Negócios e conservação da natureza (2)
É interessante verificar que, ultimamente, todos os empreendimentos de grande envergadura e lesivos para o ambiente têm a assinatura do grupo BES.
Esta é uma frase bastante elucidativa que encontrei no blogue da Associação Campo Aberto.
Continua a conversa no Ambio. Ninguém falou em “pureza ambiental”. Mas o BES tem uma imagem, se calhar extremamente injusta, de grande calaceiro ambiental (entre outras coisas). No contexto em que vivemos, não acha natural que pessoas com algum gosto pelo ambiente, manifestem algumas reservas quanto às intenções do banco com esta história da biodiversidade. Por mim, não acho natural é a sua naturalidade caro Miguel B. Araújo (e a do Henrique Pereira dos Santos).
A sua comparação, mais uma vez totalmente ao lado. Se um ignorante quiser ser mecenas cultural, óptimo — até há um caso muito conhecido, que até gosta de futebol, embora de mecenas parece que tem pouco. O que eu falo é de um ignorante cujas acções prejudicaram a cultura reiteradamente. É bastante diferente. Nesse caso, aceito uma mudança de atitude, de política, de missão. Vamos lá ver isso primeiro. As auditorias ambientais aos financiamentos do banco por exemplo. Depois aceitarei algum “spin” e todo o marketing. Nesta fase parece-me uma obscenidade como outra qualquer e como diz um dos comentadores, o jogo já vai com três secos a favor do BES. Está curto para a biodiversidade, ou treinou mal, ou o objectivo é não perder por muitos e até isso se apresenta difícil.
O que vemos é aparentemente algo de novo em que, por coincidência, o primeiro parceiro a aparecer é o mais improvável de todos, o BES. Que eu saiba, 2007 não foi anunciado por ninguém e muito menos pelo BES como o ano zero ambiental. Portanto, reservo-me o direito de desconfiar das piedosas intenções do banco. Riscos de “greenwashing“? Pode ter a certeza absoluta disso.
Falar do Estado como contra-argumento, também não acho bem. Eu ao ministério do ambiente, chamo ministério invisível e já não é de hoje. Que quer que eu diga? Acho um argumento fácil e absolutamente reversível — já que o Estado é assim e de facto em Portugal deixou de ser pessoa de bem há algumas décadas, o céu é o limite. A atitude e percurso do BES são até bastante louváveis. É o relativismo radical.
Também não podemos cair em fundamentalismos ambientais que impeçam um desenvolvimento adequado.
Descobri esta pérola do autarca de Lagos numa notícia do DN de 2005, exactamente hoje, o dia em que ouvi falar de um empreendimento de 200 hectares para a Meia Praia, em Lagos — incluindo mais um campo de golfe, que como sabe é ambientalmente verde e pode-se sempre pedir à população para poupar água posteriormente. Quando estes senhores falam em fundamentalismo, sabem ao que se referem. Depois do 11 de Setembro não há duas conotações para os “fundamentalismos” e escusa de vir com o dicionário da academia das ciências, caro Miguel B. Araújo. É nesta fase que se nota o rasteiro que o ambiente é e a consideração que merece por parte destes batateiros que nos governam — as palavras são para se usar, mas vindo de si, pela actividade que exerce, cai muito mal. O “desenvolvimento adequado”, acho excelente. Para a frente é que é o caminho e o Algarve é um verdadeiro exemplo de não-fundamentalismo ambiental e de muitos outros não-radicalismos, incluindo ser radicalmente inteligente ou radicalmente sensato.
O outro termo que lhe proponho, é “ética mínima”. Uma linha na areia, pequena, mas que ainda se veja alguma coisa.
Isto para mim, vai acabar como a conversa das eólicas. O ambiente foi conduzido (ou admitamos que se conduziu) para um canto e muitos ambientalistas há muito que o sabem e viraram-se para o pragmatismo. O poder é nulo, mas entre salvar pouco a troco de muito ou não salvar nada, preferem a primeira opção. Discordo de tudo, acho que não têm argumentos, mas dizer que tenho alternativas ou soluções, não digo — porque não tenho.
Tenho certezas e já vi o futuro: Atribua-se valor de mercado ao que tem valor incalculável, entregue-se a gestão desses valores ao BES e a outros como eles e restantes tecnocratas. É bem capaz de ser o caminho mais curto para o “desenvolvimento adequado”, como diria esse grande visionário de Lagos.
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