A escola de Vila de Muros encerrou, mas não morreu
Aos vinte e três dias do mês de Junho do corrente ano de 2006 encerrou a escola primária “Andrade“, de Vila de Muros.
Ao tempo, tinha quatro alunos (André Vieira, 4º. Ano; Rafael Pinto, 3º. Ano; Anabela Silva, 2º. Ano; Sara Vieira, 1º. Ano – 2005/2006) que recebiam instrução da Professora Sandra Raposo.
O edifício, construído em 1910, sob projecto de Adães Bermudez, no auge do período republicano, a expensas do benemérito António Gonçalves Pereira de Andrade, chegou a ser frequentado por 60 alunos num só ano lectivo, na década de cinquenta do século passado. Recebia crianças de Marcelim, Portela da Mó, Enxidrô, Vila de Muros, Aguilhão e Valverde.
Encerra por insuficiência de alunos e em nome de processos de socialização e outros números.
A aldeia da Portela da Mó está abandonada e envolta em silvedo; em Valverde, e no seu aro, vivem oito famílias; em Enxidrô habitam três agregados familiares e em Vila de Muros nove. Quer dizer: na Ribeira de Tendais não encontraremos mais que meia centena de habitantes e em faixa etária elevada.
E agora que a escola encerrou faleceu a última razão para a fixação de famílias jovens. Vindouros serão escassos.
É já com tristeza que olhamos as paredes minguadas de cal da escola, as telhas deslocadas, os vidros partidos e lá dentro as memórias de muitas gerações: o óleo de fígado de bacalhau, as mesas com tinteiro, os mapas com divisão provincial, as figuras geométricas de madeira, um quadro a óleo do fundador, a fotografia com traça do mentor do Estado Novo e o velho relógio parado que marcou o tempo de tanta criança. Tudo memórias, tudo património a preservar.
A Associação para a Defesa do Vale do Bestança tem um projecto para a vitalização da escola que passará a médio prazo pela criação de um Museu Etnográfico do Vale do Bestança, e a curto prazo pela instalação de uma mostra permanente de fotografia e textos explicativos do Vale com passagem de diaporamas de forma a que os visitantes (e foram já 800 este ano) que fazem o percurso pedestre que delineámos aí possam ab initio melhor conhecer esta região e adquirir algumas publicações do concelho. Um espaço destinado a tertúlias culturais onde se reservará um recanto para que possa ser reconstituída a sala de aula e expostos os objectos usados ao longo de tanto tempo na aprendizagem.
A limpeza e amanho do quintal e melhor aproveitamento das águas são outros dos objectivos da ADVB que passam também pelo restauro imediato de partes da escola a dele carecerem.
Para isso importa que a Câmara Municipal de Cinfães faça com a nossa agremiação um contrato de comodato, cientes como estamos da carga de responsabilidade futura que isso representa. Somos levados a crer que tal se concretizará até porque outras ideias não surgiram entretanto que melhor definissem o futuro próximo da escola em ordem à valorização da aldeia onde está inserida.
E se ela encerrou, não vamos permitir que sucumba aos ataques de vândalos que mal vêem património fechado logo o tomam por abandonado — veja-se o caso do património dos Caminhos de Ferro Portugueses.
Esperamos contar com o apoio de todos e que o executivo camarário reconheça a valia dos nossos argumentos e intenções.
Uma resposta para“A escola de Vila de Muros encerrou, mas não morreu”
[…] Ambiente – A escola de Vila de Muros encerrou, mas não morreu Tags […]
Força nesse projecto.
Na minha visão, demasiado romântica para os dias de hoje, em que mais importante é o deve e o haver contabilistico, uma escola devia fechar quando não houvesse inscrições.
Não se esqueçam para esse futuro espaço de tirar uma fotografia dos alunos e professora
Uma escola que foi feita pelo povo e para o povo ,é triste acabar pois só provoca a desertificação dos locais e das gentes ,Para quem conhece a area não é só uma escola mas sim património tanto de vila de muros como do próprio concelho de cinfães ,por estas medidas economicistas também um dia fecham as capelas por falta de pessoas para a sua frequentação ,é assim que o nosso património se degrada e desaparece ,e acabamos por no futuro termos um pais sem identidade cultural.
Eu tenho/tinha essa opinião e acho que até já escrevi isso por aqui, ainda a propósito da escolinha de Vila de Muros.
Entretanto, através de argumentos que não consegui contestar, acabei por concordar que pedagogicamente, também não é positivo ter apenas meia dúzia de crianças numa escola. De onde concluí que se trata agora de mais uma consequência de políticas e mentalidades que desertificaram 2/3 do país — ao contrário do que diz o Fernando –, pois desertificado já o local está.
É uma pena.
Havemos de publicar uma fotografia da última professora e dos últimos quatro alunos da Escola Andrade de Vila de Muros.
Embora esteja sem população sempre seria mais útil juntar os calhopos que existem entre avitoure e valverde mesmo que meia dúzia a estar a desloca-los para a vila não esquecer que são crianças entre os seis e os dez anos. Idade em que se vai começar a formar o caracter dos futuros cidadãos.
Gostava de agradecer os comentários ao texto/reflexão sobre o encerramento de escola de Vila de Muros.
A questão, como muitas outras questões que ultimammente vêm surgindo, é que as coisas são apresentadas pelas entidades com o fatalismo de um acto consumado e possuído de um determinismo inamovível.
No espaço de um ano fecha-se a escola porque os alunos não têm condições de aprendizagem e porque a socialização dos mesmos em escola de acolhimento melhor apetrechada é a solução.
Esquecem é que, os alunos de Vila de Muros, como muitas outras crianças deste País, desde há muitos anos que vêm sendo uma meia dúzia deles, e que no Inverno apenas dispunham de três garrafas de gás para aquecimento, o que levou a que abandonassem a sala de aula nesta época e fossem para um espaço mais pequeno, tendo-lhe sido ofeerecido pela comunidade um quadro móvel, de modo a que tivessem mais conforto.Esquecem é que o mobiliário da escola, de fórmica esventrada, estava uma lástima e que a motivação do docente não seria de facto a melhor ao longo de tantos anos.
Agora os alunos foram para uma escola de acolhimento, em Meridãos, cujas condições pouco melhor são. E se dantes havia um computador para quatro crianças, agora há um computador para doze crianças e um professor para todos os graus de ensino.
Impunha-se que as obra na escola de acolhimento fossem efectuadas a tempo e que o provisório não ganhasse foros de definitivo.
Que há mais socialização na escola parece inquestionável, mas que isso signifique melhoria do nível de aprendizagem e a criação de melhores condições de ensino é que nos parece questionável.
A verdade é que os números sempre andaram à frente do bem social. E neste âmbito isso é,infelizmente, inquestionável.
A escola de Vila de Muros é o reflexo do não querer das nossa sociedade e, mais concretamente, das nossas comunidades.
Na sociedade é transversal este acomodar-se, sem querer mais, sob as perspectivas do velho=inútil/cultura=despesa/educação=básico.
E as comunidades, como Vila de Muros, ou mesmo Tendais/Cinfães, morrem porque o alento – que devia ser exemplar e proveniente de Lisboa-, não existe!
Nem sempre o dinheiro resolve todos os problemas. Muitas vezes é preciso querer e saber o que se quer, para edificar e criar raízes, algo que a subsidio-dependência não garante.
Estou a lembrar-me de dois projectos, bem perto de Vila de Muros (em Campo Benfeito), que nasceram apenas com o arregaçar de mangas. E persistem! No seio do Montemuro!
A Associação para a Defesa do Vale do Bestança tem posto Cinfães no mapa e assumido papéis que, em certa medida, extravasam as suas funções. Mas tem-lo feito com vontade e determinação e isso é que é verdadeiramente louvável.
Tudo o resto…bem, tudo é resto, e tudo isto, é fado. Um triste e pesado fa(r)do, infelizmente.
Boa tarde. Concordo com o que diz Nuno Resende. Há falta de investimento na região e a desertificação, como forma de esquecimento e desvalorização da vida humana nestes lugares, é um pouco dramática. Se me permite, fico curiosa pela existência de dois projectos, como disse, nas proximidades de Vila de Muros.
[…] Num claro sinal de progresso, encerrou em 2006 (mas não morreu). Foi entregue para já à Associação para a Defesa do Vale do Bestança e julgo que à Associação para a Promoção da Ribeira de Tendais. Vai ser necessário brevemente dar-lhe um jeito e ajardinar o antigo recreio, tarefas para as quais serão necessários voluntários. […]
A associação do vale do bestança deveria em primeiro lugar fazer a limpeza dos caminhos para que as pessoas possam ir ver as maravilhas que existe neste rio, toda aquela vegetação a agua limpidaetc, e em seguida então ir para a frente comeste projecto, que também é de louvar
Cara Teresa Dias,
Não acredito que a sua sugestão seja séria.Não quererá com certeza que a Associação para a Defesa do Vale do Bestança se substitua às juntas de freguesia ou à Câmara.
Será correcto e louvável que inste junto dessas autarquias para que limpem os caminhos e incite os particulares a procederem à limpeza da vegetação dos socalcos que os marginam.
Com essa sua acção de sensibilização, pode ser que contribua para a manutenção de percursos limpos no Vale do Bestança.
Envie-nos cópias das suas diligências para que as possamos corroborar também. Atentamente, ADVB.
Quando uma terra pouco a pouco se vai esvaziando da sua população ,fazer um museu que tem tendência a ficar num deserto com falta de acessos , será o mesmo esquecer o futuro , era bom que antes se pensasse em promover a região para que se ficassem aqui novos habitantes mas para tal é necessário novas infraestruturas e a escola era uma delas
o tempo acaba por ser o derradeiro pêndulo da razão e mais uma vez acaba por ser uma realidade , é pena que da escola embora muito bonita por fora , quem por lá passe não possa apreciar o seu interior , e que o lugar que seria no futuro um museu com os interesses da região acabe por ser mais um local de almoçadas e jantaradas ,um lugar com historia transformado num simples lugar de comes e bebes para alguns.
Cada vez tenho menos paciência para comentários deste teor, azedos e que não acrescentam nada a coisa nenhuma… Sou um mero associado da Associação Para a Defesa do Vale do Bestança, sem qualquer tipo de procuração para a sua defesa, mas quem vem para aqui destilar “bocas”, tem necessariamente que levar a resposta.
A escola fechou por razões conhecidas e que motivaram o encerramento de centenas de outras por todo o país. Ainda a escola estava aberta e já eram realizados há muitos anos os jantares de quinta-feira, que mais que comes e bebes, são uma tertúlia em que as pessoas convivem e falam. Em vez de estarem em casa a ficarem estúpidas em frente da televisão. Portanto, o “lugar” não foi transformado em nada.
Existiram umas obras recentemente, que sem dúvida podem ser discutidas, mas que eu saiba não oneraram em nada o erário público.
Quanto a quem lá passa, se não fosse a associação não passava lá ninguém como deve saber ou imagina. Mas o senhor “Silva Pereira” deve ter alguma sugestão para aquelas portas estarem sempre abertas. E para isso deve ter a respectiva solução financeira também. Porque estando lá alguém da associação, alguma vez lhe foi vedada a entrada? Alguma vez lhe foi vedada a entrada a um jantar de Quinta-feira? Apareça. Exprima as suas preocupações. Tenho a certeza que será bem recebido. Não se limite a mandar umas “bocas”.
Caro Sr. Silva Pereira,
Por dever de ofício e em defesa da Associação para a Defesa do Vale do Bestança e dos seus associados devo comentar o seu texto. Mas como o mesmo encerra comentários injustos, incorrectos e refugiados num anonimato censurável, fá-lo-ei se tiver a amabilidade de se identificar e indicar a sua morada. Ficaremos à espera, Jorge Ventura