Aquecimento global
Existe? O consenso científico é que existe.
Na ciência antes de um consenso há um processo moroso de publicações e verificações e discussões até que uma teoria seja aceite pela comunidade científica. O clima comporta ainda mais discussão e morosidade, pois é um sistema complexo, não linear, que implica dados de período temporal lato e distribuição geográfica extensa. Além disso, como as necessidades de estudo climático comportam instrumentos caros (computadores potentes, navios, estações em locais longínquos, etc.) isto é ciência para cientista “rico” o que limita o número de intervenientes e cabeças.
Eu não estudo climatologia, mas com os meus conhecimentos de química da atmosfera e os efeitos que tem sobre o clima parece-me um grande acto de fé acreditar que aumentando-se os níveis de dióxido de carbono [CO2] na atmosfera que nada aconteceria. Os registos obtidos dos gelos de Vostok dos últimos 420 mil anos mostraram uma ligação do clima antárctico e dos níveis de CO2 e metano [CH4]. O CO2 rondava os 180 ppmv [partes por milhão em volume – molécula de CO2 por 1 milhão de moléculas de ar] nos períodos glaciais e rondava os 280 ppmv nos períodos inter-glaciais. Ambos os gases aumentaram e diminuiram com a temperatura durante 4 ciclos glaciais/inter-glaciais. Os modelos podem simular esta conecção para todo o globo e demonstram que se o CO2 se mantiver na atmosfera vai haver um aquecimento global da Terra.
Esse aquecimento é detectável instrumentalmente e conseguiu-se colectar dados à volta do globo de forma a que as conclusões tiradas possam considerar-se efectivamente globais. Três equipas de investigação (National Climatic Data Center EUA, NASA EUA, University of East Anglia Reino Unido), com os seus próprios métodos de controle de qualidade de instrumentos, diferentes métodos para determinação de médias globais, como filtrar ruído, chegaram a resultados similares que mostram um aquecimento à superfície terrestre no último século de 0.4 a 0.8 graus centígrados.
Além disso, já se podem observar efeitos deste aquecimento. Massas de gelo derretem. O que torna estas observações significativas é a sua globalidade. Não são fenómenos regionais que poderiam estar ligados a processos regionais. É no Árctico, no Antárctico e na maior parte dos glaciares terrestres, da Suiça à Argentina, da Noruega aos Himalaias. Os poucos pontos em que aumentam é que é um fenómeno regional derivado da maior precipitação.
Os Oceanos também aqueceram. Todos. Não só à superfície como medições realizadas até aos 3 km de profundidade o demonstram. A água quando aquecida aumenta de volume. Assim, os 10 cm de aumento do nível dos oceanos globalmente, no último século, deveu-se nomeadamente a esta expansão térmica.
Para mim o mais evidenciador é a “migração” de ecossistemas. Os cépticos podem procurar erro humano e técnico em todos os outros estudos, baseados em medições, mas o facto de espécies biológicas andarem a subir montanhas e latitudes não pode ser apontado aos cientistas. Ainda assim estou à espera de acusações dos cientistas andarem a raptar as raposas do Canadá e os peixinhos do Atlântico. Somos uns salafrários.
Uma resposta para“Aquecimento global”
Ora esta! A comentar o meu próprio texto! :-) Vim relê-lo e pensei que a utilização de “um grande acto de fé” pode ter sido uma escolha pateta da minha parte. Resolvi explicar melhor. O CO2 é um gás com efeito de estufa pelo que tem um papel na “captura” de energia térmica na atmosfera. Este é um facto, não uma teoria. Assim, o aumento de CO2 na atmosfera até determinados níveis irá aumentar o conteúdo de energia térmica, exceptuando se algo modificasse a quantidade de energia que chega à Terra. Assim, eu deveria ter utilizado a palavra optimismo em vez de fé, como convicção.
Estou aqui a pensar num próximo texto sobre a nova área da climatologia que são as alterações climáticas, onde o consenso científico não existe. Haverão muito mais publicações científicas e discussões antes que este se atinja. Enquanto isso preocupa-me alarmismos e cepticismos inculcados na população baseados em estudos parciais ainda a passar o filtro ou simplesmente incompreensões, voluntárias ou não.
O clima vai mudar e teremos de nos adaptar. Isto significa escolhas e decisões. Muito basicamente esta é a minha percepção. Queremos nada fazer? OK. Algo? OK. Esperar para ver? OK. A mim só me preocupa que as pessoas tenham a percepção que a escolha é uma responsabilidade.
Até à próxima.
Bom texto.
Eu já tinha referido as investigações “indirectas”, referia-me exactamente às observações de biólogos e outros cientistas do ambiente, que não estudando o aquecimento global, estão na primeira linha a observar alguns dos seus efeitos. No fim acabam por relacionar as coisas.
São detalhes. Habitualmente considero os detalhes algo muito significativo.
estamuito bem esplicado