No interior, o Outono veio para ficar


Já é Outono há muitos anos e temo que o Inverno chegue em breve. A propósito de uma notícia no JN, que nos diz que “Jovens renunciam ao Portugal do interior”. A primeira metade só fala de Cinfães. É aqui que reparo, que a situação é hoje, ainda mais grave do que era na Alemanha depois da Primeira Grande Guerra.

Hans Dittmer, traça um breve diagnóstico:

As causas que levam muitas vezes ao êxodo do campo, não são somente de natureza material, mas dependem também de muitas particularidades resultantes da agricultura alemã no Estado liberal. A posição do lavrador alemão no Estado passado era determinada com a atitude que amplos círculos o apreciavam. A lavoura tinha sido aviltada a uma caricatura, salvo poucas excepções, na arte, no teatro e na literatura. A figura do lavrador estúpido estava na ordem do dia, e era compreensível que o homem do campo, em virtude dessa atitude da cidade, se começasse a envergonhar da sua classe e se sentisse atraído para a cidade. Foi desta forma que os melhores do campo emigraram.

Por esta fase, já o país foi ultrapassado. No Jornal de Notícias, o que é gritante, é que abandonada pelos jovens, já a lavoura está há muito tempo. O que lhes começa também a faltar é a indústria e a construção civil. Essencialmente, um rendimento digno, que no imaginário de cá está fixado nos 1000 euros, mas torna-se facilmente uma realidade em Espanha.
Pelo menos no Norte, com parcelas de terreno cada vez mais pequenas por via de partilhas, ao abandono e de impossivel rentabilização nos moldes actuais, a agricultura em todas as suas vertentes, é bem capaz de estar perdida para muito tempo.
Um país como o nosso, de recursos já naturalmente muito limitados, nunca mais será nada se continuar a permitir, fundamentalmente a promover, as brutais assimetrias entre litoral e interior. Não se pode abandonar dois terços do território e esperar daí bons resultados. Ota, TGV, Choque Tecnológico, a mim não me convencem. São siglas e slogans muito ao gosto dos governantes, mas sem qualquer significado.
Mais à frente no pequeno livro, Dittmer conclui triunfante que “acabou-se com o contraste entre a cidade e o campo”. Passados 64 anos, num pequeno país mais a Sul, numa Europa muito diferente é certo, Cinfães fica a uma hora do Porto, sendo referido na notícia como o “Norte de um Portugal profundo e deserto”. É triste. Ninguém tenha dúvidas que isto vai ter que se pagar. De que forma, ainda não sei.

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