A negociata das sementes

A regulamentação europeia para o comércio de sementes de produtos hortícolas é de um cinismo atroz e uma boa amostra do que conseguem os “lobbys” mais poderosos junto de políticos ignotos (para dizer o mínimo).
Todas as sementes comercializadas, têm de aparecer previamente numa lista, incluindo as variedade tradicionais das diversas regiões europeias. Como consequência directa, milhares de variedades foram retiradas da circulação comercial, desde que a primeira lista foi publicada, nos anos 70.

O problema é que existe uma lei para regular desde as “sementes do avô”, até às transgénicas. E se é certo que, não vejo mal a vir ao Mundo na comercialização das sementes tradicionais da minha região, não desejo de forma nenhuma transgénicos a circular livremente pela Terra. Custa milhares de euros o registo de uma variedade para venda, para além das suas características únicas, estabilidade e uniformidade. A multa por vender sementes sem registo, são mais uns milhares de euros.
De 287 variedades de cenouras cultivadas na Europa no início do século XX, apenas 21 continuam a ser produzidas; de 100.000 variedade de arroz (segundo a Gardens Illustrated), sobram umas meras 50; onde noto mais a falta de variedades tradicionais é nos morangos, reduzidos a algo sem gosto, desinteressante e com o maior índice de químicos que se pode encontrar na fruta. Isto não são só más notícias para os pequenos produtores. São péssimas notícias para a variedade genética, como ainda há pouco tempo foi noticiado o caso das bananas na Índia, reduzidas a uma variedade comercial.
Para as grandes empresas de sementes, esta legislação funciona optimamente e em muitos países, dá-lhes o controlo efectivo do mercado. Não admira também que grande parte do comércio de sementes seja controlado pela indústria agro-química. Está tudo feito à sua medida.
No Reino Unido, a Henry Doubleday Research Association, em França a Association Kokopelli, em Portugal a Associação Colher para Semear a dar os primeiros passos, tentam ter os meios para contrariar as directivas da UE e a ganância da indústria agro-química. Por um esquema de assinaturas e contribuições, recebe-se “grátis” sementes de variedades tradicionais, fugindo assim ao controle. A Kokopelli vende as sementes, mesmo contra a lei, embora o seu estatuto de utilidade pública e a ajuda que presta ao Terceiro Mundo, sejam um bom escudo contra alguma acção das autoridades.
Um pouco de subversão, contra a uniformidade e estabilidade. Pela diversidade e liberdade que importa.

Uma resposta para“A negociata das sementes”

  1. Lowlander

    A semente do seu avo se calhar nao e transgenica nao nao nao, e ariana, pura e imaculada.

  2. José Rui Fernandes

    O seu ponto é?
    A sua articulação mental também é digna de ser lida. Ainda o vou ver defender os “transgénicos fonte de vida” — é impressionante como não se apercebe que é o mesmo raciocínio, bastante ridículo, se me permite.

    Mas, tendo em conta que eventualmente há argumentos a favor dos transgénicos, para além do negócio puro, quais são as semelhanças que encontra entre o processo de laboratório e manipulação genética de hoje, com o processo de selecção dos agricultores, desde há centenas ou milhares de anos?

    Considera que existe algum risco na introdução de transgénicos de laboratório na natureza?

  3. Lowlander

    “quais são as semelhanças que encontra entre o processo de laboratório e manipulação genética de hoje, com o processo de selecção dos agricultores, desde há centenas ou milhares de anos?”

    1 – JRF, so nao ve as semelhancas porque nao quer ver. Dogma seu, a realidade entretanto continua la fora. Os objectivos e resultados sao e tem sido precisamente os mesmos: seleccao de caracteristicas “boas” de um ponto de vista produtivo, isto “desde ha centenas milhares de anos” tem sido feito com o objectivo de aumentar lucros quer fossem na forma de um estomago mais cheio, lancas com bico de pedra, pulseiras de contas, escudos ou euros. A metodologia e diferente e incomparavelmente mais eficiente com a biotecnologia mas na essencia sao exactamente iguais. Engracado reparar na prosa: aparentemente nao considera “o processo de seleccao [artificial] dos agricultores” uma forma de “manipulacao genetica”.

    2 – Nao me vera a defender em lado algum que sao fonte de vida mas contra moinhos nao luto, nao me chamo Quixote. Alias o ridiculo sugiro que o ostente na lapela ja que nao e capaz de distinguir o essencial do acessorio, e o essencial e garantir que a biotecnologia e usada com um minimo de regras para minimizar riscos, muito mais util do que pateticamente arengar contra toda uma industria e apontar areas de investigacao e desenvolvimento de produtos uteis e sustentaveis. E o mesmo se aplica aos gigantes petroliferos.
    Exemplifico aquilo que quero dizer: um agricultor na ansia de melhorar a produtividade do seu efectivo de vacas leiteiras anda a cruzar animais consanguineos aumentando assim o numero de doencas geneticas na descendencia (problema de bem-estar animal). Mais util do que proibir o agricultor de tentar melhorar o efectivo sera guia-lo, por via de regulamentacao se necessario, no sentido de adoptar praticas de seleccao mais aceitaveis de um ponto de vista de bem-estar animal (buscar semen de “bons” animais de outra raca por exemplo obtendo assim aquilo a que se chama “vigor hibrido”).

    3 – Pergunta por fim se ha riscos, certamente que os ha! Agora pergunto-lhe e eu a si se voce sabe definir exactamente “risco”, e que eu sei bem o que e mas suspeito que ha por esses lados confusao nos termos. Nao sao nem diferentes nem superiores (muito pelo contrario) aos do “processo de seleccao dos agricultores” como e obvio! Procure a literatura cientifica credivel na area e vera (e nao blogues vegetarianos ou afins que obviamente tem a mesma credibilidade de uma Exxon a falar de aquecimento global).
    Temos e de pesar os riscos com os beneficios, uma tecnologia que tem o potencial de permitir aumentar produtividade, aproveitar melhor recursos escassos (nutrientes, agua, trabalho humano) e restringir o uso de pesticidas e herbicidas para quando realmente sao necessarios ou mesmo criar alimentos curativos nao pode ser ignorada!

    Por ultimo pergunto-lhe eu a si: anda a publicitar o projecto “invader” porque e um defensor convicto da compartimentalizacao de ecossistemas – tema interessante e grave. Na semana seguinte vem falar de uma iniciativa que visa furar regulamentacao na circulacao de sementes? Promovendo a introducao de “sementes do avo” sabe-se la onde? Se penetrarem em ecossitemas nao adaptados a elas nao se comportarao como invasoras porque? Porque sao “familiares”?

  4. José Rui Fernandes

    a realidade entretanto continua la fora

    É esse o meu medo :) .

    1. O processo biotecnológico é de tal forma revolucionário que eu acho que nem quem o pratica o entendeu completamente — designadamente no seu alcance e consequências.
    O processo dos agricultores, acaba por ser uma substituição da natureza, é lento, adaptável e necessário principalmente a partir do momento que o Mundo se globalizou com os descobrimentos e a importação das primeiras plantas.
    De qualquer modo, também tem os seus riscos, designadamente na perda de diversidade genética, vulnerabilizando as culturas às doenças (sendo um caso extremo recente o das bananeiras na Índia).

    2. Há casos concretos que de quixotesco não têm nada. Informe-se.

    3. A dimensão desses riscos, para mim, não é aceitável (tal como na energia nuclear, por exemplo). Não são superiores ao do processo dos agricultores? Deve estar a delirar. Quando na natureza, ou por um processo de selecção natural (ou ajudado), um gene de um peixe vai parar à soja ou ao milho? Desculpe lá, mas há cientistas a querer armar-se em micro-deuses e a curiosidade científica, muito louvável, deve ficar pelos laboratórios. Para mim, falariamos daqui a 100 anos, quando tudo estivesse testado, re-testado, comprovado e re-comprovado. Não vai ser o caso e isso é que é lamentável. Não sou contra o progresso científico, mas temos inúmeros casos que experiências inócuas criaram problemas insolúveis (por exemplo como no filme “O Pesadelo de Darwin”).
    Mais uma vez exerce a sua confusão habitual. Está comparar a Exxon a blogues vegetarianos, quando a tem que comparar à Monsanto ou Syngenta, entre outras. Os blogues vegetarianos, compare ao Sargaçal — admito com credibilidade equivalente, no caso do aquecimento global. Tal como não confio na Exxon, não confio na Monsanto… Óbvio. Nem confio em muitos cientistas da área, por motivos também óbvios.
    A restrição do uso de pesticidas e herbicidas, parece estar a sair ao contrário, pois as pragas que atacam os transgénicos que produzem mais “pesticidas naturais” são mais fortes e por selecção mais fortes se tornam. É mais um exemplo do que não foi previsto no laboratório.
    Quanto a credibilidades, a Greenpeace não tem nenhuma? A Quercus, ou LPN por cá também não? Jornais como New York Times ou Washington post só são credíveis para o AG?
    Mas eu acho que procurando, vai encontrar muitos sites de omnívoros, que concerteza achará credíveis. Tem é que procurar fora da indústria, senão qual será o objectivo?

    Por ultimo pergunto-lhe eu a si: anda a publicitar o projecto “invader” porque e um defensor convicto da compartimentalizacao de ecossistemas

    Não está certo isso que diz. Defendo muito cuidado neste campo e nos casos comprovados de prejuízo para o meio-ambiente, regulamentação e principalmente acção. De resto, as pessoas do projecto Invader, não me pareceram minimamente radicais. “Cuidado” é uma palavra muito utilizada.
    Se as “sementes do avô” forem invasoras em determinados locais, o que defendo para elas é o mesmo que defendo para as acácias — erradicar. Não é comum sementes de vegetais estarem nas listas de invasoras e surpreendeu-me qb a inclusão do Tomate Alicante, nas invasoras na Polónia — tenho aqui e apenas germinou um pé, tratado a pão-de-ló, parece que daí não virá problemas.
    Mas, o que é que isto tem a ver com o assunto? É o costumeiro tentar detectar a “contradicção” que sedimentará uma tese pré-definida.

    Por acaso, uma vez no Bestança, no restaurante Solar de Montemuro, falamos de transgénicos ao almoço. Estavam presentes uns amigos da biotecnologia e digo-lhe que na boca deles é só vantagens… Tomates grandes e resistentes às doenças, algodão forte, milho com genes de não sei o quê que resiste a tudo… É um autêntico admirável mundo novo. Riscos, consequências, resultados… é um encolher de ombros, “não há nada concreto”, “a probabilidade de isso acontecer é ínfima”, etc. São esses os muito científicos argumentos.

    Acho que já lhe disse: Se me for permitido escolher, nunca comprarei alimentos transgénicos para mim e para a minha família. Muito grave nesta história toda é que tudo se conjuga para que essa escolha não seja minimamente possível.

  5. PAULO REIS

    PARA OS GLUTOES EGNORANTES E CEGOS OS ALIMENTOS TRANSGENICOS SAO BEM BONS , POIS ESTAO-SE NAS TINTAS PARA O SABOR , VARIADADE E CONSEQUENCIAS DA PERDA DE MILHARES DE ESPECIES HOTICOLAS E ANIMAIS QUE FORAO SELECIONADAS E GUARDADAS PELOS NOSSOS ANTEPASSADOS PARA NOS OSOFRUIRMOS DE SABORES E VARIADADES DE ALIMENTOS . SE AS SEMENTES TRADICIONAIS VIEREM A DESAPARECER IREMOS SER PEDINTES DAS GRANDES MULTINACIONAIS QUE IRAO CONTROLAR O MERCADO DAS SEMENTES COM CONSEQUENCIAS NEFASTAS … NAO AOS TRASGENICOS E AO CONTROLO DOS ALIMENTOS DAS MULTINACIONAIS , AS SEMENTES TRADICIONAIS E A BIODIVERCIDADE PERTENCEM A HUMANIDADE E NAO A MEIA DUZIA DE ESPERTALHOES MANIPULADORES DE EGNORANTES GLOTOES .

  6. marco procopio

    nao aos trangenicos! ha aqui pessoas q nao sabem o que dizem. tudo o q é artificial e nasce num laboratorio nao é bom. nao tem qualidade. e quem os produz da a desculpa que é pra matar a fome do mundo mas é so pra matar a fome dessas grandes multinacionais. nao aos trangenicos!

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