Escaravelho da batateira, Leptinotarsa decemlineata


Na revista Organic Gardening de Abril/Maio de 2005, uma leitora do Kansas perguntava o que pode fazer para evitar que a colheita de batatas seja destruida por esta praga. Eis a resposta e algumas coisas que já observamos.

Nos EUA, é conhecido por Colorado Potato Beetle; em Vila de Muros chamam-lhe Escaravelho de Casaca. Esta peste arrasa preferencialmente (até 100%) as culturas de batatas, mas também arruína tomates, pimentos e petúnias. Não se alimenta das batatas, mas sim das folhas da planta, eliminando a possibilidade de fotossíntese e reduzindo as colheitas.
Os adultos são a elegância que a foto documenta, alaranjados, com 10 riscas nas coberturas das asas. Hibernam no solo, emergem no fim da primavera e caminham até às plantas, onde depositam ovos amarelos. As larvas, de cor vermelho acastanhada, alimentam-se alarvemente (mesmo) durante ou até três semanas, antes de se metamorfosearem no solo. Até três gerações por ano nos países mais quentes (ou seja, por colheita).
A forma mais fácil de prevenir os estragos é criar uma barreira entre a peste e as plantas. A revista aconselha cobrir os regos. Completamente impraticável, para quem tiver mais que meia dúzia.
Se não se usar a cobertura, inspeccionar regularmente as plantas e destruir os adultos, larvas e principalmente os aglomerados de ovos (na parte inferior das folhas). Isto é o que nós tentamos fazer, com resultados aceitáveis.
Colocar uma boa cobertura de palha à volta das plantas. Não só dificulta a progressão dos escaravelhos e a sua abilidade de encontrar as plantas, a palha também actua como um micro-ecosistema que encoraja alguns predadores naturais, incluindo outras espécies de escaravelhos do solo, que se alimentam das larvas.
Também se deve plantar Coentros, Funcho, Açafate-da-praia (Lobularia maritima) — Sweet Alyssum, não faço ideia o que seja –, e Cosmos (são flores), para atrair todo o tipo de insectos benéficos.
Tentar plantar variedades que maturem antes das populações de escavelhos atingirem o seu pico, no início do Verão. Era o que eu queria fazer, semeando em Fevereiro, arriscando com as geadas. Com o nosso clima, pode-se tentar isso mesmo com as variedades normais. Aliás, batatas que ficaram na terra do ano passado, cresceram mal acabou o frio extremo e entretanto já as comemos — e nem sinal de escaravelhos em Abril.
Por fim, ainda aconselham a cavar uma trincheira em “v” à volta das batatas que se cobre com plástico. Eles caem lá dentro e não conseguem sair. Destrui-los.
A maior parte destas sugestões fazem sentido. Por exemplo, nós temos batatas a crescer em duas pilhas de composto (!), o ano passado aconteceu o mesmo, não sei bem porquê. O que é certo é que esses exemplares nunca foram encontrados pela bicharada. O que me leva a concluir que a sugestão da palha deve dar algum resultado. Por outro lado, agora me lembro que o ano passado experimentei um rego sem cavar, colocando palha por cima das batatas, esse rego foi fortemente atacado. Mas, pelo que já observei, o melhor é semear cedo e começar a destruir os escaravelhos mal apareçam e depois regularmente.
Não cultivar no mesmo local ano após ano, também é muito importante. Este ano, deslocamos a plantação para Sul, mas uns cinco metros ficaram sobrepostos com o local do ano passado. Aí, o ataque está a ser medonho e muito difícil de controlar. Segundo o estudo sugerido pelo Filipe, a destruição dos restos vegetais no fim da colheita também é importante.
No meio disto tudo, não percebi como é que sendo alados, os escaravelhos se deixam enganar por algumas destas armadilhas, designamente a vala em “v”.
Parece-me que o essencial no meio disto tudo é: Boa sorte a todos!

Uma resposta para“Escaravelho da batateira, Leptinotarsa decemlineata”

  1. cerveira pinto

    Caríssimo JRF
    Não saberás também, por acaso, como se faz para tratar biologicamente as cerejeiras. É que ainda agora os frutos começaram a ficar maduros e já estão praticamente todos “bichados”… Nós perseveramos e não usamos químicos, mas todos os anos o produtor médio tem que optar entre usar toneladas de químicos ou perder a colheita.
    Obrigado

  2. Filipe Santos Silva

    Aqui vai uma tese em PDF (5,7MB) sobre o famosíssimo “escaravelho da batata”. O documento está em inglês mas dá um manancial de informação sobre o referido insecto. Não esperem milagres pois a gestão das populações deste insecto é complexa e por vezes os chamados “inimigos naturais” podem eles próprios transformarem-se em pragas.

  3. jrf

    Não há dúvida que esta tese é leitura interessante. Já li um bom bocado, mas 127 páginas é dureza.
    Estou a estudar o caso das cerejeiras. Ando com o mesmo problema — embora praticamente já todas as cerejas tenham passado (só as de duas cores se mantêm comestíveis).
    Para já a minha táctica pessoal é não abrir para ver se tem bicho. Como não vejo, parto do princípio que não tem :) .

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