Persepolis

PersépolisA Marjane Satrapi esteve no Porto em 2001 no Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto, do qual eu já não fazia parte da organização. Muito antes da fama que culminou na nomeação para um Óscar, exactamente por este extraordinário filme — foi uma imagem de marca do Salão, o “olho” que tinha para autores que estariam em destaque no futuro da banda desenhada.
Foi o ano do Porto 2001, Capital Europeia da Cultura. Nunca o Salão teve tão poucos visitantes no Mercado Ferreira Borges. Claro que se apressaram piedosamente a justificar o fiasco com o “excesso de oferta” na cidade. Tretas. Excesso de buracos, isso sim, incluindo uma cratera descomunal em frente do Mercado Ferreira Borges. Já na altura, toda a gente sabia que a forma correcta de retirar os carros do centro das cidades, passa por destruir jardins e construir parques de estacionamento subterrâneos.
Isto tudo a propósito do filme que vi recentemente e só pode ser altamente recomendado. É baseado no livro homónimo Persepolis, que também gostei muito (tal como Embroderies). As mulheres que os lerem vão adorar. A Marjane é uma iraniana, as suas obras são autobiográficas e apanham todas as convulsões que levaram à revolução islâmica, a guerra Irão-Iraque e inevitavelmente a sua saída do país, a primeira vez para a Austria e a segunda em definitivo, para França. Tudo é interessante. Como o nosso desconhecimento é total, é uma descoberta e uma revelação. Ficar a saber o que aquelas mulheres de rostos cobertos fazem quando chegam a casa. E como vivem as famílias. Uma surpresa. Insisto: Altamente recomendado.

Uma resposta para“Persepolis”

  1. cerveira pinto

    Olá Rui
    Pois é, o nosso desconhecimento sobre o Oriente e sobretudo sobre a cultura dos países islâmicos é gritante. A “publicidade” apenas salienta os aspectos negativos e habituamo-nos a olhar de soslaio para tudo o que não seja “ocidental”… Por exemplo, um dos melhores e mais importantes realizadores de cinema da actualidade é iraniano e chama-se Abbas Kiarostami. Retrata a vida cultural do seu país nos belíssimos filmes que realiza, muitos dos quais polémicos na sua própria terra, como por exemplo o “10” – protagonizado por uma mulher que conduz um táxi pelas ruas de Teerão… Mas obras-primas como “O vento levar-nos-à”; “O sabor da cereja” ou “Através das Oliveiras” são pura e simplesmente arredados da nossa TV, que passa sempre a mesma espécie de subprodutos. Claro que podia falar de outros realizadores completamente desconhecidos entre nós (ou até realizadoras, como Samira Makmalbaff) mas dificilmente se consegue mudar o que quer que seja quando o défice cultural é gritante. E depois dizem que é serviço público…

  2. José Rui Fernandes

    Olá Manuel :) . Nota que a Marjane é muito crítica da sociedade que acabou por se estabelecer no Irão (ou seja fundamentalisto islâmico) e por isso saiu do seu país.
    Mas não querendo estragar o filme a quem ainda não viu, o que me admirou foi a “normalidade” das famílias, cultura… O dia a dia, não tão diferente como se possa julgar.

  3. cerveira pinto

    Olá Rui
    O ser ou não crítico relativamente à sociedade iraniana em nada altera aquilo que mencionei. (Provavelmente a Marjane continua a ser muçulmana). Gosto muito do escritor libano/francês Amin Malouf, por exemplo, que é muito crítico relativamente ao fundamentalismo e à maior parte dos regimes pró-ditatoriais dos países islâmicos, mas que nunca deixa de afirmar a importância da sua identidade cultural. (Os telejornais transmitem diariamente ideias completamente erradas sobre estas culturas. Falam de árabes, como se fossem todos muçulmanos, ou de israelitas como se fosssem todos judeus. Até já ouvi mencionar a “etnia muçulmana”…Enfim). O que afirmo é que o desconhecimento da cultura árabe/islâmica é gritante no ocidente e é geradora de muitos equívocos e incompreensões. Há israelitas que deixaram Israel por não concordar com o regime, assim como há muitos cubanos que abandonaram Cuba… Não estou a defender nenhum regime político ou religião. Apenas penso que é bom que se divulgue a cultura dos outros, de uma maneira geral. A diversidade é sinónimo de conhecimento. As grandes civilizações sempre se fizeram pela influência das outras culturas e não o contrário…
    Um abraço e até breve

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