Onde está a geada?
Levantei-me cheio de energia para mais um glorioso dia de trabalho! Nada disso! Meti a cabeça de fora, vi o bafo a sair da boca e tentei dormir mais. Quem tem vontade de se levantar com as orelhas geladas?
Eventualmente lá me levantei às 9h. A primeira tarefa foi reclamar do espectacular banho do dia anterior. Não dá para reclamar muito, por 15€, mas se for assim até de borla dispenso o quarto.
Estava com pressa de chegar ao terreno para fotografar a geada. Fui com cuidado por causa do gelo, estavam 2°C, mas não havia gelo. Aliás, onde anda a geada? Não há nada branco para fotografar. Está muito húmido, deve ser por isso. Que típico. Um fotógrafo da natureza tem mesmo de ser paciente.
Tinha combinado com a D. Emília encontrar-me lá porque ela ia levar 4kg de salpicões divinais para mim. O ano passado tinha comprado 3kg. Tentei não me demorar muito e lá subi o estradão. Do Cláudio nem sinal. É o desespero. Telefono ao meliante. Adormeceu. Não há paciência. Lá se vai o dia. Apareceu lá para as 11h.
Fomos directos para a Fonte do Cavalo para tirar os bardos. Esqueceu-se da ferramenta. É demais. Felizmente tinha um martelo e um alicate no jipe e improvisou-se.
Todo o dia a tirar videiras, recolher detritos, dar mais um jeito no barroco (que confina com a Fonte do Cavalo)… Aproveitei a fogueira ainda acesa do dia anterior (é incrível) e queimei toneladas. Fiz uma pilha de composto e revirei outra. Lá cumpri a promessa das folhas e o monte é agora um montão descomunal de folhada!
Árvores plantadas: zero. Esta trabalheira é para plantar 10 castanheiros. Estamos a cair na situação do ano passado que eu queria evitar a todo custo — para cada árvore plantada, além do trabalho normal de abrir buraco e meter composto, ainda se tem de limpar e preparar o terreno. Este ano são os bardos, que dão muito mais trabalho que o que parece. Nunca mais acabo. Tenho umas 330 árvores para plantar, “já” estão 23. Em dois dias nove árvores, não se admite!
Positivo é que depois de retirar os bardos e dar uma limpeza, o terreno parece outro. A vinha tem o ar mais decadente possível. Devia tê-la tirado logo de entrada.
Entretanto ecoa pelo vale o grito desesperado e desesperante de um porco a ser morto. Quem me dera não ter ouvido.
Já é o segundo dia que vislumbro uma ave de rapina por lá, a voar de árvore em árvore. Muito fixe. E também vi um rato do campo aos saltos (daí a ave, não devem faltar pequenos roedores).
Sinetas de vacas, bem perto. Tão perto que estavam por cima de nós a topar-nos. Vejamos, ali é também o nosso terreno. Que estão as vacas ali a fazer? Estou lixado. Alto, agora ouve-se alguém a praguejar o mais possível. Lá vamos nós ver o que se passa. Eram duas vacas enormes e o Sr. Zé, irmão do Sr. Américo. As vacas são do Sr. Américo. O Sr. Zé parou para conversar com uma senhora e as vacas resolveram ir dar uma volta pelo Sargaçal. Foram direitinhas às couves que trataram de arruinar (o que restava). Mais tarde apareceu o Sr. Zé com um monte de pencas. Encheu-me o jipe de pencas. “Está pago” diz ele. E “desculpe”. Escusava de ter trazido tantas. Roguei-o para a próxima Quinta-feira (rogar aqui é contratar para trabalhar). Já tinha marcado também com o Sr. Américo e Cláudio. Gosto deste grupinho.
O Cláudio foi embora mais cedo e eu fiquei a queimar. Escuridão total. Nem lua, nem estrelas. Um manto de nevoeiro cobriu tudo. Tive de regressar, vim às 19h.
“O autocarro do Sporting já está em movimento”, é o que fico a saber quando ligo o rádio. Isto é real? Deve haver jogo importante, para transmitirem semelhante movimento em directo. “Os jogadores trazem os fatos de treino vestidos”. Há que desligar o rádio com celeridade, estes tipos vão acabar por me enervar. A única coisa que eu gostava de saber é se essa tropa fandanga já pagou os impostos. Se o autocarro se movimenta, interessa-me pouco, ou nada.
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