Crónica do tempo perdido (2)
O ano passado, os citrinos estavam num estado lastimoso. Além disso, as ameixoeiras com um ataque de um bicho totalmente repugnante que cobria os ramos de tal forma que só de muito perto se notava que lá estavam. Essa mesma bicharada apareceu em quantidade a rondar o inacreditável nos dois anos anteriores, no pessegueiro que acabei por remover. Sem soluções acabei por contactar a Garden Organic (HDRA), organização da qual sou membro.
Primeiro responderam para me informar que teria de preencher um formulário com uma série de informações que eles necessitavam (desde hábitos de rega a tipo de solo, passando por poda e insecticidas utilizados). Junto também enviei fotografias dos problemas.
Responderam a pedir fotografias melhores. Enviei fotografias melhores, mas nada geniais. Debaixo dos bichos das ameixoeiras estavam sempre a cair gotículas (de seiva suponho). Quis demorar o mínimo possível com a máquina debaixo dessa fina chuva peganhenta. De qualquer modo, achei que as imagens permitiam identificar os problemas perfeitamente.
Finalmente responderam de uma forma que eu, notório ignorante, poderia responder aqui no blogue (embora habitualmente prefira informar os estimados leitores das minhas limitações). Falaram em cancro bactereológico, não identificaram os insectos que obviamente nunca tinham visto e muito menos apresentaram soluções. Enfim, escusado será dizer que foi uma profunda desilusão e perda de tempo.
Uma resposta para“Crónica do tempo perdido (2)”
[…] Como disse, depois de contactar a Garden Organic (HDRA) fiquei bastante desiludido. Apesar de prestáveis (também faz parte dos direitos dos associados, obter resposta a estas questões), esperava outra capacidade técnica, mesmo tratando-se de pragas que não farão grandes aparições no Reino Unido. Acontece que também sou membro da Royal Horticulture Society (RHS) e perante a incapacidade da Garden Organic, contactei-os com as mesmas questões. A resposta chegou no dia seguinte através do senhor Andrew Halstead, entomologista principal da RHS. Os citrinos estão atacados por vários tipos de pestes. As folhas com uma espécie de algodão branco e um líquido que parece cera, estão provavelmente infestadas pela Mosca-branca lanígera dos citrinos1. Os adultos são pequenos insectos de asas brancas que se enconteam habitualmente debaixo das folhas mais novas. As ninfas imaturas parecem cochonilhas, mas estão cobertas por uma espécie de algodão branco, fazendo com que as folhas infectadas pareçam infectadas por um fungo. Os glóbulos peganhentos são excrementos açucarados produzidos pela mosca-branca e outros tipos de insectos sugadores de seiva. Uma outra peste presente são cochonilhas (Planococcus citri). Pequenos insectos cinzento claro que infestam habitualmente as partes relativamente mais inacessíveis da planta, como as axilas das folhas (na primeira fotografia podem ser observados nas próprias laranjas). As cochonilhas também segregam uma substância branca em volta do corpo e podem produzir também os excrementos adocicados. O pequeno insecto preto que se vê na fotografia é provavelmente uma espécie de joaninha, predador tanto das cochonilhas, como da mosca-branca. Uma terceira praga presente são as lagartas mineiras de uma traça específica dos citrinos e que se estabeleceu na Europa há cerca de 15 anos apenas. As diminutas traças adultas depositam os ovos na folhagem e depois de eclodirem, as lagartas penetram nas folhas, produzindo túneis sinuosos enquanto se alimentam. Isto causa uma descoloração prateada na parte superior das folhas afectadas, nos locais onde os tecidos internos foram comidos. A solução biológica pode ser a que tenho usado que é Savona (óleo e sabão, mas numa solução pré-preparada). De qualquer modo o senhor Halstead confirma algo que descobri entretanto: Os óleos hortícolas têm muito pouca permanência e sendo insecticidas de contacto têm de ser utilizados de forma abundante e frequente. As larvas mineiras são muito mais difíceis de controlar porque não só produzem várias gerações durante o Verão, como as lagartas estão escondidas de um insecticida de contacto, como o Savona. A minha sugestão é arrancar as folhas mal o problema seja detectado e queimá-las. Muito interessante a informação que no Reino Unido os únicos insecticidas autorizados para os citrinos são os biológicos como o Savona. […]