O Árctico e o Aquecimento Global (2)


Pois… A corrente do golfo.
Esta corrente é parte da corrente termohalina (termo = temperatura; halina = salinidade). É também chamada de “conveyor belt” (traduziria em cinta rolante), que diz tudo: uma fita de água, em que uma parte é visível e a outra está submersa, ligada ao sistema, um dia virá à superfície, um dia em milhares de anos.

Começa a história à superfície gelada do Oceano Árctico. Durante o Inverno escuro a água do mar torna-se muito fria. Quanto mais fria, mais densa. Por outro lado a formação de gelo aumenta a salinidade desta água (os sais são ostracizados durante o congelamento e relegados na parte aquática), tornando a água ainda mais densa, de tal forma que se afunda nas profundezas, espalha-se pelo solo oceânico e desliza lentamente para o sul. Retornará à superfície em cerca de 1200 anos no Nordeste do Pacífico, ou talvez mais cedo no Oceano Índico. Há-de fazer o percurso de retorno, à superfície, aquecendo nos trópicos, até que venha do equador atlântico e a chamemos Corrente do Golfo. Traz as temperaturas tropicais e esbanja-as generosamente sobre a Europa Ocidental. Ao chegar ao Árctico de novo arrefecerá e afundar-se-á nas profundas azuis e geladas.

Não é só no Atlântico Norte que este processo motor de afundamento se dá, mas é indubitavelmente o mais importante.

Para nós, como Europeus, ainda é mais significativo, pelo impacto elevado no clima. Caso exista demasiada água doce a ser descarregada e pouca água a congelar, a água será menos densa e o caudal a afundar será menor, diminuindo a intensidade de toda a cinta aquática. A Corrente do Golfo será mais fraca, o calor que traz menor, o clima europeu tornar-se-á mais rigososo. Quem é que disse que o Aquecimento Global significará mais calor e dias de sol?

O Sistema Climático é não linear. O que se está a fazer é uma experiência a nível global. Nós somos os experimentadores e incluímo-nos como cobaias. Apertem os cintos. Já descolamos.

[Há indícios geológicos de que o desaceleramento da corrente termohalina e até a sua paragem se deram no passado da Terra]

Uma resposta para“O Árctico e o Aquecimento Global (2)”

  1. jrf

    Para mim é inegável que o Homem é o grande responsável pelo aquecimento global. Isto independentemente de ciclos naturais, que possam eventualmente também estar a manifestar-se.
    Deste texto (1 e 2) e de várias notícias que tenho lido, tanto em revistas e jornais de grande público, como em publicações científicas, parece-me que existe o risco de um efeito de bola de neve, que será muito difícil de travar. Será que esse processo já começou?
    Eu acho tudo isto muito preocupante e tendo em conta o que está em causa e em risco, para mim não faz sentido falar em economia e teorias universitárias balofas. Faz sentido é uma mudança de atitude radical, mas também já se viu que isso não vai acontecer.
    Quioto é o que é. Muito perto de nada. Quioto II é para quando? E os países vão assinar e cumprir? Qual será a posição dos EUA? Não acho que vá mudar muito enquanto lá estiver esta pandilha. Dito isto, também não se entende porque ficaram de fora do tratado, países como a Índia e China — e nesse aspecto, embora condene o facto de terem ficado de fora, tenho que dar razão aos americanos.

  2. Nuno Ferreira

    E além do mais, sabe-se que há indubitavelmente um “interruptor” no Atlântico Norte, e a transição entre o estado de “on – tudo bem” e “off – tudo mal” pode acontecer de um momento para o outro e não gradualmente ao longo de milhares de anos.

    O filme “The Day After Tomorrow” até podia não estar tão longe da verdade quanto isso…

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