Em busca da água perdida
Já estou a ficar desvairado com a água! Acho que devo ter passado o pior dia de sempre das minhas aventuras no Bestança.
Primeiro, fui a conduzir com um sono inacreditável. Só me lembro de tal coisa uma vez, quando saí do Porto e só parei em Génova, 25 horas depois. Mas já divago. O que é facto é que devo ter chegado ao Sargaçal em piloto automático. Que soneira.
Umas fotos. Carregar uma quanta lenha para o próximo Inverno e resolvi continuar a limpeza da última vez. Acendi uma fogueira mesmo pequena. E como queria o fogo muito baixo, para não estragar umas cerejeiras, demorava bastante a recolher o material. Estava a uns 10 metros e comecei a ouvi um barulho de grande fogueira, virei-me e estava a quelha a arder forte e feio. Vi-me aflito para dominar o fogo ali sozinho. Mandei-me para o meio de uma silveira e arranhei-me todo, principalmente nos braços. Depois até parti o cabo do ancinho. Pensei que me ia dar o béri-béri. Que escabrosidade de proporções épicas.
Telefona o Cláudio, pergunta se podiamos ir ver o cano depois do almoço e não às 17 horas como combinado. Eu ainda arfava ofegante. Nem tenho tempo para respirar. Lá fomos para o Grandinho. Foi uma nojeira total. Procurar o tubo e uma agulha num palheiro deve ser o mesmo. Depois da estrada não havia água, portanto o defeito estava entre a estrada e o lameiro onde está a caixa.
Num lameiro onde já tínhamos andado há quase dois anos, apareceram dois tubos. No que eu sabia que era nosso, zero água. O outro super-cheio. De volta à caixa, voltam a passar os dois tubos. O nosso estava bem ligado, portanto, obviamente, também havia problemas entre o lameiro da caixa e o outro.
Não sei a que propósito, o senhor Henrique começa a dizer que o tubo que ia cheio (de polegada e meia) também era nosso. Daí à ideia genial de passar a água de um para o outro, foi um ar que lhe deu. E ainda me convenceu a ir ao “Mouta” comprar redutores para polegada e 1/4 (o diâmetro do nosso).
Fez-se isso. A pressão daquela água do tubo grosso não era brincadeira nenhuma. Uniões artesanais ao longo da nossa encanação, deram o berro. Na estrada a água caía em cascata. Foi-se arranjando tudo e fomos para o Sargaçal. Isto às oito da noite. Quando cheguei aos tanques, nem uma gota! Conclusão, o tubo para baixo da estrada está completamente bloqueado. Se fosse simplesmente roto, alguma água chegaria. Se o tanque tivesse água, deitava-me a afogar.
Já atrasado e com a cabeça tipo um gigantesco melão, fui para a associação para o jantar. Lá comecei a contar as peripécias. E não há nada como um dia mau, para ficar pior:
— (…) e acabamos por trocar a água de um cano para o outro, mas não chega nada.
E exclama o senhor Franklim:
— C******, não me tire é a água a mim!
— !? O seu tubo passa perto?
— Há lá um sítio em que passa…
— Muito perto?
— Passa ao lado…
Dito isto, fomos ver se havia água… Zero. A água do senhor Franklim andava agora no meu tubo! Como estava tapada, com a pressão gigantesca, o risco de rebentar a tubagem por ali acima não era pequeno. Pior era difícil. Telefono ao senhor Henrique, vou buscá-lo a casa e pimba, em grande velocidade para o lameiro outra vez… Lá ia o jantar. Mas já nem me apetecia comer. Verdade seja dita, o senhor Franklim disse-me para não me preocupar e para ir comer. Mas eu queria era resolver o assunto quanto antes. Ficou minimamente. Na sexta, o senhor Henrique e o Cláudio vão ver se arranjam aquilo de uma vez, mas desconfio muito. Só de tubo novo. Quantos quilómetros eram mesmo? Uns quatro. Só se for tolo!
O jantar deu para aliviar um bocado — acabei por comer bem, em último e depois de todos, como sempre. Isto acaba por ser um bom motivo de conversa e brincadeira, mas o calor está aí à porta e a verdade é que estou cada vez mais preocupado.
Uma resposta para“Em busca da água perdida”
eu peço desculpa, mas tenho-me rido um bocadinho com esta aventura!
compreendo perfeitamente o aflitivo situação…
no verão passado era eu que não tinha água!
agora o senhor, tem jeito para relatos :)
boa sorte nessa demanda!
nem sei que dizer perante tanta trabalheira….não é fácil a vida no campo, mas quando se consegue o que se pretende, sabe muito bem; boa sorte e muita água….