“Abater árvores para melhorar o ambiente”

No Dias Com Árvores, deparo com um texto intitulado “Abater árvores para melhorar o ambiente“. É em Famalicão, onde o site oficial, através de uma palinódia confrangedora, tenta convencer as pessoas disso mesmo. Fala-se em árvores plantadas “nos anos noventa”, como se fosse algo distante, perdido nas brumas do tempo, “razões de ambiente urbano e segurança” e mais uma série de palavreado que os “spin-doctors” lá do sítio grassaram. É penoso sermos governados por pessoas de tão fraca qualidade. E nunca mais se aprende.

Pela fotografia, é evidente que os liquidâmbares nunca ali deveriam ter sido plantados e não têm a mínima hipótese de se desenvolver. Responsáveis por esta delapidação de dinheiros públicos e perda de 10 anos, não são mencionados no site. Agora querem colocar camélias, que se não forem criteriosamente escolhidas, daqui a 10 ou 20 anos, estarão junto com os liquidâmbares. Já sem falar que a camélia, numa artéria daquelas, estará sujeita a todo o tipo de agressão, incluindo vandalismo. Neste país, mesmo uma árvore robusta, tem de penar muito para atingir um porte mínimo. Nisso, autarcas e “avariadores”, nunca repararam. Andam preocupados com mais altos valores.
Mas esta situação não é um exclusivo de Vila Nova de Famalicão. O mesmo Dias Com Árvores, já antes tinha denunciado as plantações selvagens, efectuadas na emblemática Avenida da Boavista, no Porto. Na lógica de uma aritmética manhosa, de curto prazo, para contrabalançar os abates selvagens perpetrados pouco tempo antes. Mais cedo ou mais tarde, muitas delas irão ter com os liquidâmbares.
Um pouco mais perto em “Matosinhos Sul”, a mesma situação. Árvores de grande porte, em raquíticos passeios, já a entrar pelas varandas dentro. Os “spin-doctors” matosinhences, fizeram daquela antiga e fedorenta zona industrial um ideal de luxo e sofisticação, começando pelos preços. O resto, é o privilégio da proximidade da “pior praia do país”, trânsito caótico, falta de lugares para estacionar, prédios uns em cima dos outros, total ausência de zonas verdes… Enfim, um luxo à portuguesa.
Por coincidência, dia de calor stressante, estive em frente à bela praia que os ingratos da Quercus classificaram tão rudemente… Estava com o pequeno Pedro e a Susana. Literalmente tivemos de fugir daquela marginal, tal era o calor. Vou ter que dar o braço a torcer e dar razão aos autores do Dias Com Árvores… O projecto para o local, do inefável arquitecto Siza Vieira, ou do não menos encantador arquitecto Souto de Moura (ou ambos), é de uma desolação difícil de explicar. A única coisa que faz lembrar, além do provável inferno, é o ermo em frente à Cadeia da Relação, também oportunamente denunciado pelo inevitável Dias Com Árvores. É que não tem explicação. E aprender com os erros não se usa por cá.
Por fim, Senhora da Hora, antigo bairro da Efanor e terrenos da mesma empresa, onde a Sonae aproveitou para implantar um horríssono mamarracho, que apelidaram “Norte Shopping”. Em volta continua a crescer uma urbanização igualmente “de luxo” e com os indredientes habituais: o preço de acordo com o estatuto, privilégio da proximidade do mencionado “shopping” e “Continente”, trânsito caótico com vastas possibilidades de ser ultra-caótico por ocasião de certas festas religiosas na catedral do consumo, falta de lugares para estacionar, prédios uns em cima dos outros, total ausência de zonas verdes…
Dada a proximidade de uma série de “equipamentos”, seria um local ideal para planear circuitos pedonais, ciclovias, parques com arvoredo… Pelo contrário. Como esperado os prédios são uns em cima dos outros e em cima das ruas, que tendo sido traçadas recentemente, mais que exíguas, são ridículas. Os passeios diminutos, pontuados por árvores de grande porte, ainda na fase “palito” e absolutamente em mau estado, mas já em cima das varandas “de luxo”. É o exemplo acabado de como interesses privados da construção civil se sobrepõem com a maior das facilidades ao interesse público. Se um particular desejasse construir a sua habitação, nunca poderia fazer o mesmo, teria de recuar a casa dois ou três metros do passeio. Se no plano estava aquele espectáculo, para que foram ali plantadas as árvores?
É que se os senhores da Sonae tivessem de recuar os seus prédios e perdessem, por exemplo, um apartamento por andar, multiplicando por seis andares e seis prédios, seriam no mínimo uns sete milhões e meio de euros em vendas. Como sempre é só isso que está em causa. E os mesmos senhores que não criam um espaço verde que seja e inviabilizam a vida das árvores plantadas há meia dúzia de anos, são os mesmos que na sua propaganda barata, têm como argumento de vendas a proximidade do Parque do Carriçal, a quem com os seus dois hectares, exigem que seja o “pulmão” da Senhora da Hora. Pobre parque. Pobres árvores. Pobres de nós.

Uma resposta para““Abater árvores para melhorar o ambiente””

  1. pontoverde

    É fantástico com o que se manipula a ignorância e a desatenção dos cidadãos.

    Já agora estamos atratar o tema da manipulação da habitação social pelas autarquias, prezávamos a vossa opinião aqui no a-sul.

  2. José Rui Fernandes

    Caro Ponto Verde, fui ler e não comento. Ando muito cansado destes assuntos. Saturado mesmo.

Deixe um comentário

Mantenha-se no tópico, seja simpático e escreva em português correcto. É permitido algum HTML básico. O seu e-mail não será publicado.

Subscreva este feed de comentários via RSS

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.