Eco-terrorismo
O director de um jornal económico que escreve uns textos que até aprecio, deixa de ser tão apreciado cada vez que toca em questões ambientais. Não está em causa quem é, o mal é geral.
Fala do megalómano projecto a implementar em Rede Natura 2000, na costa alentejana e que “os ambientalistas protestam. Protestam sempre”. Depois elabora sobre a qualidade do investimento em causa e para o fim queixa-se que os governos ficam reféns de “autarcas, ambientalistas, juízes, burocratas de carteirinha”. Olhando em volta, eu diria que os ambientalistas protestam sempre, mas de nada adianta; colocá-los, neste contexto, na mesma frase com autarcas, inqualificável. Quanto à extrema qualidade dos empreendimentos, não a têm todos? Aqueles sobreiros abatidos, não eram para outro projecto de extrema qualidade? Por coincidência, a extrema qualidade anda de braço dado com o BES, que ao que parece também é um dos investidores no projecto para a costa alentejana, grande investidor nas eólicas e já a posicionar-se para apoiar fortemente a opção nuclear. Nesta fase, peço desculpa por duvidar da qualidade do que quer que seja.
Do outro lado do Atlântico, um pequeno caribú luta desesperadamente pela sobrevivência (CNN, o link pode não ser permanente). De um lado os ambientalistas, sempre a protestar, apelidados de “terroristas”; do outro os proprietários de velozes motas da neve. Os caribús em causa, já são menos de três dúzias nos EUA, mas os das motas dizem que têm ali um negócio e uma economia e “we can’t make ourselves extinct”.
Milhares de quilómetros de distância, situações completamente diferentes, no entanto, a mesma mentalidade. A Terra não tem valor intrínseco. Tem valor apenas enquanto perspectiva de negócio. Se necessário, como ainda li esta semana, apela-se à bíblia — tudo o que foi posto na Terra por Deus, destina-se exclusivamente ao uso e consumo pelo Homem. E como se sabe, bíblias há muitas, cada um tem a sua.
Eco-terrorista, não é quem protege, defende e preserva para as gerações presentes e futuras, por muito que isso continue a incomodar. Eco-terrorista, é quem destrói, promove a destruição e desbarata a natureza, que mais do que ser de todos é da Terra. Do Universo.
Uma resposta para“Eco-terrorismo”
Constrói-se assim em pleno Parque Natural da Arrábida, ver em A-Sul.
Não me admira que contra este “tecno-terrorismo” galopante haja, cada vez mais, um eco-terrorismo crescente e também cada vez mais violento… Penso que ainda não vimos nada…
Mesmo que se considere que a Terra não tem valor intrínseco, que valha apenas como suporte do negócio, porque raio é que o negócio há-de ser sempre destruí-la, impedindo outras formas de usufruir dela, inviabilizando outros negócios, até?
Eu acho é que os ambientalistas são demasiado simpáticos. Está na sua natureza, serem estorninhos em terra de falcões. E como se não bastasse, têm má imagem em muitos círculos.
Qualquer autarcazeco, chama “fundamentalista” ou “terrorista” a um ambientalista desde que ache que poderá ver ameaçada, ainda que remotamente, a sua visão de “progresso”.
É a destruí-la, porque é isso que dá dinheiro. Ainda hoje a famosa Exxon-Mobil apresentou lucros recorde (de sempre, para qualquer empresa). A protecção do ambiente não dá dinheiro, porque a própria sociedade não está designada dessa forma. Durante centenas de anos viveu-se na ilusão de recursos ilimitados, muitas vezes secundada por fundamentalismo religioso e uma exacerbada visão de superioridade do Homem sobre todas as coisas. A nossa civilização tem pouco mais de 2000 anos, os seja, nem uma gota no caldeirão do tempo, mas há quem ache que estamos a caminho de nos tornarmos divindades ou coisa que o valha.
O livro Lost Mountain fala da completa destruição de uma montanha, atulhando o vale em baixo, através de uma nova técnica de extração de carvão. Neste caso, como na escolha dos locais das eólicas e tantos outros exemplos, o que é que os ambientalistas têm para oferecer em troca dos milhões? Nada. E por exemplo, a troco da não construção de centrais nucleares? — Desligar a luz, é algo que 99% das pessoas não acharão aceitável.
E a protecção do ambiente há-de sempre esbarrar com este problema.