada e no campo


Já tinha eu passado o Marco de Canavezes, quando entro numa curva bem de lado. Era uma camada de gelo, o dia prometia ser frio.

Quando cheguei ao terreno, a primeira coisa foi colocar as coberturas de protecção nos citrinos. Mesmo na hora, mas infelizmente faltaram três (comprei 12). Duas laranjeiras estão num local mais abrigado e aguentam-se, a outra já está a sofrer. Para a semana tenho de levar mais coberturas sem falta.
Na primeira tangerineira, o plástico estava duro com uma placa de gelo por cima. Segundo o termómetro do jipe, estavam 4°C. Queria tirar umas fotografias a uns motivos gelados, mas resolvi deixar para o dia seguinte.
O Cláudio andava lá em cima nas limpezas e lá apareceu para passarmos directamente às plantações. Plantamos nove árvores. Para minha surpresa, a leira onde estamos a plantar esse pomar já tinha mais um monte de detritos vegetais à entrada. Ora, eu na última vez considerei aquilo limpo, de onde apareceu mais este monte? Tinha sido o Cláudio que resolver dar uma passagem com a roçadeira. Já sem contar depois mais tarde, com mais uma esfregadela junto à levada (que lá passa). Mais uma montanha de lixo. Se me ponho com detalhes, daqui a um ano ainda ando a plantar (estas) árvores!
Depois fomos fazer quatro buracos para Nogueiras (Juglans regia) que o meu pai ia comprar. Consta que são de uma variedade francesa muito vigorosa. Também ficaram quatro buracos para transplantar os pessegueiros.
Comprometi-me a apanhar três ou quatro carrelas de folhas por dia e lá fui cumprir o prometido. O monte da folhada cresce a olhos vistos. Depois também terminei mais uma caixa de água (ainda faltam umas quatro ou cinco).
Fomos para a Fonte do Cavalo, onde estavam detritos por todo o canto, ainda do ano passado. Erro crasso, que não repetirei. Deixar tudo espalhado, ou seja não completar uma limpeza, duplica o trabalho. As silvas e as ervas crescem lá pelo meio, escondendo a madeira e o resto, e é difícil de recolher e amontoar tudo. Uma seca. Lá amontoamos o que conseguimos e fizemos uma fogueira. Estava quase noite e começou a estar um frio que nem o trabalho aquecia, foi a primeira vez que me aconteceu isso. Estava gelado, apesar da actividade. A noite estava sem Lua, mas mesmo assim ficamos a queimar coisas até às 20h.
Quando cheguei ao jipe tinha uma camada de gelo no vidro da frente e nos vidros do lado do condutor. Raspei o melhor que pude e arranquei para o “Angola” que era onde ia dormir (é um café/pensão no centro de Cinfães). O termómetro marcava -1°C. Combinei ir jantar com o Cláudio ao restaurante “O Meu Gatinho”.
No Angola, esperava-me a surpresa da noite: o belo banho reconfortante de água morna (mais para o frio). Sofri ignobilmente. Já não me lembrava de bater o dente a tomar banho. Aliás, acho que só no mar batia o dente — há muitos anos. Não se pode dizer que tenha ficado a ferver, mas fiquei chateado.
No restaurante, sexta-feira à noite, início do mês, éramos os únicos clientes. O termo “pasmaceira” passou-me pela mente. Deve ser muito difícil tentar andar para a frente com um estabelecimento com alguma classe e muita simpatia, numa vila do interior como Cinfães.
À saída perguntei que música em francês é que estava a tocar. Seria o último disco do Rodrigo Leão, uma surpreendente revelação.
A propósito de dois cães que estão sempre lá à porta, fiquei a saber que a senhora é do Porto, mudou-se para lá e que de início foi muito complicado, nomeadamente pela quantidade de animais maltratados e abandonados que deambulam por lá sem destino — achou chocante. Tem cinco em casa. Aqueles dois foram adoptados pelos professores da escola. A semana passada foi um Grand-Danois lindo, que felizmente arranjou dono. Andava lá outro com ar triste, abandonado recentemente por caçadores (ou pelo menos era de caça). Um veterinário que vai lá almoçar disse-lhe que agora por causa do “chip”, lhes dão um tiro em vez de os abandonarem. Onde foi que já ouvi isto? São os verdadeiros humanos.

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