Cheney e a corrupção da ciência +

Uma resposta para“Cheney e a corrupção da ciência +”

1. Cristina 7 de Julho de 2007

   Aqui na minha cidade Dourados-MS-Brasil existe uma movimentação muito grande por causa das usinas de cana que estão sendo implantadas, se não me engano aqui são 14, numa cidade perto daqui Três Lagoas umas vinte e poucas, em São Paulo trinta e tantas, no Paraná outras vinte e tantas, e umas duas ou uma – não tenho certeza -, em Pernambuco. É usina pra todo lado, por causa do aquecimento global, o aumento do interesse pelo etanol, que pelo que sabemos no resto do mundo conhecem pouco. Bem… o carro aqui de casa é a álcool desde 1990, funciona muito bem, e aqui em Dourados 70% da população tem um carro flex, usa gasolina ou álcool – depende do preço. Isso vai ser bom para o mundo, para o Brasil? Eu francamente não sei, e na boca pequena pelas ruas o que se vê é muita certeza ou muita dúvida – como eu -, mas nenhum esclarecimento real, acho que ninguém sabe o que vai acontecer com essa movimentação toda. E tudo vai acontecendo, as coisas andam… acadêmicos com movimentos contra queimadas de cana, andam pela praça aqui recolhendo assinaturas e esclarecendo os prejuízos à saúde decorrente dessa pratica. Nos canaviais trabalhadores morrem por esforço físico demasiado, na competição com as máquinas que tomam cada vez mais o lugar deles nos canaviais, porque são econômicas, substituem uma quantidade enorme de trabalhadores e já avisaram que a mão de obra humana vai ficar apenas para terrenos acidentados, é só uma questão de tempo, e do jeito que tudo vai rápido, pouco tempo. Porque a máquina colhe a cana sem queimada, retira a cana, limpa e pica, e deixa a cama verde de folhas no chão, o que economiza em correção de solo, adubo etc. Essa massa incorporada ao solo não desgasta tanto como a antiga pratica de queima e corte. Não acho que pode ser uma desgraça José, porque precisamos do desenvolvimento que virá com toda essa movimentação, nossa cidade está numa crise econômica terrível – quase 5 anos, tem muita gente respirando aliviada, esse lugar aqui sobrevive da agricultura, e boa parte do Brasil também. A coisa está sendo meio imposta, e como estamos engatinhando nesse negócio estranho chamado democracia acho que vai ser um bom exercício para todos nós. Quanto ao nosso verde, nossas matas, tem muita usina interessada em poupar carbono, visando lucro é claro, ninguém ali é bonzinho, e ninguém aqui é ingênuo. já tem usineiro tomando cuidados como consertar matas siliares degradadas, aumentando áreas de preservação ambiental, tem uma usina – vi na TV – que está convertendo o calor do processo de queima do bagaço em energia usada dentro da própria usina, então por tudo isso… tem muito vilão, mas tem gente querendo acertar… lucrar com o protocolo de Kyoto… acho isso positivo, eu aqui de casa, rezo que estejamos em bom caminho.

2. José Rui Fernandes 7 de Julho de 2007

   Cara Cristina, obrigado por este esclarecimento de quem “está perto” das coisas.

   Eu não me acredito nas soluções económicas baseadas na destruição ambiental. Isso trás sempre muito lucro para alguns e muito prejuízo para todos — mais cedo ou mais tarde. Não preciso de defender esta posição, a história defende-a sozinha.

   É calamitoso o que está a passar na Amazónia e nas florestas tropicais em geral. Substituir árvores que são armazéns de CO2, por plantações para produzir bio-combustíveis é das ideias piores que tenho visto desde sempre. Apresentar isso como solução para o planeta, só pode caber na cabeça de Lula da Silva, George W. Bush, dos seus amigos e de outros como eles.

   É completamente diferente dos bio-combustíveis baseados em sub-produtos ou reciclagem. Mas querem fazer crer que é tudo a mesma coisa.

3. Cristina 8 de Julho de 2007

   José estou no centro-oeste, mas sei de quem já esteve por lá no norte do Brasil onde fica a Amazônia.
   Ela não está sendo destruída por quem tem intenção de plantar para fazer biocombustível, ela está sendo destruída para usarem suas madeiras, em troca de lucro fácil, e sem nenhum cuidado com reflorestamento, isso é amplamente divulgado e bem pouco é feito, é antigo isso, e continua, inclusive em reservas indígenas onde a lei não entra, justamente por ser terra indígena – vontade política não existe nesse sentido – concordo com sua opinião sobre Lula, Bush e cia. O que está matando a Amazônia é a pecuária, depois que viram que o chão por lá é ralo, e plantar soja não rende muito. O pasto também não dura muito tempo, e assim vão adentrando mais, e mais, descascando o que não tem valor para eles. O lugar fica suscetível à queimadas, e o resultado vai sendo mostrado mas muito pouco sendo feito. Tem também outros fatores como exploração de pedras preciosas, que falam pouco mas acontece muito por aquelas bandas, em terra com esse tipo de “problema” nem a imprensa entra. E a degradação não fica só na mata, invade rios e afluentes.
   Eu espero que o biocombustível – o etanol a partir de cana de açúcar, e outros de espécies oleaginosas que estão sendo pesquisados – mantenha por aqui, nas terras já devastadas do centro-oeste brasileiro um bioma único de cerrado, com espécies ainda a serem descobertas, porque assim ficam mais perto da mídia, mais perto de olhos informais como nós, que podem medir, podem alertar. Fazemos pouco mas fazemos, acredite, tem muita coisa acontecendo e ninguém vê e muito gente vai sentir muito em breve.
   A Amazônia causa comoção, porque é grande, porque é realmente única. Mas tudo é um conjunto, um grande conjunto. O Brasil inteiro precisa de cuidados, e preservação, e não adianta apenas ficar na boa vontade, esquecer que pessoas precisam trabalhar. Os grandes poluidores do mundo como os EUA enriqueceram e desenvolveram graças a devastação de seus territórios. Nós não queremos ter a mesma postura, orientar no sentido de um desenvolvimento sustentável, é uma necessidade urgennnnte. Não é fácil.
   O que a história vai mostrar é que as pessoas adoram plantas, pássaros, que calor é bom mas 45ºC na sombra é demais, que chuva é bom mas invadindo casa é demais, que praia é bom, mas o mar subindo é ruim. A temperatura aqui (Dourados-MS) está 5ºC acima da média histórica para esse período do ano, e a umidade do ar está levando as pessoas para o hospital de tão baixa. Mas vai falar isso pra o povo daqui por exemplo, o pessoal bem que tentou lá na praça conseguir as assinaturas, para evitar queimadas de cana. O povão, o povo pobre e sem estudo que elegeu o Lula, enxerga em tudo isso oportunidade de trabalho, desenvolvimento para eles significa dinheiro, comida na mesa, eles não entendem palavras difíceis, o português errado do Lula é legal para eles, resultado prático e rápido é o que eles querem, e tenho que admitir que muito candidato em quem eu confiei o meu cívico e estudado voto não fez muitas coisas que esse homem sem estudo fez, e poderiam ter feito. Não adianta agora querer convencer que ele é ruim, ele pode estar dando muitos passos errados mas que ele olhou para direções nunca antes sequer consideradas pelos outros estudados mandatários do país, há isso ele olhou. Vai ser preciso mais que boas intenções para preservar o planeta.

   José, desculpe o desabafo, não é nem o local, nem é pessoal, o ensejo foi demais para mim, eu preciso aprender a ser mais contida. Eu chego lá, espero seu perdão. E que tudo que escrevi do alto de minha ignorância doméstica, sirva para esclarecer pelo menos um pouco mais do que não aparece sobre o Brasil na mídia mundial.

4. José Rui Fernandes 8 de Julho de 2007

   Cara Cristina, não tem que pedir desculpa, acho os seus comentários bastante importantes.
   Eu já li notícias onde a ideia de destruir floresta para os bio-combustíveis foi ventilada — ou como estando já em prática, ou a colocar em prática. Não só no Brasil.

   De uma forma ou de outra, o que acontece na Amazónia é calamitoso. A questão dos povos nativos, a destruição e tudo o mais… Olhe, a certa altura da minha vida, julguei que o Homem já tinha aprendido alguma coisa com os erros do passado — que não foi assim há tanto tempo.

   Se as pessoas têm instrução ou não, não sei. O que sei é que no século XXI o que mudou realmente foi a qualidade das armas e das máquinas. O resto, vai tudo à frente!