Impessoalidade ilimitada e “bad vibes”
A semana começou com um acidente rodoviário da Susana, logo de manhã ao ir levar as crianças à escola. Quando ao entrar na autoestrada as consequências de um TIR chocar contra o automóvel se resumem a um parachoques novo e uns estragos na pintura, tem de se ficar satisfeito.
Depois, o condutor do pesado, no tempo de preencher a declaração amigável acha que afinal não foi bem assim. Tem de se mudar a versão, muda e não muda, tem de se chamar a polícia.
Por essa altura, descobre-se então que não temos seguro há um mês e meio. A polícia já não devolve os documentos. Mas a Susana ainda não sabe que não temos seguro, apenas julga que não estava no carro e que pagando 30,00€, levantaria os documentos. Mas, eu não me lembrava de ter recebido nada da seguradora. Depois de alguma pesquisa, lá encontrei o recibo… por pagar. Era até ao fim de Setembro e já estava a ver o quadro. Com a pouca vergonha que foi a abertura da livraria (prevista para Junho, aberta em Setembro), o assunto passou-me completamente.
Felizmente, temos uma dezena de seguros numa correctora, tratados através de um grande amigo nosso, entretanto reformado, mas que continua a dar uma ajuda quando a coisa se complica, certamente que a correctora iria resolver o problema. Nada passou por ele, ficou tão admirado como eu. Nem recebemos um segundo aviso, nem um telefonema por parte da correctora, nem uma mera “carta tipo” da companhia, uma tal de Lusitania, a informar que como notórios caloteiros, estavamos sem seguro a partir do dia 1 de Outubro. Nada.
Eu até compreendia isto numa mercearia onde fosse cliente há uns quatorze anos e por qualquer motivo não tivesse pago o sinal para a encomenda do bacalhau do Natal. O merceeiro esquecia-se de mim, não me guardava o bacalhau, eu comia uma sopa de lentilhas e se por azar fosse o último merceeiro à face da Terra, acabava com uma tradição num instante. Num seguro automóvel, não compreendo que se envie uma mera carta simples com o recibo e no caso de uma falta de pagamento, desatar a anular o seguro sem dar conhecimento ao cliente. Isto é tão impessoal que nem sei se chega a ser uma relação entre seguradora, correctora e segurado. Aliás, tirando o dinheiro que lhes envio mensalmente, estou com fortes suspeitas que não existe relação rigorosamente nenhuma.
Entretanto, novo seguro, do qual se levou comprovativo à polícia, à esquadra da Batalha no Porto. Mas, o agente achou que se estava ali a processar um qualquer esquemático, pois o seguro novo tinha data do dia anterior ao acidente. Não dava para entender, porque o nosso amigo depois de reunião com um responsável de uma tal de Lusitania, disse que não tínhamos safa e que à data do acidente não possuíamos efectivamente seguro. O agente disse que a situação teria de ser investigada, devolveu os documentos e já não se pagou 30,00€.
Investigando da nossa parte, concluímos que a funcionária que emitiu a guia na correctora, em vez de 17h00 escreveu dia 17, quando deveria ser dia 18. Volta-se à esquadra da Batalha, ficam novamente apreendidos os documentos. Desta vez pior ainda. Multa de 500,00€, documentos vão para a Direcção Geral de Viação e só de lá saem quando apresentarmos comprovativo que chegamos a acordo com o condutor do pesado.
Com o carro inoperante por falta de documentos, tínhamos que sair e como a Susana foi buscar as cadeiras das crianças para colocar no jipe, aproveitei o facto para meter o inútil veículo dentro da garagem. Mas é uma manobra com uma nuance. A garagem é na casa pegada e para não ir dar uma enorme volta, resolvi andar dez metros na rua dos meus pais, em sentido proibido.
Lá fui, encostei o carro à direita e enquanto o portão abria deixei passar um velho destroço de veículo que vinha em sentido contrário. Mas, o condutor não quis passar, preferiu parar ao meu lado, gesticulando furiosamente. Lá pedi desculpa e apontei para o portão já completamente aberto. Mas o homem não me largava e percebia que me queria dizer que devia ir dar a volta. Voltei a pedir desculpa já meio moído e apontei novamente para o portão. Quando voltei a olhar para ele, exibia um crachá da PSP colado ao vidro. Exactamente o que eu precisava naquele momento era de um agente à paisana, que a julgar pelo destroço que conduzia, andava infiltrado em qualquer coisa péssima do submundo e o dia estava-lhe a correr pior que o meu. O homem junto com o crachá, exibiu umas trombas capazes de me partir o retrovisor e pensei que ia preso imediatamente. A minha manobra deixou-o totalmente furioso. Depois de muitas explicações e de lhe assegurar que aquilo foi uma vez na vida, lá me largou.
Depois, já no jipe, cruzei-me com o acima mencionado agente infiltrado que aparentemente tinha ido buscar uma filha pequena à nossa rua. Acenei simpático e agradecido. De volta recebi mais uma rosnadela inacreditável. Não fosse eventualmente a pressa de ir buscar a miúda, estou convencido que a coisa tinha mesmo azedado, porque nitidamente o homem considerava que estava a deixar escapar o maior meliante de Senhora da Hora City, Guifões, Custóias e arredores. Que cena escabrosa.
Escusado será dizer que já na Rotunda da Boavista, olhava repetidamente para os edifícios ao meu redor. Atento ao piano de cauda que estaria algures pendurado. À espera de me cair em cima.
E para terminar a estranha semana de forma estranha, vi na livraria uma “blogger” que que era muito querida desta “comunidade” de blogues com mãos verdes. A Jardineira, desaparecida do mapa há vários anos e das poucas pessoas desta coisa que conheci pessoalmente.
Há dias, semanas, que não devia sair da cama. Não sou minimamente supersticioso, mas os raios cósmicos ou lá que é, esta semana caíram todos em cima de mim.
Actualização, 16h00: Afinal não tinha acabado. Acabaram de atropelar a gata Pintas. Morreu instantaneamente.
Uma resposta para“Impessoalidade ilimitada e “bad vibes””
Porra!!!
(não me ocorre mais nada…)
Rui,
Também tenho uma cena surreal com uma companhia de seguros portuguesa. Mudei para uma alemã…
Apesar de tudo, importa sobretudo que do acidente nada resultou em termos pessoais.
Um abraço.
Há alturas em que parece que soltam o Murphy… Se pode correr mal, corre mal!
Abraço!
Realmente há dias maus! Os meus sentimentos pela gata…
Melhores dias virão!
De facto má semana. Esta está a correr bem decente. Tudo menos a história do acidente. Desconfio que vamos ter o carro parado meses, com os documentos apreendidos. Neste país de mangas de alpaca, não deve ser difícil.
Quanto à gata pintas, custou-me um bocado. Tinha estado com ela ao colo minutos antes. Ainda bem que estava sozinho em casa. Costumamos ter sempre seis gatos e ainda nenhum morreu de velho. Dá que pensar, numa rua que não tem saída e onde a velocidade devia ser diminuta.
Obrigado pelo comentários.